
UM LÍDER ESPIRITUAL SEM BOAS RECOMENDAÇÕES SE COMUNICA COM V
----- Original Message -----
From: UM LÍDER ESPIRITUAL SEM BOAS RECOMENDAÇÕES SE COMUNICA COM VOCÊ
To: cafecomgraca@caiofabio.com
Sent: Monday, May 10, 2004 4:45 PM
Subject: SEM FOFOCA, MAS NÃO POSSO TER COMUNHÃO COM ELE
Mensagem:
Caro Caio,
Sou eu novamente. Mas hoje o assunto é outro. Continuo acessando teu site regularmente e me inspirando bastante. Ocorre, porém, que li a carta enviada por uma pessoa que conheço. Achei que deveria compartilhar contigo algumas informações a respeito dele, que talvez não sejam de seu conhecimento.
Conheci pessoalmente a este senhor, pois o mesmo foi postulante ao ministério na minha denominação.
Trata-se de pessoa extremamente inteligente e bem formada teologicamente. Na época, eu era membro da comissão que examinava os candidatos ao ministério da denominação.
Na ocasião esse senhor envolveu-se num caso de polícia. Tratava-se de um atentado a bomba a bancas de jornais ou coisas semelhantes. Também esteve envolvido com rolos de política, inclusive com o prefeito da cidade, e passou a ser investigado pela Polícia Federal.
Nossa denominação foi comunicada e a liderança decidiu encaminhar uma comissão à cidade para avaliar in loco as acusações.
Na época, eu não acompanhei a comissão porque estava viajando. Mas confirmou-se a participação dele nesses episódios de atentados a bomba (eram bombas caseiras, mas que causam estragos).
A PF apresentou um dossiê da Interpol ligando esse senhor a grupos estrangeiros de ultra-direita e que se vinculavam a ditaduras militares.
Comprovou-se que trabalhou como torturador nos porões de ditaduras. Sem poder contestar as provas, ele admitiu.
Posteriormente, desligou-se da nossa denominação e filiou-se a outra.
Naturalmente, eu e você confiamos na graça de Deus e acreditamos na recuperação das pessoas. Mas, sinceramente, eu teria muitas dificuldades em manter comunhão com pessoa dessa natureza.
Bem... você pode interpretar este e-mail simplesmente como "fofoca". Não estou ganhando nada com isso. Mas achei que seria bom informá-lo. Abraços,
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Resposta:
Meu amado amigo no Senhor e no Reino: Graça e Paz!
Não, meu amado, não interpretei como fofoca, mas como carinho seu por mim.
De minha parte, depois de anos em Bangu I e outras cadeias, aprendi a fazer profunda diferença entre os atos dos homens, e seu desejo de ter uma nova consciência.
Eu sou filho do perdão; e olho a todos com misericórdia e esperança; não apenas os apenados do sistema carcerário, mas inclusive os carcereiros e os policiais; e tenho misericórdia até dos torturadores, que são os mais inseguros e infelizes de todos os homens.
Todos são vítimas de si mesmos e desse mundo de perversidades.
Os erros de ontem—vide Mateus, o publicano—podem ser o adubo de maior graça depois.
Sempre fico na expectativa de que onde um dia abundou o pecado, ou a loucura, aí também super-abundem a Graça e a lucidez.
Tenho observado que em alguma ocasião na vida todo mundo surta. Todo mundo!
Os surtos variam, e nem todos significam casos de polícia, mas acontecem, mesmo quando se disfarçam do oposto; como por exemplo, o surto da justiça própria, ou o surto da auto-santificação, ou o surto da superioridade ética, ou o surto da defesa do evangelho...
E aqui falo de mim mesmo; pois olho para trás e consigo me ver surtado em alguns momentos de minha existência, mesmo quando todos celebravam as minhas obras. Hoje, muitas delas eu vejo como o resultado de pulsões, não de missões.
Também vejo todos os dias que o tempo carrega a Palavra e a faz ser ouvida no silêncio de muitas e muitas noites de culpa e insônia; também vejo que muitos transgressores de um dia, sinceramente, convertem-se à uma nova vida, até mesmo pastores, padres, bispos, e outras autoridades eclesiásticas.
Nosso problema maior não é perdoar o inimigo, mas o irmão!
O inimigo a gente perdoa dando muitas desculpas a nós mesmos—“ele era ignorante”; ou, então, simplesmente, dá-se um “graças a Deus que esse cara não me persegue mais”—; sem falar que dá status perdoar o perverso-não-irmão, especialmente se ele se rende às nossas razões.
Assim um homicida que se converta pode estar no púlpito logo depois, a fim de dar um “testemunho”; porém, um pastor que se arrepende não é tratado da mesma forma, porque é irmão, e porque se considera que ele traiu não a Deus, mas, sobretudo, a Irmandade, que vale muito mais do que Deus para nós.
Ora, se é assim, é melhor ser inimigo dos crentes—pois há perdão para tais—, que irmão dos crentes; visto que para o irmão não há mais perdão; porém, tão somente, desconfiança.
Saulos, porém, podem continuar a virar Paulos, e a gente não enxergar.
Há muitos falsos irmãos, basta ligar a televisão que se os verá. Mas se qualquer deles me escrever confessando seus pecados e aceitando o dom da Graça, não tenho mais perguntas a fazer a nenhum deles; nem ao meu mais tenaz detrator.
Você acha que se Judas tivesse se arrependido e tivesse procurado a Jesus Ele o trataria de modo diferente ao tratamento que deu a Pedro e aos demais pecadores da Terra?
Estou dizendo isto apenas para dizer que tenho comunhão com qualquer um—não importando o passado—que reconheça a Graça de Deus, e perante ela se curve.
Acabei de me lembrar do dia em que um homem que viajava comigo por Israel me procurou no quarto, depois de um culto, e me confessou que como policial já havia eliminado, em grupos de extermínio, mais de setenta vidas humanas.
Falei da Graça de Deus a ele. Era o ano de 96. Ele chorava com ranger de dentes as agonias do inferno. Depois de um tempo, e, obviamente, depois da Cruz, ele baixou a cabeça e chorou com serenidade. A viagem continuou e eu vi a mudança nos olhos dele.
Em 2001 ele me procurou para agradecer o fato de que apesar de tudo sua alma encontrara paz, e que sua existência mudara à partir daquele olhar de misericórdia. Agora é membro de uma igreja e anda com a consciência pacificada.
Todavia, eu seu é que muito mais fácil aceitar o perdão que um exterminador recebe de Deus, que o mesmo perdão que Ele dê a alguém que já falou ou fala em Seu nome.
É mais fácil perdoar o matador profissional, que perdoar Rasputin Barba Vermelha, que era sacerdote, no caso dele ter vindo a se converter publicamente, ter feito a boa confissão na Graça de Jesus.
Quanto a mim, esperarei o melhor daquele irmão, já que o que ele me propõe, com toda sinceridade, é a confissão de seu pior, o que o põe, imediatamente, aos olhos de Deus, como publicano, não como fariseu, e, portanto, como alguém que seguiu justificado para casa.
Minha proposta a você é que oremos por ele, e esperemos o melhor de Deus sobre a vida dele.
Receba todo meu carinho e gratidão; e saiba: nesse caminho que escolhi—e no qual creio—há muitos perigos na jornada, mas tenho consciência deles.
Nele, que tira o pecado do mundo,
Caio