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Cartas

FÉ VERSUS SENSAÇÕES

FÉ VERSUS SENSAÇÕES

 

----- Original Message -----

From: FÉ VERSUS SENSAÇÕES

To: contato@caiofabio.com

Sent: Monday, March 02, 2009 12:18 AM

Subject: SOCORRO, POR FAVOR!

 

Amado Pastor,

Tenho 33 anos, sou casada há 10 anos e tenho dois filhos lindos.

Fui criada na igreja evangélica desde sempre e tive uma adolescência por um lado linda, com bons amigos, namoros saudáveis, passeios, estudo e um mar de boas recordações; por outro lado, marcada pela separação dos meus pais e todas as conseqüências disto: minha mãe tinha arrumado um amante e vivia com medo da própria sombra que meu pai, que já estava fora de casa, descobrir que o tal estava morando com agente e tirar a pensão dela que não tinha renda própria. Meu pai se casou com a empregada lá de casa que eu considerava como irmã e estava no meio da confusão toda!

Minha mãe era uma pessoa extremamente insegura, que vivia em tratamento com psicólogos (o que pra ele parecia não surtir efeito), tomava antidepressivos fortes e sempre tinha muita enxaqueca, motivo que por vezes fazia com que ela se esquecesse de buscar a mim e ao meu irmão na escola (e nós devíamos ter entre sete e 10 anos). Quando a bomba da separação estourou, por vezes ela se deitava com a cabeça no meu colo, chorando e me perguntando com desespero o que ela iria fazer da vida, que estava sem chão, me pedindo uma solução! Se ela estava sem chão, quanto mais eu, com 15 anos tendo que responder a isto! Depois da separação ela viveu com este cara por uns três anos e ele a largou arrumou outra e ela se afundou de novo na depressão, no envolvimento com amizades que só tiravam vantagem dela, no namoro com rapazes da minha idade, só que desta vez apareceram várias doenças psicossomáticas como síndrome do pânico, problemas circulatórios e as enxaquecas cada vez maiores que acabaram por provocarem um AVC, levando-a a morte aos 42 anos, em 1996.

   Meu pai sempre foi do tipo ausente, que trabalha demais pra dar conforto pra família e não tinha muito tempo nem paciência pra mim. Ele teve três filhos do 1° casamento (meu irmão mais velho é da idade da minha mãe), dois com a minha mãe e tem mais duas filhas do casamento atual. Depois do baque da separação, meu pai mudou muito, passou a ser mais atencioso e tentar estar presente. Depois da morte de minha mãe fomos morar com ele e foi uma chacoalhada de Deus pra mim, pois pude pedir perdão e perdoar tantas mágoas do passado, mas foi difícil!

   No meio desse balaio de gato estou eu. Fiz muita terapia com uma excelente psicóloga que me ajudou a encarar duas crises de depressão e muita angústia nos meus dois pós-partos. Vivia com muita angústia apertando o coração, achando que iria morrer ou enlouquecer, principalmente porque minha vida estava aparentemente bem e não via motivo pra nada daquilo. Meus filhos estavam saudáveis, morava em casa própria, meu emprego público e estável, meu casamento bem e eu quase enlouquecendo sem conseguir que me entendessem!

   Consegui tratar um pouco da auto-estima, vencer a distância que eu achava que tinha de meu pai, ver que meu trabalho e meus filhos foram escolhas minha e eu podia dar conta deles e ser grata por eles... Mas duas coisas não consegui tratar e preciso de orientação, uma luz uma ajuda, por favor!

   Uma das coisas é com relação ao sexo. Até hoje tenho problemas em quere fazer amor. Quando estava namorando com meu marido sentia tudo e queria tudo, tanto que tínhamos relação sexual antes de nos casarmos e é claro carregava MUITA culpa por isso.

Sei de tudo o que o senhor escreve sobre o assunto e gostaria de ter sabido disso na época; o fato é que alguma coisa me atrapalha e não acho que seja apenas a culpa ou o que se falava na época sobre sexo antes do casamento.

Quando penso nisto sinto um frio na espinha como se tivesse visto ou vivido algum tipo de abuso, mas sinceramente não tenho nem esta certeza e não consigo lembrar de nada, aliás, até hoje tenho medo de lembrar sei lá de quê!

Esta noite tive um pesadelo em que meu marido e meu irmão estavam abusando de dois adolescentes, em momentos diferentes do sonho, e faziam como se fosse normal ou se os meninos merecessem aquilo! Acordei na madrugada com medo e demorei pra voltar a dormir.

O outro problema ou talvez seja o mesmo é o medo! Pastor, meu sonho é viver com o coração livre de medo e de fantasmas, totalmente pacificado como o senhor diz e vive. O que mais quero da vida é crer no amor de Deus por mim e viver TODO o benefício da ressurreição! Sinto-me péssima por não ter esta fé, pois na hora H sempre acho que Deus vai me deixar na mão ou que ele precisa de uma ajuda, ou que talvez ele não queira fazer nada por mim! Todas as vezes que leio o site ou ouço uma palavra pela vem e vê TV, peço a Deus que me ajude a viver tudo isso e não apenas ouvir e entender com a mente quero crer com o espírito e vivenciar na alma! Minha alma tem muita sede do amor de Deus, mas parece que um escudo não me deixa viver este amor, no máximo ouvir e entender. O resultado disto é medo de algum mal sobre meus filhos, medo de perdê-los (quando li tudo o que o senhor escreveu sobre o lukas, chorei muito e pensei que se fosse comigo eu não teria essa paz). Tenho medo de assaltos, quando vejo algum filme violento, me sinto mal imaginando se fosse comigo ou algum dos meus, tenho medo do mundo espiritual, de estar à mercê deles... NÃO AGUENTO MAIS! Pareço uma criança, mas tenho duas crianças pra ensinar a serem fortes, homens de Deus, sem medo da vida ou da morte.

   Há uns dias atrás, meu marido foi trabalhar perto de uma praia e deixou a mim e os meninos numa praia enquanto ele trabalhava. Fiquei tensa por ter que olhar os dois sozinha, pois eles adoram correr sem nem se preocuparem com nada. De repente o mais velho foi até a água e de lá começou a corre pra longe de mim, achando que estava indo ao meu encontro, eu o vi se afastando e andei um pouco atrás dele gritando, mas ele não me escutou e o meu caçula estava sentado na areia onde eu estava e ficou lá sozinho enquanto eu tentava não perder o outro de vista.

Foram segundos de pavor, pois se eu o perdesse de vista como o encontraria depois?

Alguém poderia pegá-lo!

E se eu fosse atrás dele o menor ficaria sozinho e desprotegido. E se me roubasse algum deles?

Finalmente o mais velho me viu e voltou e o pequeno já estava de pé me procurando...

Só de pensar nisto ainda tremo!

Ontem, depois de algum tempo deste ocorrido, meu filho disse, do nada, que não queria se perder de mim, que não queria que ninguém o levasse embora e começou a chorar. Eu o abracei e disse pra ele não se preocupar porque o Papai do céu não deixaria isso acontecer, que os anjos dele nos protegem e que ele nos ama muito e por isso cuida de nós, mas quase chorei sem ele ver, por não conseguir acreditar nisto!

Sem fé é impossível agradar a Deus! Mas se até para agradá-lo eu preciso dele, já que a fé é um dom de Deus, por que ele não me dá essa fé e acalma meu coração?

Tudo o que falei sobre minhas origens talvez expliquem meu atual comportamento, mas não sou vítima de nada!Sou dona da minha própria história e não quero mais viver um amor distorcido e frágil como esse!Sei que o senhor vem de uma família onde aprendeu a amar a Deus e não a religião e seu pai sempre foi um exemplo de amor e segurança, algo semelhante à paternidade de Deus, então pelo amor do Pai e em nome do Senhor Jesus me ajude!

Mesmo com tantas distorções, minha vida só tem sentido quando estou na presença de Meu Pai, quando o adoro de coração tenho a certeza de que nasci pra isso, quando ouço Sua palavra meu coração se enternece... só quero que isto seja assim até na hora do vale da sombra da morte pra que eu não TEMA mal nenhum.

Continuo ouvindo e lendo e, principalmente, orando pra que seja curada, pra que ouça, creia e sinta pessoalmente quando Ele disser: eu quero, fica limpa!

Se puder ler minha carta já agradeço demais, mas se não, só de compartilhar me sinto melhor!

Obrigada por toda luz que Deus tem jogado nas trevas que existem em minha vida através do senhor!

Espero um dia ter o coração confiante, pacificado, cheio de discernimento e sabedoria como o seu!

Carinho, 

__________________________________

Resposta:

 

Minha querida amiga: Graça e Paz!

 

 

Obrigado pelo carinho e pela confiança!

De fato, com o seu histórico familiar e com as expressões de vida de sua mãe e de seu pai, seria difícil que não tivessem ficado conseqüências psicológicas.

Seu problema não é falta de fé, é falta de fé madura para vencer as sensações psicológicas.

Sim! Pois fé você tem; ela apenas ainda não cresceu para enfrentar as SENSAÇÕES!

As SENSAÇÕES que você tem é que decorrem do sentimento de ABANDONO que você provou na infância.

Daí a experiência de não poder correr para um dos filhos, na praia, ter afetado tanto você. Além da coisa em si houve também o montante de sentimentos acumulados pela experiência do abandono parental.

Sobre ter problemas de culpa com o sexo ainda hoje, casada; e mais: sobre ter sonhado com seu marido e seu irmão violentando dois adolescentes, pergunto: além de ter transado com seu marido durante o namoro, e de ter feito isto cheia de culpa — houve na adolescência alguma experiência com você em relação ao seu irmão ainda que muito subjetiva? Mais: se não foi com você, teria você sentido que ele simbolizava isto em relação aos meninos mais novos do que ele? Ou ainda: qual o ponto de contato psicológico entre seu marido e seu irmão? Ou seja: em que ambos se assemelham para você?

Responda a essas perguntas e você começará possivelmente a entender o seu sonho.

O assunto importante, e passível de ser tratado por mim aqui e agora, é apenas relativo à questão fé versus sensação.

A espiritualidade evangélica é toda construída em relação a uma fé/sensação de Deus em nós e, ainda, em relação à “presença de Deus” ser medida por sensações boas de conforto ou de euforia.

Na espiritualidade evangélica Deus é do tamanho do nosso bem-estar.

Se a pessoa se sente bem, então Deus está bem nela. Se a pessoa não se sente bem, então, Deus está mal nela.

É assim que se entende e pratica; e mesmo quando já não seja assim que se entenda [como hoje é o seu caso!], mas, ainda assim, fica o eco inconsciente dessa crença latente.

Veja como você pode medir isto o tempo todo pelas manifestações dos crentes que mudam de “igreja” porque encontraram um grupo mais quente, mais pulante, mais empolgado, mais emocional, mais pentecostal, mais sensorial, mais qualquer coisa que arrepie...

As pessoas querem, antes de tudo, que a fé lhes cause boas sensações.  

O problema é que a fé não é sensação e nem pode ser medida por ela.

Entretanto, como fé é sensação para o inconsciente entupido de um evangélico, então, mesmo você sabendo que não seja, ainda assim os ecos de tal crença são muito fortes e perturbadores.

Se você, porém, começar a dialogar com sua alma, fazendo-a discernir o que é Deus e o que não é Deus em seu mundo de subjetividades, logo as coisas começarão a se acalmar.

Primeiro você irá discernir que paz é paz, não é ausência de mal-estar. Depois você fará diferença entre os bens da fé e os acúmulos da alma. Prosseguindo você verá que a fé trás paz em Deus em qualquer circunstancia, mesmo quando dói muito. Então, daí em diante, você poderá botar a alma no seu lugar, apenas dizendo a ela: Isso ainda é eco do passado. Fique calma minha alma. Estamos bem. Tudo passou. Acalme-se.

Todavia, a pratica de tal coisa se fundamenta exclusivamente na fé, e não mais em qualquer sensação de bem-estar.

Sentindo-se bem ou sentindo-se mal, ainda assim você saberá que a fé não é sensação; e mais: que as sensações são extremamente falsas e capazes de perpetuar zumbis psicológicos como se ainda fossem seres vivos para nós.

Leia também no site:

A FÉ QUE SALVA DA INSANIDADE

SIMPLES IMPLICAÇÕES DA FÉ EM JESUS

O QUE É A FÉ?

A FÉ E O AMOR NOS SALVAM DAS ILUSÕES MENTAIS

A ANGUSTIA DA ALMA QUE NÃO ESCOLHE CONFIAR

O CAMINHAR COM DEUS MEDIANTE A FÉ

ELES DIZEM QUE NÃO TENHO FÉ...

 

Ora, além desses textos há no site um sem número deles que falam do mesmo tema: fé versus sensações; e há alguns até mais específicos, mas não tive o tempo de pesquisá-los para você; mas estão no site.

Comece a exercitar-se no que lhe disse. E se as sensações tentarem sobrepujar sua fé, lembre-se: elas não têm como, a menos que você deixe que as sensações sejam interpretadas como falta de fé...

Pense, leia, medite e ore.

O mais irá entrando nos eixos de sua consciência bem devagar, mas assim será.

Receba meu carinho no Senhor Jesus!

 

Nele, que nos chama à fé que vence o medo e seus fantasmas de sensações viciadas,

 

Caio

2 de março de 2009.

Lago Norte

Brasília

DF

 

 

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