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Cartas

Sou mulher de dois

Sou mulher de dois "exs": com quem fico?

-----Original Message----- From: Sou mulher de dois “exs” Sent: terça-feira, 30 de setembro de 2003 18:00 To: contato@caiofabio.com Subject: Com quem fico? Mensagem: A paz do Senhor: Pastor a minha história é muito longa, mas, tentarei sintetizar; e peço seu sábio conselho. Casei a primeira vez tinha 21 anos e tive dois filhos. Quando ainda era casada com meu marido me apaixonei por um rapaz, e me separei do meu marido. Me casei com esse rapaz e fui com ele que aceitei Jesus. Nosso, no entanto, casamento foi meu maior martírio. Ele nunca assumiu nosso casamento. Nós nos casamos, mas nunca moramos juntos, porque ele nunca quis deixar a casa dos pais. Dizia que nós não tínhamos condições financeiras. Mas não era verdade, porque nós dois trabalhávamos, e se ele quisesse, bem que daria. Nosso casamento era assim...e ele dizia que me amava muito. Mas morria de ciúmes, dizia que eu dava em cima de outros homens, tinha crises de ciúmes homéricas, até dos meus filhos ele tinha ciúme; sem falar nas agressões físicas que algumas vezes nossas brigas geraram. Nessa época de crise meu ex-marido começou a se reaproximar de mim, e eu acabei transando com meu ex-marido ainda estando casada com o segundo marido. Mas, logo após eu pedi a separação. No início ele chorava dizendo me amar, pedindo para eu ficar com ele; mas depois ele aceitou e nós nos separamos. Hoje, dois anos após estar novamente vivendo com meu ex-marido, eu sinto novamente aquela paixão que senti antes por ele (o ex-segundo) novamente. E está muito difícil vencer essa tentação, pois ele tenta me beijar, me agarrar... Nós sempre nos vimos, pois trabalhamos no mesmo local, e o meu emprego é público, e não posso pedir transferência para outro lugar. Por favor, pastor, me responda assim que puder. Em nome de Jesus, estou angustiada, me sentindo a pior das criaturas. Estou a espera da Palavra que Deus colocar em seu coração. ********************************* Minha querida irmã: Paz e Graça! Com certeza você não ama a nenhum dos dois como marido. O que você tem são duas referencias sexuais para a sua profunda carência de mulher. De fato, a história revela isto: dois “ex”. E tal é a realidade que você já nem sabe mais quem é “ex” de quem. Dizendo isto não estou fazendo nenhum “julgamento” de você. Sei como a alma é. Tenho uma. Sou alma também. O problema é que a alma tem pulsões que se confundem com amor, e que nada mais são que expressões de nossa própria insegurança. Tudo é insegurança. Gente que tem segurança mesmo quando ama não sabe nunca bem quem ou o quê realmente quer. E, quando ama, ama com medo de não dar conta, de não conseguir agradar. Mas sabe que ama. Homens são mais “dados” a tais oscilações que as mulheres. Geralmente a mulher quer amar um homem e ser feliz com ele. Ou seja: o desejo dela é para o marido—conforme Deus disse que seria. Lendo sua carta não vi você falar de amor uma única vez. Vi apenas uma “menina” de 21 anos, que se casou mal, que sofreu, que veio a se “apaixonar” por um moço que freqüenta a “igreja”, e que a tirou de um inferno sem “Deus” para outro inferno, só que supostamente “com Deus”. No mais, apenas dor e insegurança. A volta do primeiro-ex e a transada com ele revela a sua idealização de que o primeiro foi tão ruim apenas porque você, à época, não era ainda “crente”. Agora, no entanto, muito mais escolada, você cria que poderia dar conta do recado. E como ele era um sujeito provavelmente mais pacato, você uniu sua fome com a vontade de comer. Deixou o segundo para trás. Voltou com o primeiro. O problema é que sua ligação com o “segundo-ex” deve ter sido sexualmente infinitamente mais intensa do que com o “primeiro-ex”. Você não falou no assunto, mas o me “apaixonei” disse tudo duas vezes. Deve ter sido algo forte, animal, poderoso, arrebatador. Cheio de química, de pele, de prazer e de intensidade. Daí também nunca ter realizado a paz. Os ciúmes, as brigas e até os espancamentos combinam com essa marca relacional. E como o “segundo-ex” é quem tratava você assim, tudo está mais que explicado. Ele “pegou” você quando você era de outro. Por que teria agora que crer que você não faria a mesma coisa com ele? A questão é que você voltou para o “primeiro-ex” buscando segurança. Mas como você é muito carente e, provavelmente, nunca amou de fato a nenhum dos dois, você fica tentando fazer um “composer”—um pedaço de um e bocado do outro! É claro que uma mulher que foi “arrebatada” sexualmente por um homem—por pior que tenha sido a vida a dois—, nunca conseguirá resistir aos apelos do cheiro, dos desejos, das lembranças e das “saudades”. Fica impossível vê-lo e encontrá-lo. É como deixar a raposa cuidando do galinheiro. Ora, a carne já muito fraca, e, quando se a põe diante do que ela mais gosta, é ingenuidade pensar que ela não cederá. Esse cara—o “segundo-ex”—deixaria de ser uma ameaça apenas em duas circunstâncias: se você de fato amasse o “primeiro-ex”; ou se vocês—digo: você e o “segundo-ex”—nunca tivessem tido nada “especial”. O amor faz o impensável. Mas o desejo também faz. Quando as duas coisas estão presentes e são por alguma razão impossíveis de se concretizar, então, sofre-se muito. E, para tais pessoas, todo e qualquer encontro solitário pode iniciar um incêndio. Não creio que seja o seu caso. O que penso é que você não gosta do “primeiro-ex” e sente forte desejo sexual pelo “segundo-ex”. Mas não ama a nenhum dos dois. Se fosse um homem me contando a mesma história, provavelmente eu pensaria haver uma “terceira via”. Mas raramente é o caso quando se trata de uma mulher. Relacionamentos, mesmo quando fundados em amor, podem facilmente adoecer. E vínculos que começaram sob o signo da traição—por mais apaixonados e cheios de amor que sejam—dificilmente escaparão às armadilhas dos fantasmas criados nas sombras do tempo em que os “encontros” eram traição. Por isto, eu pergunto: por que você acredita que o “segundo-ex” está melhor agora? Ele deve estar “sentindo é um furação na próstata”, equivalente ao seu “furor uterino”. Mas quando você voltar para ele, então, será sete vezes pior... Casa varrida e ornamentada, porém vazia, sempre convida ocupantes piores com o passar do tempo. Certas doenças dos sentimentos só são curadas com o tempo e a distância. E não há nada na terra mais difícil de aceitar que a falência de um relacionamento que já deu muito, muito prazer mesmo. E quando há amor, a tal renuncia é um horror. Mas, às vezes, esse é o único caminho para que tais almas se preservem inteiras, mesmo que por um tempo sofram muito. O fato é que nem todo mundo que se ama consegue viver junto como marido e mulher. Nem tampouco todos os que se desejam ardentemente. Muitas vezes, a tal ardência excessiva até impede o relacionamento, pois mergulha o casal num magma de desejos que trabalham contra a razão, produzem passionalidades, e evocam desconfianças que inviabilizam o vínculo como paz no convívio. Quanto a dizer que o “lugar é público” e que você não “pode evitar” que ele a veja, sinceramente, não acredito. Justamente porque é “público” que você pode impedir que ele a “veja”. Você não pode, eventualmente, impedir que ela a “aviste”. Mas para “ver” dois tem que querer. Portanto, não ponha a culpa no “lugar”. O “lugar” perigoso é o seu coração, que está louco para ter algum álibi que justifique essa “tentação irresistível”. Mas, se você for honesta, saberá que homem nenhum “chega junto” se alguém não “der mole”. Portanto, digo o seguinte: 1. Se você quer ser feliz e ter paz, reveja tudo. Digo: tudo mesmo. 2. Eventualmente admita que você não ama o “primeiro-ex”. Mas se amá-lo, prove isto com obras. Todavia, não creio que você o ame, pois, se o amasse o “segundo-ex” não estaria gerando esse “furor” em você. 3. E creia: o “segundo-ex” pode agora ser só gostoso. Mas, lá no fundo da alma, você sabe que com ele o futuro é amargura. No entanto, não se sinta a pior das criaturas. Sentir-se a “pior das criaturas” trará de dentro de você apenas o pior de você mesma. Eventualmente o que você precisa é dar uma “parada”. Deixar os homens nos lugares que eles têm que ter. Provavelmente você não consiga nem se imaginar sem homem. Mas, em casos como o seu, muitas vezes a cura para alma vem durante “um tempo” de quietude nessa área. Sei que não é fácil ouvir o que estou falando. Mas não creio que você estivesse buscando nem moleza e nem condescendência. De minha parte você tem solidariedade e o meu desejo de genuinamente ajudá-la. Mas sei o quanto dói. Espero ter sido útil a você. Receba meu carinho e orações. E saiba: em nada a julguei. Apenas tentei entendê-la. Nele, que conhece a nossa alma e não nos despreza, Caio
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