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Cartas

SOLIDARIEDADE-- Osmar Ludovico da Silva

SOLIDARIEDADE-- Osmar Ludovico da Silva

-----Original Message----- From: Osmar Ludovico da Silva Sent: domingo, 28 de março de 2004 17:49 To: contato@caiofabio.com Subject: SOLIDARIEDADE-- Osmar Ludovico da Silva Querido Caio, Coração de pai dilacerado por um filho amado que se vai. Ainda que não conheço esta dor... Ainda que distante de você quero deixar meu abraço, reverente, condoído, solidário, saudoso. Ontem e hoje foram dias que amanheceram mais tristes; penso em você e Alda; e em meio os meus lamentos, me uno ao seu luto. E oro ao Senhor, que hoje contemplo mais silencioso, mais misterioso; e dançam diante de mim o Pai bondoso, o vitorioso Ressuscitado, e o doce Consolador. Um beijo, Osmar ____________________________________________________________ Querido Osmar, Não é dor. É mais que dor. É um sentir difuso, e que se torna tão presente quanto a alma, sem se focar em nenhum lugar-existencial, pois se espalha por todo o ser. O estranho é que junto com a dor segue um óleo, uma unção, um lamber de língua paterna, um peito de mãe, um regaço quentinho, onde as lágrimas e o consolo se misturam, fazendo nascer gratidão. No momento atual, três semanas depois, vivo o processo de sacramentalização de coisinhas e memórias. Tudo vira algo como “em memória de mim”...do Lukinhas. Alda está bem. Estamos sempre juntos, e nos falamos todos os dias. Como família, provavelmente nunca tenhamos estado mais unidos e amigos. Os filhos estão bem. Ciro é meu vizinho, e nos últimos meses o Luk morava com ele, aqui ao lado. No último mês ele foi passar um tempo com a Alda, e foi muito bom. Ciro está aqui todos os dias. Trabalha muito; é um grande filho-amigo, e todo dia passa pra fazer um cafuné. O Davi, meu filho-amigo, e companheiro de muitas alegrias e lutas, também anda trabalhando muito—e foi ele quem deitou-se em angustias sobre o corpo do irmão, em frente ao “Do Grão ao Pão”, padaria ao lado da casa em que cresceram. Davi disse que precisava trabalhar para não cair em depressão. Em alguns dias sairemos todos juntos para um tempo longe daqui. A Jú também está bem. Trabalha e estuda. Ela e Davi estavam com o Lukas quando aconteceu. E ela viu a coisa... Graças a Deus, porém, tudo virou doçura na almazinha dela. No último fim de semana—domingo da ressurreição—, tivemos uma maravilhosa reunião em família na casa dos pais da Alda. Eu vou...andando e chorando...mas sinto o doce peso dos feixes dos muitos frutos que a existência, a vida e a morte do Kinhas nos geraram, e geram ainda... e, sobretudo, agora; pois mesmo morto, ainda fala. Seu filho Jonathan foi uma das primeiras lembranças que me vieram à mente no primeiro silêncio após o sepultamento. De fato, lembrei de todos os filhos de amigos que nasceram no mesmo ano do Lukas. E orei para que nenhum de meus amigos tenha que conhecer tal dor...mais que dor. Você e Isabelle moravam aqui, em Ipanema, e me lembro do dia da primeira visita que fiz a vocês, depois do nascimento dele. Obrigado pelo carinho! Saudades! É assim que tenho vivido nos últimos seis anos. E, agora, sei que, se for este o desígnio do Pai, é assim que viverei para sempre. A maravilha é que saudades inevitáveis se tornam doces. As que têm o poder de maltratar a alma são apenas as saudades que um abraço tem o poder de evitar. Um grande beijo, Caio
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