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Cartas

NAMORO DE CRENTE: platonismo, amargura e compulsividade

NAMORO DE CRENTE: platonismo, amargura e compulsividade



Querido amigo,

Na ultima carta que lhe escrevi, relatei como a personalidade maligna de René Terra Nova corrompeu as igrejas que entraram debaixo da sua autoridade. Vou abrir meu coração um pouquinho e contarei como tive um romance com uma garota sob o signo G-12.

Iniciei a corte (denomina-se assim, pois namoro é pecado) com uma garota da minha igreja, ficamos juntos por dois anos...foi o pior conto de fadas de minha vida. Durante o período que ficamos juntos, nunca nos tocamos, a não ser os selinhos no rosto e o pegar básico nas mãos. No começo, aceitei legal...cara, realmente eu a amei e o simples fato de “estar” ao lado dela me satisfazia..

Choviam profecias sobre nossas vidas: Vocês casarão logo; O Senhor me mostrou que o casamento de vocês vai puxar todos os outros; A obra que Deus tem na vida de “vocês dois” é magnífica.

Nosso relacionamento era tão fundamentado na “santidade” que quando aconteciam aqueles desejos normais a todo ser que é carne, eu me sentia o pior dos seres humanos, era um jugo muito grande. Dois anos sem um único beijo...pensei que as ausências dos toques carnais facilitariam nosso relacionamento e nos levaria para um patamar mais alto da “Purificação”, mas eu estava enganado. Quando ela dava um selinho na minha face e eu o mesmo, pode ter certeza, ali nos beijávamos em pensamento louca e apaixonadamente. Eu confessava a ela esses desejos, e ela também. Por ser muito nova e ter sofrido algumas traições de seu antigo namorado (esse ela beijava muiiitooo na boca) e ainda por cima sofrer pressão dos pastores da igreja para ser um exemplo de “relacionamento santo”, creio que ela entrou em parafuso.

A coitada achava que sentir um desejo carnal por alguém que ama, era um pecado mortal, na cabeça dela esse desejo só apareceria milagrosamente após colocarmos o anel de casamento.

Mesmo assim, continuamos o relacionamento...pois eu a amava. Abri uma livraria evangélica e a coloquei na empresa como minha funcionária. Cara, pensa num erro, depois multiplica...agora acelera. Com apenas um mês de loja, eu já tinha mais de R$:1.000,00 (mil reais) de fiado. Quando eu chegava no estabelecimento no final do dia (pois trabalho na prefeitura de minha cidade até as 5 da tarde) um monte de gente tinha comprado na “nota”, eu perguntava para ela quem era aquelas pessoas que ela tinha vendido sem pegar nenhum documento ou endereço, ela me respondia: Ah, Wan! Essa é a fulana de tal da Célula de sicrana, pode confiar; e essa é a profetiza tal, ela não enrolaria ninguém; essa outra é da minha célula, é nova convertida estou cuidando do caráter dela.

Como fui idiota! Burro, demente... Que ilusão é, achar que vender produtos evangélicos é negócio garantido porque os pretensos compradores são pessoas curadas e ungidas pela graça e cujos bolsos, Mamon nunca habitou...esse “achismo” me levou a falência .

Ela não me edificou em meu negócio. Por ter a intimidade de dois “anos” de “relacionamento puro”, tudo que eu dizia pra ela fazer na loja, ela fazia ao contrário pois achava que já era “casada”.

Meu, agora eu vejo o quão “fulero” foi aquele romance. As profecias? NENHUMA SE CUMPRIU! Terminamos a corte, frustrados e com aquele sentimento de “Tempo Perdido”. Foi embora para São Paulo e de lá, por e-mail...mandou dizer que nunca mais quer saber de mim.

Que baque! Lembrei arrependido das muitas e muitas vezes que acolhi a família dela como se fosse a minha, das vezes que eu alimentei ela e a irmã pois a mãe viajava para “profetizar” e as deixava morrendo de fome.

Como uma pessoa pode trair outra assim?


Caio, estou muito triste e desesperado: A mulher que eu amo me abandonou, e a Igreja que eu sou louco de paixão, não consigo mais freqüentar, pois o ranso de René Terra Nova já assolou a mente de todos aqueles que eu tanto amo, e o pior, aos poucos sinto que meu “caráter cristão” esteja se esvaindo, uma vez que não tenho congregado em nenhuma Comunidade (pois não me identifico com elas). Desculpa-me por essas cartas, ultimamente são poucos os que me ouvem...


Um abraço!

Naquele que um dia nos mostrou um Evangelho simples e sem “códigos”...
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Resposta:


Meu amado mano: Graça e Paz!


A Sabedoria diz que há tempo para todas as coisas debaixo do sol. Também se diz que o sábio sabe o tempo e o modo. E, além disso, também se diz que o jovem deve se alegrar na sua juventude, sempre lembrando que há bons prazeres e maus prazeres; e que desses últimos ele terá que prestar contas.

Nossa sociedade inverteu o ciclo natural das coisas, e, não sabe como lidar com tal alteração. Sim, porque durante milênios as mulheres casavam jovens; e, não havia nada como côrte, namoro, ficar, ou qualquer dessas coisas vigentes.

Hoje, com tantas mudanças sociais, econômicas e culturais, as pessoas casam biologicamente tarde, pois, já estão fisicamente prontas para conceber e ter filhos desde os 13 anos de idade.

Ora, o “atraso social” que hoje regula o tempo do casamento, não é em nada compatível com a natureza do corpo. Assim, socialmente só se casa, hoje em dia, quando o corpo já está velho de desejo e vontade natural de se relacionar sexualmente, especialmente quando se ama alguém.

A “sinuca” da “igreja” é que ela adotou o modelo de casamento conforme os valores, cronogramas e tempos estabelecidos pelo todo da sociedade humana, especialmente no Ocidente; mas demanda dos jovens que se comportem de maneira que só é comum entre as idades de 5 e 10 anos, quando meninos e meninas não sentem falta um do outro.

Desse modo, não podendo impedir os moços que namorem — eles não têm tal poder —, dizem a eles que provem, mas não sintam o gosto; que toquem, mas não desejem; que abracem, mas que não tenham a ânsia da penetração; que saiam juntos, mas que não aproveitem a solitude; que morram de desejo, mas que não transem; que almejem ter o outro, mas isso sem tesão.

Somente um ser inumano consegue tal façanha!

Ou seja: o que se pede é o que o diabo gosta! Sim, porque pedir tal coisa é o mesmo que empurrar a pessoa para a “transgressão”; ou, em muitos casos, é como criar o ambiente psicológico para o perene adoecimento sexual dos “praticantes”— seja pelo amortecimento do desejo depois do casamento, gerando expressões de formalidade sexual na conjugalidade, e que foram produzidas pelo tempo de namoro, no qual todo desejo era “pecado”—; ou, então, em razão da exacerbação do desejo sexual, fazendo com que nem mesmo o casamento satisfaça tais pessoas, visto que, pela repressão sexual cheia de culpa, a maioria introjeta fortes pulsões de natureza sexual, às quais, em tempo próprio, se abrem em desejos que tendem à manifestação compulsiva, e até mesmo, em alguns casos, à revelia.

O que a “igreja” tem que saber é que não é possível almejar e ditar a norma da sexualidade infantil (entre 5 e 10 anos de idade), enquanto os que têm que pratica-la já estão em plena estação de desejos e até da ânsia inconsciente de transar como pulsão procriadora, a qual, nem sempre se apresenta socialmente com essa cara, porém, psicologicamente, é também resposta da alma-corpo aos milhares de anos de procedimento totalmente diferente.

Assim, o que a “igreja” pede é anti-natural; e acontece numa total dês-sincronia entre os apelos do corpo-alma e as imposições da moral-social da “igreja”.

Assim, quem não casa seus filhos conforme os tempos antigos, então, que não peça deles um tipo de comportamento que não é natural; pois, a violação da pureza natural pode gerar, conforme temos visto, inúmeros problemas de natureza emocional, afetiva, sexual e psicológica.


O que fazer então?

Na minha opinião tem-se que ensinar os jovens a serem responsáveis, capazes de avaliar as conseqüências de intimidades sexuais banalizadas, e, além disso, ensinar a eles que ninguém deve usar as pessoas e descartar. Portanto, ter-se-ia que ensina-los a “não defraudarem” sexualmente o próximo, usando-o e descartando-o.

Também em minha opinião os pais deveriam ajudar os filhos a avaliarem quando um namoro chega numa situação de maturidade na qual a intimidade sexual pode ser praticada de modo sério e responsável. E, para que isto aconteça, tem que haver a idade própria, com a maturidade que a experiência requer, e, sobretudo, com a vontade de amor quanto buscar o futuro como tempo de união definitiva, clara, explicita e fiel.

O que passar disto, meu irmão, para mim é total irrealidade e proposta de adoecimento humano.

Moderação, equilíbrio, sinceridade, afeto, maturidade emocional e um parceiro (a) igualmente qualificado, para mim, é a única coisa que se pode recomendar.

Quanto ao mais, quem passar disto, deve também assumir a responsabilidade pela saúde emocional e sexual dessas pessoas no futuro. Todavia, nenhum desses fariseus se apresenta quando um casamento que foi produzido por tais leis, gera os casais mais infelizes ou complicados desta terra.


Receba meu abraço!


Nele, em Quem a gente tem que aprender a verdade e a justiça em cada um de nossas relações,


Caio
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