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Cartas

QUE CONFUSÃO É O MEU CASAMENTO! ESTOU DESESPERADA!

QUE CONFUSÃO É O MEU CASAMENTO! ESTOU DESESPERADA!

-----Original Message----- From: QUE CONFUSÃO É O MEU CASAMENTO! Sent: segunda-feira, 7 de junho de 2004 19:28 To: contato@caiofabio.com Subject: ESTOU DESESPERADA! Mensagem: Caro Caio, Desculpe-me por usar este endereço do Café, mas é que estou muito desesperada, e sentindo uma urgência que nunca havia experimentado na vida. Estou meio perdida, me oriente no que puder, por favor. Minha história: Conheci meu marido com 22 anos. Ele é do Exército e tem uma filha do primeiro casamento, hoje já adulta. Moramos no Brasil Central. Nos apaixonamos loucamente e tínhamos um pelo outro um tesão inesgotável, transávamos sem nenhum problema, nos amávamos, e resolvemos morar juntos, pois descobri que estava grávida; e nossa alegria foi total. Arrumamos uma casa e nos juntamos; só que aí ele esfriou sexualmente comigo; continuava me dizendo que me amava muito, mas sempre se desculpava para mim: uma hora tava gripado, outra tava cansado e etc... Nossa filha nasceu, hoje ela tem 14 anos, e eu me acomodei a situação até que descobri um caso dele com uma amiga dele. Quase morri de tanta dor, e resolvi me separar. Mas ele cortou o caso com a amante, e me implorou por perdão. Chorava, dizia que me amava...até que cedi e continuei com ele, mesmo sem entendê-lo; até por que ele estava me procurando sexualmente novamente, e eu achei que seria diferente dali em diante. Só que mais uma vez ele esfriou...e eu continuei levando... Só que agora eu desconfiava sempre dele, perdi a confiança totalmente. Exatamente um ano depois chegou um rapaz novo no meu trabalho, e nós acabamos nos envolvendo. Me apaixonei por ele. Hoje eu acho que na verdade, eu me apaixonei pelo amor que ele sentia por mim. Ora, mesmo meu marido sendo do Exército e conhecido na cidade onde moramos, o rapza não se intimidou, e pediu que eu me separasse e ficasse com ele. Só que aí...eu conheci Jesus...e tudo virou um rolo; pois meu marido resolveu largar o Candomblé e foi comigo para a igreja. Eu dei um tempo com o rapaz porque todos na igreja diziam que meu casamento seria restaurado. Eu acreditei, e continuava tentando. Compramos uma casa linda. Quem olhasse de fora dizia que éramos a família mais feliz da cidade. Só que eu não agüentei, e acabava sempre procurando o outro, e ele não desistia de mim. Até que quando tínhamos uns quatro anos de igreja, eu já não agüentava mais de tanta culpa. Louca pra me livrar dessa loucura toda, contei para o meu marido; e ele com a maior calma do mundo, disse que eu merecia ser feliz e tal... Mas o que ele mais gostou foi saber que o rapaz tinha um bom emprego e iria dar a parte dele na casa. Dá pra acreditar?! Eu chorava muito, pois mesmo apaixonada pelo outro, esperava que ele se irasse. Mas não. Até acertarmos tudo ele continuou em casa, às vezes dormíamos agarrados, e tentávamos entender o que se passava com a gente. Sofríamos... porque como nós dois viemos de famílias desfuncionais, lamentávamos ter que repetir a história de nossos pais. A essa altura a igreja inteira opinava, e como éramos muito crus, achávamos que era amor; hoje vemos que era pura especulação. Todos diziam que eu ia me dar mal porque o rapaz não era crente, que eu estava jogando minha família fora, etc... Eu morria de vergonha de tudo que estava acontecendo. Até que depois de uns meses meu marido arrumou uma casa, e se mudou. Na hora fiquei feliz, mas depois me bateu um medo...de não conseguir pagar as contas, do rapaz me trair, de estar errada, de traumatizar minha filha, e outros bichos. Esqueci de dizer que eu e meu marido tentamos fazer terapia com um psicólogo cristão, mas com era um pouco caro, e também longe de casa, nós desanimamos... Assim, sempre que eu tinha oportunidade de conversar com alguém serio que não fosse da igreja, eu conversava; e nunca ninguém me mandou “casar de papel passado” com meu marido pra resolver nada. Falo isso porque na igreja diziam que o nosso problema era que estávamos em fornicação. Por isso, diziam que se assinássemos o papel a maldição seria quebrada, e meu casamento restaurado. Pois bem, mesmo separada, não conseguia assumir o rapaz como meu namorado... Morria de medo de encontrar alguém conhecido, vivia com medo do que iriam pensar de mim. Na cidade sou muito conhecida e tinha complexo de ter me separado depois de ter ido para a igreja. Não me sentia á vontade mesmo...mudei de igreja e continuava me cobrando por estar em "jugo desigual". Alguns meses passaram, e eu assumi o rapaz para a minha família, e para minha filha (ele adorava ela). Mas ele não se sentia bem na minha casa, pois o meu marido continuava entrando e saindo quando queria. Hoje eu vejo que na verdade nunca nos separamos, pois eu controlava a casa dele e ele a minha. Com as minhas emoções totalmente esgarçadas, apesar de gostar do rapaz, resolvi ficar sozinha. Fiz um esforço sobre-humano, pois ele me viciou no amor que sentia por mim. Nesta ocasião fui fazer um encontro, porque a igreja em que estava entrou no G12. Fiz, e sai de lá decidida a reconquistar meu marido. Loucura, né? Pois bem, ele estava fragilizado, e me disseram no encontro que eu tinha que ser a mulher que nunca fui(sic). Quando ele foi lá em casa ver a filha, eu o agarrei e disse que não ia mais desistir dele, que tinha certeza que Deus iria transformar nossas vidas, que seríamos felizes como nunca havíamos sido...etc Eu estava mesmo acreditando nisso. Comecei investindo nele, chamando para almoçar em minha casa. Ele pedia para dormir lá em casa. Eu levava café na cama. Menos de um mês depois ele pediu para voltar pra casa, para nos casarmos no papel e tudo mais. Aconselhada pelos pastores, resolvemos nos guardar para a lua de mel. Agimos tudo e, enfim, nos casamos, com festa, bolo, alianças, etc... Mas a lua de mel, que decepção! Só fomos transar no dia seguinte e assim mesmo foi péssimo. No entanto, viramos a sensação da igreja, todos querendo saber como foi a tremenda restauração que Deus havia operado. Dávamos nosso "testemunho" toda hora. Só quem sabia da nossa aflição eram os nossos pastores; e ainda, assim, eles nos colocavam para liderar uma célula de casais. Afinal, todos queriam o mesmo "milagre" nos seus casamentos. Eu, por minha vez, estava tão inchada de orgulho que não via a mentira que estava vivendo. Os pastores resolveram, então, acabar com a célula de casais, não porque estava dando errado, mas porque segundo a visão celular, não podia ter rede de casais sem rede de homens e rede de mulheres, separadamente. Eu fiquei com as mulheres e meu marido com os homens. Eu rapidamente multipliquei...e do nada me vi pastoreando sem a menor estrutura cerca de 100 mulheres. E ele ficou parado... estagnou... e acabou entregando a célula. Na época fiquei irada; hoje acho vejo que ele estava certíssimo. Continuei no ativismo frenético até descobrir que meu marido estava me traindo outra vez. À essa altura ele ia a igreja somente aos domingos e de vez em quando. Mais uma vez a mesma dor, a mesma rejeição; eu, literalmente pirei. Quis matar e morrer; entrei em depressão; fiquei péssima; coloquei ele pra fora, mandei sumir, joguei na cara dele que eu esperava este comportamento do outro que não era crente; dele, não. Fiquei tão traumatizada que escondi todas as fotos de nosso casamento. É que eu, no meu auto-engano, havia apostado tudo, e achava que realmente me trair ele não iria nunca mais. Mais uma vez ele se acovardou, largou a moça sem nenhuma explicação, e moveu céus e terra para me convencer a continuar. Aí eu coloquei ele na parede e disse que só tentaria novamente se fossemos os dois pra terapia; ele concordou. Nessa ocasião ele também, como da primeira vez, estava me procurando na cama. Na terapia eu descobri que o primeiro casamento dele terminou pelo mesmo motivo: Não transava com a mulher. A terapeuta na verdade não chegou a tratar esta área. Meu marido ficou na terapia somente até ter certeza de que eu não iria me separar. Consegui passar por cima de tudo, e no meio desse processo todo descobri que estava grávida de novo! Mais uma vez ficamos super felizes, não esperávamos mesmo; eu fui literalmente empurrando com a barriga; foi uma gravidez super feliz porque apesar dos nossos problemas, ele é muito carinhoso comigo, muito atencioso. Nossa relação fora da cama eu diria que é quase perfeita. Só que agora eu estou com quase 40 anos, e tá me dando uma agonia imensa... Quando paro pra pensar que faz um ano que ele não me deseja, me sinto um lixo. Falo todas estas coisas para ele. Nosso bebê está com sete meses. Às vezes choramos juntos sem entender o que é isso que acontece com a gente. Que desencontro é esse? Porque eu gosto muito dele; e por incrível que pareça eu acredito quando ele fala que me ama e que não me troca por ninguém. Ah, ia me esquecendo: larguei todas as minhas células e agora estamos em outra igreja, bem mais calma, e sem esta "cegueira celular". E como você sabe, aqui no Brasil Central essa coisa de células é uma coqueluche terrível. Mas estamos fora... Me dê uma palavra. Eu confio muito no seu discernimento a respeito da alma do homem. Te aguardo. Beijos! ____________________________________________________________ Resposta: Minha querida irmã: Que o Senhor lhes dê paz! Tentarei ser breve e direto no que tenho a dizer a você. Sua história tem muitos rolos e muito vai-e-vem, mas o âmago é um só: você e seu marido provavelmente se amam, mas têm um modo adoecido de viver o casamento! Você falou das famílias desfuncionais que ambos tiveram, mas não entrou no assunto, o que teria sido muito útil. O que noto é que há casais que só conseguem encontrar estímulo sexual fora do casamento, e que no casamento buscam apenas estabilidade. A palavra é esta: estabilidade, por mais estranho que pareça. Afinal, quem busca estabilidade não se arrisca tanto, alguém poderia pensar. No entanto, é isto mesmo que acontece; daí quando você ter descoberto a primeira vez, ele ter deixado a amante na hora. O resto do histórico repete o mesmo padrão nele, e em você tem apenas o despertar de uma grande carência, e que levou você pela mágoa e pelo sentimento de rejeição, a buscar alguém que amasse você e a desejasse; mas que você mesma sabe que nunca amou, pois apenas amou o amor dele por você; se apaixonou pela paixão dele; e se relacionou sexualmente com o desejo dele por você; enquanto o seu por ele era apenas uma resposta do ego inflado de vento, e vazio pela carência. Quanto ao fato de seu marido ter “topado a separação sem raiva”, não vejo como sendo uma declaração clara de falta de amor por você—apesar da preocupação dele com a “compra da parte dele na casa”—, mas sim, muito mais, de culpa nele mesmo; e até de desejo de deixar você livre para ver se você poderia ter a sua vida, já que ele mesmo não consegue focar o desejo dele apenas em você, visto que você é a esposa, não a amante. Prova de que há algo forte que os une é essa impossibilidade de vocês de separarem mesmo, e para valer. Conheço muitos casais como vocês. Eles apenas parecem viver o mesmo drama sem tantas altercações, conflitos e publicidade. Todavia, onde quer que haja igreja metida no meio da história, aí haverá todas essas coisas. A “igreja” acaba sendo uma das piores caixas de ressonância e amplificação de problemas que se conhece. Não falarei da relação de vocês com a igreja. Creio que já deu pra você mesma sentir que o caminho da solução conjugal nunca é comunitária. Então, aprenda a lição e não envolva mais “legiões” em seus conflitos pessoais. Nesse quesito “igreja” há tanto material aqui no site que seria desnecessário repetir a você o que já está mais que afirmado, especialmente quando a questão é vida pessoal e privada; e que na “igreja” inexiste, visto que todos acham que têm o direito de enfiar a colher de pau, suja de curiosidade mórbida e de legalismos malignos, na alma dos outros. Digo isto porque como pastor nunca levei caso nenhum a igreja nenhuma, e sempre tentei ajudar as pessoas no secreto e no ambiente particular, visto que desde há muito que toda essa coisa de participar o que é privado na coletividade nunca se me apresentou com base bíblica, nem com sensatez, e nem como algo que ajudasse a resolver problemas; mas apenas torná-los insolúveis. E a prova disto é quando algo do gênero me aconteceu, apenas pedi meu afastamento—já sabendo como seria o tratamento—, mas jamais consenti que ninguém viesse ou tentasse representar interesses eclesiásticos no que não era da conta de ninguém mais. É assim como procedo em tudo o que diz respeito à privacidade humana. Só se deve tratar em comunidade o que é coletivo, e casamento não é vinculo de muitos, mas de dois apenas. Assim, no que concernia a mim, quem tinha o babante desejo de “tratar do meu caso”, está babando até hoje; pois nunca a ninguém franqueie tal oportunidade, que para mim é mórbida e humilhante, e só piora tudo à volta, inclusive a possibilidade de que o casal encontre com maturidade suas própria solução, seja ela qual for. Sem dúvida, agora mais do que nunca, faz-se necessária uma ajuda profissional, e de natureza psicológica a vocês. Digo isto porque creio que ninguém que vive tudo o que vocês já viveram, continua a tentar ficar junto, e nem dorme abraçado sentindo as angustias da pergunta: O que aconteceu com a gente?—sem que haja algo importante na base do vínculo! Quando vi a cena que você descreveu, vi a angustia de um casal viciado, e adoecido nas suas pulsões sexuais—ele, evidentemente sendo o pivô da dinâmica dos conflitos e das desconfianças. O que me parece é que ele é de uma linhagem de machos que perdem o interesse quando a mulher vira esposa. E há, agora mesmo, milhares de homens lendo esta carta, e sabendo que eles mesmos são assim. De fato, parece tratar-se de uma “cultura psicológica”, e que é muito mais comum do que se imagina entre os homens. É por esta razão que acho que vocês ainda podem ter esperança, apesar de que as feridas sejam profundas. Ora, essas feridas só poderão ser curadas se ambos estiverem conscientes das implicações do “resgate”, e se houver muito perdão, e um bom acompanhamento de natureza profissional. No que respeita a essa “ajuda externa”, sugiro que vocês não procurem profissionais que se sintam na obrigação de manter casamentos que não possam dar certo. Mesmo entre profissionais cristãos essa é a tônica: salvar o casamento é mais importante que salvar os indivíduos. Ora, para mim, só interessa salvar um casamento no qual os indivíduos possam ser felizes, não infelizes. Converse com ele e me escreva. Se ele desejar honestamente tentar, então me diga, e verei se consigo alguém que possa ajudá-los. Quanto ao mais, não procure mais o rapaz. Você sabe que apenas o usou. E a prova disto foi a sua frustração quando seu marido disse: Ta certo, pode tentar viver bem com ele! O problema de seu marido tem cura uma vez que ele ame você. Sem amor nada é recomendável. Com amor tudo é possível. Todavia, quando falo em amor não falo de Amor-Amigo apenas, pois esse você mesma testifica que ele tem por você em grande medida. Sem esse Amor-Amigo não há nem por onde começar. Mas apenas a existência dele também não resolve tudo, visto que a sua “freqüência de desejo sexual” é maior que a fraternidade. Além disso, se você tivesse 55 a 60 anos, eu diria que você deveria se acalmar e manter o casamento, se ele, o seu marido, é assim tão legal com você. E diria isto porque a tendência de qualquer casamento dessa idade para frente é se tornar uma conjugalidade de amor-amigo. Todavia, sendo você ainda tão jovem, não havendo da parte dele interesse sexual genuíno, à menos que você estivesse completamente pacificada nesta área, a manutenção do vinculo conjugal seria uma violação do que Paulo diz em I Coríntios 7, quando manda que marido e mulher não se privem sexualmente para que não sejam dominados pela incontinência. Digo isto porque gostar de alguém que sexualmente não quer a gente, pode até durar um tempo, mas em havendo saúde, mais cedo ou mais tarde a abstinência vira compulsão, e o que se segue é inevitável, como você mesma já sentiu na carne, como desejo; e na alma, como rejeição; e que gerou amargura, e acabou por produzir a raiva que motivou você a se dar a quem não amava, apenas porque era amada e desejada. Estarei orando por vocês. E também no aguardo de uma notícia sua. Nele, em Quem mesmo quem se separa não precisa se fazer mal, Caio
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