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Cartas

TENHO UM VULCÃO EM MIM...QUASE EM ERUPÇÃO

TENHO UM VULCÃO EM MIM...QUASE EM ERUPÇÃO

-----Original Message----- From: TENHO UM VULCÃO EM MIM...QUASE EM ERUPÇÃO Sent: sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004 13:27 To: contato@caiofabio.com Subject: NÃO QUERO... Mensagem: Prezado Caio, Sempre gostei de lhe ouvir. Sempre achei que Deus lhe deu o dom da Palavra. Me emocionei várias vezes com suas preleções. Também li sua auto-biografia. Fiquei bastante feliz com este site e por você. É bom vê-lo novamente. Estou escrevendo para, talvez, desabafar. Dividir com alguém, além de Deus, meus sentimentos mais internos. Também tive minha experiência com Cristo. Também senti o desejo de deixar tudo para seguí-lo. Passei por várias situações e acredito ter sido enormemente agraciado. Hoje, no entanto, embora a direção de Deus para mim é que eu me esforce e lute..."Esforça-te, tem bom ânimo e Eu te ajudarei"..., também vejo em mim um vulcão. Esse vulcão me acompanha desde pequeno. Lembro-me dele desde os 4 anos de idade. Muito novo para já se ter um vulcão, não acha? Lutei sempre contra ele. Às vezes penso que ele entrará em erupção, embora minha fé (para minha sobrevivência), diga que não. Temo que numa erupção não haja sobreviventes à minha volta, nem eu mesmo. O que mais queria era me ver livre dele. Livre de mim. Aqui dentro de mim vejo que não é um lugar muito bom. Poucos ou quase ninguém chegou aqui dentro. Aqui, sozinho dentro de mim, já não enxergo uma saída. É como se fosse uma prisão...vejo as lavas em ebulição. Gostaria de tornar esse “aqui dentro” num oásis tranqüilo...onde Jesus apenas pudesse habitar. Mas parece que cada vez que limpo minha casa, as lavas retornam-se sete vezes piores...e a ameaça de erupção se torna maior. É o “algo” que mais temo. Só queria viver em paz e não ter que lidar com a miséria de meu vulcão. Queria vê-lo extinto. Eu sou alguém de quem não gosto. Estou ficando com antipatia por mim. Desejo, todo dia, deixar de existir. Sumir. Morrer... Mas lembro-me que um dia terei que acertar as contas e serei cobrado pelos talentos recebidos. Queria muito poder ir morar no céu. Queria poder abraçar Jesus e adormecer a seus pés. Mas a cada promessa minha a Ele...de que vou conseguir...consigo na verdade, talvez, decepcioná-lo mais ainda. Em momentos de grande quebrantamento, sinto-o bem pertinho e renovo minhas promessas de que vou esforçar-me e de que vou conseguir. Mas passada a unção...parece tudo voltar a ser como antes... Tudo isso cansa. Minhas promessas cansam. Minhas atitudes cansam. Vi um ditado que dizia : "Faça as coisas como sempre fez e continuará obtendo os resultados que sempre obteve". E parece que sempre repito a receita e obtenho o mesmo bolo de decepção. Bom é isso... Deus que lhe abençoe e ilumine para que ainda mais pessoas também possam chegar-se a Jesus através de você. Um forte abraço. *************************************************** Resposta: Meu amado amigo: Paz e Bem sobre sua alma! Se o seu vulcão é igual ao que descrevi aqui no site, no texto “Viagem Insólita: a minha vida”, então sei do que você está falando. No meu caso, só vim a sentir o vulcão depois de adulto, pois, na infância, adolescência e primeira juventude...o vulcão estava livre para derramar todas as lavas que desejasse...não havia famílias e nem crianças morando ao pé do Vesúvio naquele tempo. Éramos somente eu e o vulcão...e para mim ele era normal, sempre estivera ali...fazia parte de mim...e eu nunca o achei feio. Ao contrário, eu amava ver a força de seu magma...e a maravilha de sua explosão. Vulcões existem...foram criados por Deus! O problema do vulcão são os habitantes das circunvizinhanças... Hoje eu sei que há algumas coisas a fazer quando a gente identifica o vulcão...essa pulsão de amor pelo amor, de ternura pela ternura, de afeto pelo afeto, de namoro com a própria alma...e, sobretudo, esse desejo de derramar...de aliviar a pressão do magma perene... Primeiro é preciso abraçar o vulcão com carinho e reverencia. Admiti-lo. Respeitá-lo. Chamá-lo de “meu irmão”. Tratar dele como parte constitutiva do ser. Negar o vulcão o faz crescer muito, e tornar-se mais explosivo ainda...e o associa ao pecado e ao Diabo...e é dessa culpa que o Diabo se alimenta...e os monstros do inconsciente também. Não tente se dissociar de seu vulcão...isto esquizofrenizaria a sua existência. O vulcão não é maligno...ele só não é moralmente aceito...Mas ele é tão antigo quanto a fome. Ou o que você acha que havia como pulsão em homens como Sansão, Davi, Elias e outros? Segundo, é necessário saber que essa energia toma muitas formas...e se manifesta de muitas maneiras. No meu caso, ela se associou ao amor dos amores, que me envolveu com ternura, o Evangelho, e me intensificou...gerando em mim uma paixão pela “entrega ao amor ministerial” que era mais forte do que a morte. Preguei. Preguei. Preguei...E mais: como já disse, nunca fui lascivo. Ao contrário, vivi 25 anos de ternura guardada, mas ela virou também devoção, e eu não era atormentado por nada...pra ser franco...eu nem pensava nisto. Há muitas pulsões em nós que nem identificamos...e que muitas vezes estão ligadas às pulsões essenciais do ser...daquela parte inconsciente de nós mesmos...que nós nem admitimos que esteja ali...e seja tão forte. Portanto, é essencial que você saiba quais as formas presentes desse vulcão. Ele pode não ter se manifestado do modo primitivo, nem mesmo ainda com o nome que você dá a ele...ou com a forma sexual que você acredita estar na base dele...Mas que ele está em “atividade”...não duvide nunca... pois ele está! Terceiro, identifique em você quais são essas áreas de “paixão”. No meu caso, eu era apaixonado por tudo...namorava a vida...os filhos...o ministério...o belo...o poético...e todas as almas humanas. Lindo! Mas havia uma bola de fogo animando tudo. Saber por onde as lavas já estão vazando...é fundamental. Pela sua carta deu pra ver que está vazando pra dentro...inclusive colocando você à beira da depressão...gerando desejos de morte. Quarto, se sua pulsão for definitivamente de natureza sexual...e se você não ama a sua esposa...então, meu amigo, isso tem que ser tratado com todo o cuidado...mora gente ao pé do Vesúvio. Quinto, se a pulsão é de natureza sexual—digo “se é”...pois, muitas vezes, pensar que seja, é simples...visto que trata-se da pulsão mais natural nos humanos—, ela mesma aparece como sintoma de outra coisa: você não ama a sua esposa...ou não conseguiu desenvolver com ela uma intimidade de alma pela qual os canais do ser se abram...e as lavas escorram como alegria e prazer...não como destruição. Bem, estou dizendo isto tudo de modo enigmático apenas respeitando a linguagem de sua carta. Se as coisas são assim...sugiro-lhe o seguinte: 1. Não dê energia para essa reflexão. Ela tem o poder de se transformar em algo obsessivo. 2. Me escreva sem metáforas...e chame pelo nome cada coisa...e me descreva sem escrúpulos o modo como você sente esse vulcão em você. 3. Não trate da questão como pecado...como algo moral...pois só piora as coisas e as lavas ficam em ebulição. A lei, a moral e a justiça própria são os principais alimentadores desse magma no inconsciente. 4. Você está em Cristo. Portanto, não há mais nenhuma condenação...e é apenas por isso que pode haver cura. Sem que a gente, antes de tudo, se enxergue na Graça...a gente não tem paz para olhar pra dentro do bicho...pois na lei e na moral...o próprio fato de haver algo essencial em você...e que desagrada a você...já carrega culpa...e esta sempre aumenta todas as pulsões. 5. Há um poder positivo nesta energia psíquica. Tem gente que pensa nisto apenas como algo destrutivo. Mas de fato há vida aí...e o segredo é aprender a lidar com tais energias vitais. Nem todos os seres humanos carregam esse fogo...mas quem carrega, entende. E quem já entendeu...não teme mais. 6. O fato é que nenhum vulcão tem o poder de separar você do amor de Deus. Nada tem esse poder. Você crê nisto? Por enquanto é o que eu tenho a dizer a você. Mas gostaria que você confiasse e abrisse tudo de modo bem claro. Creio que será de grande ajuda se pudermos conversar sobre o assunto. Me escreva. Nele, que usa vulcões para fazer profundas mudanças na crosta da Terra, Caio
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