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Cartas

TENHO UMA PEQUENA DEFICIÊNCIA FÍSICA E NÃO CONSIGO NAMORAR

TENHO UMA PEQUENA DEFICIÊNCIA FÍSICA E NÃO CONSIGO NAMORAR

Paz e graça querido Pastor, Estou super feliz de participar do site, e também por ouvi-lo pregar. Sempre li seus livros e acompanhei o Pare e Pense. Bem, não devo me prolongar porque imagino a quantidade de gente que te escreve, e sou mais uma... Sou feliz com Cristo e com a vida que Ele tem me proporcionado, mas tem algo que me perturba muitíssimo... Tenho 39 anos, sou solteira e portadora de deficiências leves, mas que geram necessidades especiais. Trabalho, viajo, faço tudo, pois minha deficiência não me impede de fazer quase nada. Ando normalmente. Sou um pouco torta. Só isso. A única coisa que ela me impede é de arrumar alguém, um namorado mais precisamente... Como tenho sonhado e esperado por esse dia..... Já me apaixonei, e amei muitas vezes; mas calada... Conseguia apenas a amizade da pessoa. Essas pessoas sentiam e sabiam que gostava delas, mas eles sempre preferiam mulheres bonitas e perfeitas, fisicamente. Tinha muito medo de dizer o que sentia, mas como essas coisas a gente não consegue esconder, eles logo sacavam e davam o fora; e sempre foi assim... Daí o meu medo crescia e minha dor também! Entrei na Igreja aos 16 anos. Nunca tive ninguém. Nem fora da Igreja. E parece que a Igreja é o pior lugar pra se encontrar alguém, pelo menos é o que percebi todos esses anos. Os homens podem escolher a vontade, pois há mais mulheres de sobra nas igrejas em geral. Imagine como é difícil para alguém como eu! Tenho colocado isso diante de Deus, e Ele sempre me consola. Só Ele sabe quantas lágrimas derramei, e como sofria quando gostava de alguém. Ele conhece a minha solidão. A última vez que me apaixonei, quando o rapaz notou que não queria apenas sua amizade, me falou de um modo grosseiro que não queria nada comigo. Certa vez um casal de pastores me ofereceu literalmente um rapaz de cadeira de rodas, queriam que eu namorasse com ele por ser ele também deficiente físico, e também porque ele não arrumava ninguém. Fiquei tão assustada que não consegui dizer quase nada. Muita gente acha que por ser deficiente eu devo namorar ou casar com alguém como eu. Isso dói porque as pessoas não conseguem ver além. Parece que todo mundo tem que formar um par perfeito. Se um é feio e outro bonito, não conseguem ver harmonia. Sempre têm que falar alguma coisa; e, como sempre, é algo exterior que conta mais. Li algumas cartas de gente que se sentia solitária por não achar alguém de dentro da igreja, e se entendi bem sua resposta a essas pessoas, você dizia que o erro era querer casar com um evangélico. Eu entendo que quando fala assim é porque nem sempre quem está na igreja é realmente de Deus, ou está em sintonia com Ele. Então a pessoas podia achar alguém fora da igreja e essa pessoa podia estar mais em sintonia com Deus do que quem estava na igreja. Bem, eu quero uma pessoa que realmente ame a Deus, tenha o mesmo entendimento sobre a salvação em Cristo, por que senão, não tem como haver sintonia entre eu e essa pessoa. Preciso de alguém com quem eu possa conversar sobre Deus e me entender com ele também nessa área. Esta me entendendo? Tenho muitos sonhos, e eles são bonitos, sinceramente... Sempre sonhei em namorar uma única pessoa e me casar com ela. Creio que isso está certo. Não consigo me ver namorando um, depois outro... ir tentando... até achar alguém. Até porque no meu caso isso é bem difícil! Ainda sonho e creio que esse dia vai chegar, mas como é difícil esperar tanto. Até minha família, quando falo em me casar e ter minha própria casa, ter filhos, (posso ter filhos sem nenhum problema, isso é outra coisa que as pessoas pensam que não é possível), me olham estranho... Percebo isso neles, ainda mais quando se tem 39 anos... Sou alguém cheia de vida, em paz com ela e com meu Deus. Viajo sempre, faço muita coisa, mas não saio muito por não ter companhia. Minhas colegas de trabalho são todas casadas e meus irmãos também; e na igreja estava mudando de uma pra outra até achar o "Caminho em Brasília". Mas sinto muito a falta de um homem para beijar, abraçar, sentir seu amor por mim, compartilhar muitas coisas do coração, ter um amor puro e sincero. Será que isso é sonhar demais? Alguém pode dizer que nos dias de hoje sim, mas se não for assim não consigo aceitar isso. Não creio que tem que ser de qualquer jeito, sem cumplicidade, sem amor... Bem, acho que já falei demais, se puder me responda. Gostaria muitíssimo de sua opinião e conselho. Um grande abraço com todo meu carinho e admiração, _____________________________________________________________________ Resposta: Minha querida irmã e companheira de caminho, A coisa anda difícil para as mulheres em geral. E a prova disso é modo tão fácil e banal como as mulheres vêm se comportando em relação aos homens e ao sexo. Ou seja: os homens andam tão idiotados e tolos, sem conteúdo e sem essência, sem percepção e sem sensibilidade, que as mulheres, em estado de desespero, estão caçando qualquer um que tenha algo pendurado entre as pernas. Sinceramente nunca vi uma geração de machos tão pouco homens quanto esta! Estamos num concurso de maromba e malhação de academia. É o “culto” ao corpo no “templo” chamado academia de ginástica, no qual, para muitos, ainda se toma sacramento, que é um alterador de consciência chamado anabolizante. Nunca a humanidade foi mais corpo e menos alma do que agora! As mulheres—e não somente os homens—preferem um gatinho idiota e marombado do que um homem lúcido e sincero. Se tiver uma barriguinha elas já estão trocando por um sem barriga e sem cérebro. Ora, se é assim com as mulheres—e aqui estou apenas generalizando—que sempre foram seres muito mais do interior e da alma, que não dizer dos homens, que sempre foram mais das exterioridades e da estética? Antes de prosseguirmos, apenas para que eu não me esqueça, quero fazer uma leve correção. Não tenho preconceito contra evangélicos-homens, mas tão somente contra “homens-evangélicos”. Por evangélico entre aspas você sabe o que quero dizer. São aqueles crentões de araque, cheios de certezas mentirosas, arrogantes e moralistas, falsos e peidosos; cheios de ventos que se fazem passar por piedade, mas que nada são além de peidade. É desses que falo. Quem ficar longe desses, terá evitado um incrédulo em sua vida. Prosseguindo: Quanto à sua situação quero dizer o seguinte: 1. É obvio que num mundo estético como o nosso a aparência virou valor absoluto, inclusive na “igreja”. No entanto, ainda há um poder maior que o da aparência, que o poder da pessoa, da personalidade, da essência real, e que só será real se não for uma “fabricação” e performance. Portanto, digo-lhe que apesar de tudo ainda creio que uma atitude simples, alegre, clara, desinibida, confiante, e em nada auto-acachapante, é a maior força que um homem ou uma mulher têm a fim de se impor no mundo das relações inter-pessoais. Assim dizendo, quero chamar a sua atenção para a sua “atitude”. Pela sua carta vi que sua atitude é complexada. E é nesse complexo que a deficiência física vira deficiência relacional. Conheço pessoas que não são apenas um pouco tortas, mas completamente encarquilhadas, e, nem por causa disso deixam de viver com normalidade também na área afetiva. Tudo está na cabeça, na atitude, e no modo como a própria pessoa se trata. Trate-se como uma deficiente, e deficiente você será. Trate-se como uma mulher, e apenas como uma mulher, e você verá como as coisas mudam. 2. Tudo o que lhe digo, digo-o baseado em fatos e observações de toda uma existência. Não sei se você sabe, mas meu pai é deficiente físico desde um ano de idade. Uma de suas pernas foi atingida por uma injeção no nervo ciático, e secou completamente. No entanto, tão linda e simples foi sempre sua atitude; e tão forte foi sua reação à deficiência; e tão normal foi sua ação na vida; e tão posto de cara na existência ele viveu; que somente aos 10 anos de idade é que vim a perceber que aquela muleta que ele carregava e carrega, não fazia parte dele; posto que aquilo nunca foi impedimento para ele fazer coisa alguma. Ele nunca passou recibo para a deficiência. E quando ainda jovem e solteiro ia passando por debaixo de uma janela cheia de belas moças debruçadas com o corpo para fora, as ouviu dizer: “Que pena, tão bonitinho, mas anda como um caranguejo”—sua resposta, olhando para cima, foi: “É! Vocês não sabem como caranguejo é gostoso!” Vi meu pai, apesar da deficiência física, ser um homem visto, olhado, admirado e até desejado por muitas mulheres que, se pudessem, o prefeririam à praticamente qualquer outro homem com as duas pernas. O segredo? Ele sempre foi grato e confiante. E nunca achou que sua beleza vinha de seu corpo, embora, fora a perna, ele fosse um homem belo e forte. 3. No “Café com Graça”, no Rio, há cerca de três anos, chegou por lá uma jovem mulher, solteira, mais ou menos de sua idade, e também com o mesmo histórico evangélico que você tem, e com todas as idiossincrasias derivadas da cultura evangélica que você também experimenta. Não namorava há mais de uma década; e se sentia muito inferiorizada. Ela me contou tudo. Eu disse a ela que ela se escondia. Que falava sem olhar nos olhos. Que entrava como quem se desculpava. Que sua atitude falava de sua deficiência. E propus um exercício a ela. Sim, ela iria chegar lá bem arrumada, cheirosa, sorridente conforme a verdade do dia, e livre para se aproximar de quem quisesse. Mas com uma condição: ela não falaria de deficiência física e nem se trataria como deficiente. E disse a ela que duvidaria se no máximo em um ano ela não começaria a ter outro tipo de problema: homens demais querendo ficar com ela. Ora, não deu outra! Hoje, três anos depois, ela anda com um sorriso de orelha a orelha, e dá testemunho de como sua mudança de atitude mudou a sua vida. Tudo está na cabeça! 4. A atitude dos dois pastores que você mencionou foi tola e infantil. No entanto, eu pergunto a você: Porventura você rejeitaria um homem por ter ele também uma deficiência física? Ora, se você rejeitaria, o que devo dizer é que você será rejeitada também, pois com o critério com o qual julgamos, por esse mesmo critério também somos julgados. 5. Seja leve, livre, alegre, espontânea, confiante, e normal para com você mesma, e, sinceramente, duvido que em pouco tempo as coisas não comecem a mudar. 6. Sobre encontrar alguém que creia como você, esse é o ideal. No entanto, antes de buscar alguém que creia como você, abra-se para o amor. Casamento e namoro são, antes de tudo, uma questão de amor. O grande dogma do namoro e do casamento é amor; e sem amor, nenhuma comunhão de fé realiza nada além de fraternidade que, com o passar do tempo, imerge a pessoa no tédio; posto que quem casa ou namora não vive num concílio, conferindo “Credos”, mas sim é um praticante do credo do amor na relação estabelecida. 7. Sobre desejar casar com o único homem com quem você vier a namorar, acho lindo, porém completamente irreal. Aliás, nem é aconselhável que essa seja a expectativa, pois que homem haverá que ao iniciar um namoro já tenha que no ato também se comprometer em casar? Eu, pessoalmente, jamais entraria nessa! 8. Não imponha condições à vida. Não temos esse poder. Pensar que se pode tratar a existência assim é puro engano; e, no futuro, gera muita amargura. O justo vive pela fé também no caminho do afeto e das descobertas afetivas. Ninguém sabe de nada. Ninguém sabe o que dará certo. Ninguém recebeu de Deus tal poder. Ninguém há que possa dar a si mesmo tais garantias. Quem assim pensa, então, que não se queixe. Se você faz disso um absoluto para a sua vida, saiba: provavelmente você fique só; e, nesse caso, não deve também jamais reclamar. 9. Abra-se. Efatá! Pense no que lhe disse e me escreva. Também me procure no “Caminho da Graça”, pois quero conhecer você. Um beijão! Nele, em Quem deficiente é apenas aquele que não ama, Caio
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