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Cartas

O MITO DO GOZO SEXUAL E DA FELICIDADE CONJUGAL COMO OPRESSÃO PRA ALMA... – sobre o livro “Brincadeira de gente grande...”

O MITO DO GOZO SEXUAL E DA FELICIDADE CONJUGAL COMO OPRESSÃO PRA ALMA... – sobre o livro “Brincadeira de gente grande...”

 

----- Original Message -----

From: O MITO DO GOZO SEXUAL E DA FELICIDADE CONJUGAL COMO OPRESSÃO PRA ALMA... – sobre o livro “Brincadeira de gente grande...”

 

To: <contato@caiofabio.com>

Sent: Friday, September 28, 2007 11:14 AM

Subject: Brincadeira de gente grande...

 


Pr Caio! Mui querido amigo, irmão, mentor
Paz e Bem!

Lendo o livro de sua autoria, cujo título é "Brincadeira de gente grande", estou chegando à conclusão de que não me casei; até hoje, não casei com ninguém!

O que vivi, vivi..., mas não foi um "casamento"; aliás, tenho muitas dúvidas se saberia me casar! De fato, embora deseje muito, eu tenho medo.

Cada página-pensamento me coloca na situação de ver o que não vivenciei, como sendo essa experiência, e o que deixei de viver enquanto me "relacionei"...

O que busquei e o que não fui!

Levei tudo muito a sério...

Quando eu queria brincar o meu ex-marido queria trabalhar...

O interessante é identificar os pontos e... sentir um desejo enorme de voltar no tempo como que para, pelo menos, tentar... e brincar ou chorar...; enfim, viver a emoção certa para cada tempo!

Chego a pensar que vivi uma relação incestuosa, pois ele me chamava de "filha" e me era o provedor responsável... que me dava a segurança buscada.

Assim, eu penso que, de fato, nunca soube o que é ter um homem, um macho; pois, era tratada como filha...; a intimidade não existia e meus desejos foram contidos; minha sexualidade continuou comprometida e... acabou.

 

Ele conheceu uma mulher, de verdade, uma amante..., e não uma outra "filha", a quem ele se deu e para quem foi homem!

 

Não o culpo, mas confesso que mesmo amando-o com o amor que lhe tenho e que não é ciumento, nem egoísta... eu me entristeci quando percebi o quanto de mim poderia ter sido descoberto...; o quanto de mim, perdi por não ter visto...; embora tenha visto, desde o início, que mesmo dizendo me amar [e acho que me amou - do jeito dele], ele nunca me assumiu como mulher...

 

Quando saíamos em público ele ia à frente...; e não andávamos de mãos dadas; quando encontrava alguém conhecido dele..., ele de mim se afastava; eu não participava da vida dele, ficava à margem...; e ante a tudo, me calava...; mendigava...; e, no escuro, não poucas vezes fingi [...] e depois chorava...


Eu tenho medo de sexo!...

 

Penso que deve ser bem melhor do que o que eu tive...; mas tenho medo de fracassar; de não saber ser; de nunca me encontrar ou de não saber "dançar"; ou de não encontrar alguém que me entenda e que queira dançar comigo, todas as danças!


Assim, cada dia que passa..., me recolho..., e, de fato, dificulto um encontro... Se que é que eu queira me deixar encontrar com alguém mesmo...

Um desabafo!

Grande abraço.

_______________________________________
Resposta:

 

Amiga amada: Graça e Paz!

 

Você não me perguntou nada; posto que tenha sido um desabafo... Além disso, levei um ano para ver a sua carta; tempo no qual muita coisa pode ter mudado em sua vida e no seu sentir sobre afetos, relacionamento e sobre a figura masculina; e, sobretudo, sobre seu medo de não saber “dançar” nos ritmos do amor...

Entretanto, escrevendo para você pela fé, pois sua carta é de 2007, mas crendo na possível ainda relevância dela para você tanto quanto para outros, foi que decidi responder assim mesmo...

Saiba para sempre; você e todos os que queiram saber:...

Ninguém se relaciona de verdade se o jugo for desigual...

Ora, por “jugo desigual” estou falando de desarmonia, de desacordo, de descoração, de desencontro, de desafinação, de desnivelamento, de desentendimento, de maturidades diferentes, de atitudes díspares, de inibições, de falta de intimidade, de falta de igualdade no olhar conjugal, e, portanto, sem alegria de identificação, sem confiança na entrega, sem desejo de dar e de ter, sem alegria no dar tudo e no ter tudo, sem busca de prazer do outro, sem liberdade para provar tudo, e desejo de fazê-lo, sempre... E mais: sem admiração mutua e desejo mutuo...

Ou seja: sem tais coisas não se cumpre entre um homem e uma mulher o que Pedro chamou de “graça comum de vida”...

Portanto, o que tenho a dizer a você é que não é porque você seja uma freek que isto aconteceu...

Não! Basta não haver encontro [...] e pelo menos uma das partes ficará “aleijada”, senão as duas...

Assim, a mulher jamais se conhecerá na plenitude da relacionalidade em nada..., a começar da cama... E o mesmo se pode dizer do homem...

É por esta razão [ou seja: em razão de casamentos em jugo desigual psicológico, afetivo, emocional, espiritual, físico, químico e animal] que em geral o homem vai pensar que se apaixonou pela 1ª amante que tiver...; sim, com quem não tenha nada além da liberdade aflita do sexo proibido... Também é pela mesma razão que a mulher me escreve dizendo que nem ama o amante, mas que não consegue deixá-lo...

Todos os que já foram “bem casados” pela religião e “pela boa disposição de fazer dar certo a todo custo”, mas sem aquele amor que justificasse a união de um homem e uma mulher, e que, portanto, fracassaram no casamento...; passando a sentir o mesmo que você descreveu... — têm a dizer a você que também nunca se relacionaram na vida; que nunca se conheceram; que nunca discerniram seu próprio potencial relacional e sexual; que se sentiam ou ainda se sentem “aleijados”..., à sua semelhança.

Sim, muitos com forte impressão de que o problema é deles...

Ora, num caso como o seu, por não ter podido nem mesmo conhecer o sexo como prazer [fica difícil relaxar com um homem que trate você como “minha filha”...], vindo você posteriormente a descobrir que o ex-marido conheceu com outra aquilo que ele não teve com você [E é claro! A outra não era “filha” dele...] — é natural que surja no coração enfraquecido e sentido pelos fatos, a idéia de que a pessoa, no caso você, é que não teve a devida competência... , quando, na realidade, não é nada disso...

Sim, pois amor e desejo, conluio conjugal, paixão químico-orgânica, atração inexplicável; atavismos e simbioses psicológicos; entre outras coisas... — não são produções da vontade de que assim seja; sendo, na maioria das vezes, algo que ao começar não se explica e não se faz lógico; embora encha a pessoa da insanidade da certeza feliz.

Portanto, cobrar-se do que você está se cobrando seria como eu lhe dizer que cheguei à conclusão que ainda não meti a cara dentro do ambiente pleno da eternidade; o que é óbvio, posto que eu ainda não tenha provado a eternidade para além do que até aqui me tem sido possível discernir dentro das limitações...

Ter morado com um marido, ter tido filhos, ter cuidado de uma casa, ter dormido ao lado de um homem tantos anos, ter tido tudo o que os casamentos propiciam [para o bem e para o mal], não realiza nada além de ter deixado uma mulher e um homem juntos sem terem jamais se unido; a menos que tenham já se unido de modo inexplicável antes de fazerem o rito do casamento.

Sem amor não há nada que case um homem e uma mulher!

Podem viver 75 anos juntos, gerar 23 filhos, e nunca terem se casado...

Podem ter transado como preás..., mas se não tiverem se amado mesmo, terão apenas muita consciência anatômica do corpo um do outro, mas nenhuma intimidade...

Intimidade se manifesta nas liberdades da cama, mas, sobretudo, na confiança com a qual cada um se entrega ao outro todos os dias, em todas as coisas...

Só existe intimidade quando o amor desavergonha os implicados no vínculo!...

Assim, foi tudo certo com você; exceto você para o homem e o homem para você!...

Entretanto, casada naquelas circunstancias de jugo desigual em quase tudo, o que você julga que uma alma verdadeira e sincera como a sua produziria..., senão choro no escuro enquanto o gemido não era prazer, mas angustia?...

Estranho para uma mulher como você [que não veio a casar depois de ter tido uma longa experiência de pernas abertas sem compromisso com o amor] seria dizer que nunca tinha tido nada com ninguém, que casou com “seu pai psicológico”, que era trabalhador no escritório, mas preguiçoso na cama; que não gostava de fazer você brincar como gente grande em agonia de prazer; que não se deu a você; que não fez por você mais do que um bom pai faria pela filha — mas que, apesar de tudo, você teve mais prazer que uma “incorporada”...; e que se deleitou mais do que se o amasse!...

Aí sim! Algo estaria muito errado...

Com isto não acho que você tem que “abanar” a sua sexualidade, como que para “acendê-la”... Não precisa!... Ela está aí... Viva e intacta... Sim, até que apareça aquele que não deve ser inventado...

Ora, quando o homem real, que não é nossa projeção e nem transferência; que não é a escultura do Miguel Ângelo da nossa carência afetiva e emocional; e que, além disso, não é uma fantasmagoria criada pelos nossos ideais conjugais fantasiosos... — chega, então, ante sua aparição, toda mulher, não importando a idade [e sei do que falo, pois milha mulher e eu fomos encontrar o amor já “idosos” para os padrões antigos...], descobrirá o poder do amor como se tudo fosse tão poderoso em intensidade quanto na adolescência, embora carregado pela maturidade do tempo...

Assim, minha amiga, não se julgue mal; e não se torne impressionada com a falência de seu casamento, nem com o passado dele, nem com seus fantasmas, nem com sua impotência; pois, eu, você, e qualquer um que queira amor sincero e pleno, jamais seremos nada além de “aleijados”, se casarmos sem que o amor que justifica a união de um homem e uma mulher, com todas as suas nuances, não estiver mais que presente...

Quem não ama, mas diz que mesmo sem amor o casamento é uma beleza, saiba: é tão “aleijado de amor”, e tão distante do amor, que, para esse tal, o casamento é apenas o que de dentro dele se possa tirar como conforto ou segurança material para a vida; se tanto...

Quando duas pessoas se encontram, é Graça.

Quando não se encontram, não é culpa de ninguém; pois, quem de fato se encontra..., esse não quer mais se desencontrar de quem de fato encontrou...

Assim, amiga amada, descanse a sua alma, como a minha mulher descansou a dela, até que sem buscar e sem querer..., foi atingida pelo que não procurava...

“Ó, filhas de Jerusalém! Rogo-vos que não acordeis e nem desperteis o amor até que este o queira!”

Receba meu carinho, amiga querida; sim, você e todas as demais pessoinhas de Deus que se identificarem e se enxergarem nesta resposta ao seu desabafo.

 

 

Nele, que não pôs tal jugo sobre nenhum de nós; e que nunca disse: “Bem-aventurados os casados, que têm muito prazer todas as noites, pois, dos tais, é o Jardim de Alá!”,

 

 

 

Caio

28 de setembro de 2009

Lago Norte

Brasília

DF

INFORMAÇÃO:

O livro Brincadeira de gente grande... está no site para download... Vá, baixe e leia... Envie também para outros!

 

 

 

 

   

 

 

 

 

 

 

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