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Cartas

ME APAIXONEI PELO MEU ANALISTA

ME APAIXONEI PELO MEU ANALISTA



----- Original Message ----- From: ME APAIXONEI PELO MEU ANALISTA To: contato@caiofabio.com Sent: Friday, June 17, 2005 4:50 PM Subject: Será ilusão? Caio Fábio, meu grande ajudador! Antes de desabafar, deixe-me dizer que sempre que posso, agradeço á Deus pela sua vida, pois você tem ajudado tantas pessoas, como eu, a encontrar o Caminho, a Verdade e a Vida. Os textos que aqui leio me preenchem, me ensinam, me edificam. As cartas são como bálsamo, pois, vejo cada dilema, e como você mostra a leveza de Jesus em cada resposta. Aliás, como você já me ajudou tanto com suas respostas a cartas que mandei (POR QUE GOSTO DE SER DOMINADA? ... lembra-se?) Puxa, aquilo me abriu para perceber que há cura, há libertação. Tanto que quando sou tentada a praticar masturbação seguidas das fantasias (que me deixam sem forças depois); eu me lembro de suas palavras de que isso é um vício; ou seja: me trato como viciada. Parece ficar mais leve. Muito mais do que quando eu me açoitava perante Deus em orações para ser liberta do pecado. Bem, hoje estou com o coração apertado, porque tive alguns problemas com o terapeuta. Estava indo tudo tão bem na terapia. Eu já estava até tratando essas questões D/s (Dominador e submissa); e ele me abriu a possibilidade de que com exercícios mentais, eu poderia transpor meu erotismo, para uma gentileza; poderia começar a gostar do respeito, do carinho, digno em qualquer relação que haja amor. Me vi esperançosa e desejosa em ter isso. Tanto que comecei a me olhar de maneira diferente, me respeitando mais. Bem, mas a terapia nos leva a lugares terríveis de carência. A gente se vê fragilizada com uma série de coisas, e acabou que eu fui me envolvendo com ele; mas não de maneira erótica. A princípio me sentir mais atraída pelas suas idéias, e pela própria atenção que ele me dava. Mas confiei que se eu me envolvesse, ele saberia me conduzir a eu não confundir as coisas. Ele é casado. É uma pessoa maravilhosa que me ajudou durante todos esses meses de terapia. Ao lado dele eu me sentia tão plena, tão guardada, tão querida. E apesar dele ser mais velho, jamais o vi como um pai, mas como um querido amigo. Quando já estávamos tratando a questão da minha sexualidade, percebi que ele estava diferente comigo, me olhando de uma maneira mais interessada. Começamos a trocar e-mails, porque havia fatos que eu relatava por e-mail; e acabava por escrever pensamentos sobre a vida, com os quais ele dizia se identificar muito. Um dia me vi sozinha, pensando nele, desejando estar com ele, numa relação homem/mulher, e não mais médico/paciente. Tive vergonha de lhe revelar isso; até que ele mesmo disse que já não poderia mais me tratar, pois estava muito envolvido comigo. Me afastei dele, temendo nossas reações ante o fato de termos essa atração; porque apesar de minha carência, tive grandes receios de ser pega em adultério; mas em meu coração eu já havia cometido adultério desde o dia em que o desejei. Não lhe escrevo por estar ‘dilemada’ com ocaso do adultério no coração, pois, confessei à Deus minha fraqueza (que vou fazer?); mas sim pela saudade que tenho dele; e o desejo aumentou muito. É complicado porque nunca encontrei uma pessoa que me entendesse tão a fundo como ele, que me mostrou o meu valor. E percebo que ele deve ter lugares vazios em seu relacionamento, pois, do contrário, não buscaria em mim esse preenchimento. Cada vez que penso nisso, desejo muito estar com ele, e preencher esse vazio. Mas penso também que tudo isso pode ser muita ilusão. Se acaso você tiver algo a me dizer, saiba que será de grande ajuda. Que o Pai te conceda muita paz de espírito. Um grande abraço, _____________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: A Psicanálise ensina acerca dos mecanismos de transferência e contra-transferência que podem acontecer — e, por vezes, precisam acontecer — entre terapeuta e paciente. Isso porque é na transferência que o paciente faz é que a situação em desordem se expressa num ambiente real, não como narrativa, mas como uma situação de laboratório e de experimento; oportunidade na qual o terapeuta pode ver a face da estrutura psíquica do paciente. Ora, no seu caso, a situação de vício psicológico na sua eroticidade — e que se manifesta como desejo de uma intensa presença de Dominação expressa como escravização sendo exercida sobre você no ato sexual—, teve, na sala do seu terapeuta, sua manifestação real, feita como transferência; posto que outra vez você se deixou atrair pelo tesão que um homem mais velho e mais sábio (isto é poder e capacidade de domínio) exerceu sobre você. Portanto, sem ainda estar apanhando ou sendo suavemente espancada numa cama; ou cumprindo scripts sexuais nos quais você interpretava sempre o papel da degradada—; no entanto, você já havia transferido para ele esse desejo de se relacionar com alguém Maior. Seria a hora de iniciar a descoberta da procedência dessa necessidade que se instalou em você; isso se ele mesmo não estivesse esburacado; e, se ele mesmo não tivesse ficado com tesão na sua doença e vício. Graças a Deus ele teve a hombridade de não usar o poder do Divã para possuir você e escravizar você. Pois, lhe digo: se vocês dois forem para a cama, você, provavelmente, ficará presa de um modo terrível a ele; sendo que o segundo estado se tornará pior do que o primeiro. Não se iluda: qualquer homem legal, calmo, atencioso, compreensivo, sensível e que ouvisse você 1 ou 2 vezes por semana, no estado de carência em que você se encontra, despertaria em você a mesma emoção. Minha preocupação é que agora você está desenvolvendo o auto-engano de que ele é um carente que precisa ser “preenchido” por você. Mas saiba: é o auto-engano que precede a tragédia! Se você o procurar, ele vai querer; especialmente agora que ele também pode dizer que não está “pegando” uma paciente— afinal, ele dispensou você também para ver se você volta ‘leiga’, sem a incompatibilidade que o código ético do analista impõe quanto à relação terapeuta/paciente —; e também porque ele sabe que você está louca por ele. No entanto, se você for ter com ele, além de que terá alguns meses de muita cama e culpa, você logo descobrirá que ele não vai deixar a esposa para ficar com você; e você o odiará por isso; embora possa ficar desejosa dele para o resto da vida. Portanto, se você se ama e quer se fazer bem, não faça isto contra você mesma. Você falou em temer ser “pegada” em adultério. Ora, dos males, esse é o menor: ser pega pelos homens. O que faz mal mesmo é viver nesse estado, permanentemente; e isso na subjetividade. O simples fato de você ser casada, e, ainda assim, ser tão carente assim, revela que seu casamento anda mal das pernas. Por isso, em minha opinião, você precisa mesmo é avaliar as condições reais de seu casamento; e de sua relação com seu marido. Quanto a controlar as “pulsões” com exercícios mentais, sinceramente, lhe digo: há muitos exercícios mentais que fazem muito bem; todavia, nenhum deles tem poder sobre as inclinações dos desejos que se instalam nesse nível da alma. Somente a consciência na Graça, e que cresce na Verdade e na Palavra; e que acontece numa alma que aprende a se agradar de Deus e a gostar de si mesma, é que as inclinações do ser mudam; determinando um novo pendor interior. Quer fazer uma experiência? Passe esta semana inteira pensando nas coisas lá do alto, e em tudo o que é bom, puro, respeitável, louvável, de boa fama,e gerador de vida e paz —; e você verá que sua mente vai começar a gostar da paz. Um dos nossos grandes problemas é que nós somos viciados em agonias e aflições psico-físicas; ou seja: naquelas coisas que têm seu fundamento na alma e que geram emulações no corpo; e que nós sentimos em nós mesmos como pulsões de desejos que se apresentam como leis a serem cumpridas, sob pena de que a alma mergulhe na infelicidade. Esse é o espírito de aflição e agonia que perturba a existência de quase todos! Eu creio que você pode andar no caminho da pacificação de seu ser, conforme a Graça; de acordo com o Evangelho. Agora, saiba: não procure mais o terapeuta; busque uma mulher terapeuta; ponha a sua mente nas coisas lá do alto; me escreva me falando de seu casamento; e me detalhe melhor como se manifestam suas fantasias de D/s. Apanhe os evangelhos e os leia na seqüência. E mais: ore o tempo todo no espírito; não lutando contra as coisas dentro de você (pois, nesse caso, você as fixaria ainda mais em sua alma), mas apenas pensando seus pensamentos em Deus; isto é orar o tempo todo; e sem cessar. Aguardo sua resposta! Nele, em Quem não há engano, Caio
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