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Cartas

ESTOU COM INVEJA DE UMA MULHER (I e II)

ESTOU COM INVEJA DE UMA MULHER (I e II)



----- Original Message ----- From: ESTOU COM INVEJA DE UMA MULHER To: contato Cc: assessoria Sent: Wednesday, September 07, 2005 5:17 PM Subject: Ajuda! Estou passando por um momento difícil. Recentemente fui tomado pela inveja contra uma pessoa da minha Igreja pela qual eu nunca havia dado muito valor, talvez por ser mulher e por ser mais nova que eu, mas que começou a despontar dentro da congregação por executar um trabalho de discipulado com alguns jovens da Igreja e por dirigir um pré-vestibular comunitário que existe na Igreja, criado para pessoas que não tem condições de pagar um bom curso para se preparar. Esses trabalhos dela começaram a chamar a atenção do pastor, que passou a dar a ela mais atenção e espaço do que para os demais, principalmente eu, e até creio que como justa retribuição, afinal de contas, ela tomou a iniciativa de realizar esses trabalhos. Só que isso tem sido insuportável para mim, pastor. Creio que agora, depois de tudo que passei, já estou mais habilitado a melhorar, mas creio também que enfrentarei dificuldades até ser liberto e curado desses sentimentos. Desde que cheguei a Igreja, passei a ser uma espécie de “queridinho do pastor”, por ter vindo do mundo, por ter mais experiências para contar do que os outros (jovens), que sempre estiverem por lá. O pastor sempre ficou me alimentando, inconscientemente eu creio, de coisas do tipo: “você é muito inteligente; você tem um pensamento muito avançado; você tem um potencial incrível; àquela sua observação, comentário, idéia, foi genial!”, e etc. De fato Deus me deu alguns dons e talentos, como escrever, falar e criar, mas como me ensoberbeceu pastor, como me ensoberbeceu, o fato de eu achar que tenho algum merecimento nesses dons e talentos, como se não fossem dádivas de Deus para serem usadas para a glória dele, não minha. Resultado: passei a me achar muito especial e diferente dos demais, privilegiado, e conseqüentemente, superior. Movido pela inveja, que sempre esteve por trás de tudo, dei lugar ao diabo, levantando questionamentos contra essa mulher, argumentando que ela estava me tratando mal, com indiferença. Pode até ter acontecido, mas quer saber de uma coisa pastor, depois que o Espírito Santo me convenceu do real motivo pelo qual eu a ataquei, ou seja, a inveja, não me importo mais com o suposto comportamento que ela teve, não tem mais importância alguma. Tudo começou quando peguei o telefone e liguei para ela para saber por que motivos ela estava me tratando com indiferença, evitando ao máximo a minha pessoa na Igreja, como se isso fosse realmente o que estava me incomodando. Ela desabafou pelo telefone, disse o que achava de mim, que eu era um cara egocêntrico, arrogante, insuportável e chato, que achava que sabia de tudo, mas que na realidade não sabia de nada. Isso não me machucou não pastor, e sabe por que? Porque realmente eu estava sendo muitas vezes esse cara que ela descreveu pra mim no telefone. A partir daí eu entrei numa crise e já não conseguia mais sair, apesar de terem aparecido chances de escapar. Comecei a atacá-la pelo e-mail, mandando cópia dos e-mails para o pastor e para as pessoas que fazem discipulado com ela. Falei nos e-mails que ela me chamou daquelas coisas por telefone e disse também outras coisas acerca dela, coisas que ela tinha falado de outras pessoas em outras épocas. Mandei uns quatro e-mails, atacando-a. Fomos parar no gabinete pastoral, eu, ela, e o pastor. Eu comecei falando e disse tudo o que havia me “motivado” a agir daquela forma, ou seja, a forma pela qual ela vinha me tratando, pois a essa altura eu ainda não havia sido convencido pelo Espírito do meu pecado. Depois ela começou a falar e disse coisas que até agora estão me assombrando de vez em quando, pela frieza com que ela falou, o que é compreensível, pois ela estava machucada e com raiva de mim. Falou que fui usado pelo diabo para tentar destruí-la e seu ministério na Igreja, embora materialmente tudo tenha ficado intacto, tanto ela quanto a obra que ela exerce, não consegui destruir nada. Disse também que eu não era nascido de Deus, pois todo aquele que é nascido de Deus, o maligno não lhe toca, embora eu esteja de pé, perfeitamente. Fui para casa humilhado e remoendo tudo aquilo dentro de mim, esperando que Deus exercesse “justiça”, pois na minha cabeça ela havia me tratado mal e não tinha sido à toa que eu havia me portado daquela maneira. Quando cheguei em casa, mandei um e-mail, a pedido dela, para todas as pessoas que eu havia passado os e-mails falando mal dela, só que desta vez me retratando e exaltando-a pelo trabalho que ela exerce na Igreja e pelo chamado que Deus deu a ela. Esse fantasmagórico gabinete pastoral aconteceu numa segunda feira, e eu continuei revoltado durante todo o resto da semana. Pensava comigo mesmo: nunca mais volto naquela Igreja. Mas havia um peso pastor, um peso esmagador sobre mim, como se estivesse preso numa casa de máquinas, tentando golpeá-las. No sábado à noite, quando meu fôlego já estava começando a terminar e eu já começava a pensar até em suicídio, o Espírito Santo me convenceu do meu pecado, de que eu havia armado àquele circo todo por apenas um motivo: inveja! Reconheci que era verdade e o confessei. Comecei a ficar mais aliviado, pensei até em ir à Igreja no domingo de manhã, dia seguinte, mas estava sem coragem de encarar as pessoas, estava “coberto de vexame”. Por volta das 11 da noite, eu entro no computador e acesso a internet. Abro um programinha de bate papo, o Messenger, e de repente, quem entra em contato comigo? Ela, perguntando como eu estava. Sinceramente pastor, eu esperava qualquer pessoa do mundo, menos ela, por razões óbvias. Àquilo me constrangeu, fui até a sala e disse em voz alta: “não, eu não sou digno disso!”. Caíram como que escamas dos meus olhos pastor, e eu, pela primeira vez, me senti constrangido pelo tal amor de Deus que até então eu só conhecia de ouvir falar e cantar. Sabia que não merecia àquilo, que não era digno daquilo, sabia, tinha certeza! Mas enfim, começamos a conversar e ficamos por cerca de meia hora, e no dia seguinte, domingo de manhã, fui a Igreja e nos abraçamos. Lá na Igreja, no dia seguinte, durante os cultos da manhã e da noite, eu estava muito abatido, quebrantado, contrito, humilhado, envergonhado. Nesse dia, pela terceira ou quarta vez na minha vida, aceitei Jesus como Senhor e Salvador, apesar de já ter sido batizado e feito Profissão de Fé três anos antes. Mas isso não importa pra mim. Pela primeira vez, depois de muito tempo, nesse domingo e na segunda que se sucedeu, não tive nenhuma dúvida acerca da minha salvação, coisa que me vinha assolando já há algum tempo. Mas o céu não durou por muito tempo pastor. Já na terça, três dias depois, meu coração já estava novamente ensoberbecido, endurecido. Não perdi a convicção do meu pecado, que me levou a atacá-la, e também continuei convicto de que não era merecedor do perdão de Deus, sob esses aspectos creio que houve concorrência para o meu bem. Mas continuo brigando contra a inveja que tenho sentido dela e agora do pastor também; continuo brigando contra a indignação por ter me humilhado perante eles, quando pedi perdão por e-mail e reconheci a importância dela; continuo brigando contra mim mesmo para continuar indo a Igreja e ter que servir a Deus perante àquelas pessoas, principalmente os jovens, e quem sabe até sob a autoridade de alguns deles, especialmente a dela. Tudo isso é humilhante para mim pastor, pois soca o meu ego e o meu orgulho como o alho é socado até virar pasta. Deus permaneceu fiel depois disso tudo, na posição em que sempre esteve. Antes mesmo da guerra começar, já havia me convidado, através de pessoas da Igreja, para integrar o coral, servindo-o lá com a minha voz. Já participei de três ensaios e pretendo persistir. Algumas pessoas que eu considerava muito importantes para mim, e que eu achava que os havia perdido, por eles terem visto o meu comportamento, continuam falando comigo e me dando atenção, alguns deles até como se eu não tivesse feito nada. Continuei sendo solicitado para prestar serviços a Igreja, já que sou designer gráfico, fazendo a propaganda da Semana da Reforma 2005, e todos aprovaram. Deus abriu uma porta de emprego para mim num lugar excelente, para que eu possa desenvolver ao máximo os talentos que ele me deu nessa área de criação e computação gráfica, e assim, glorificar o seu nome. Tudo isso pastor, após a tragédia que eu cometi. Mesmo assim, dentro de mim continua latente: inveja contra fulana, raiva contra cicrano, decepção contra mim mesmo, etc. Graças a Deus agora vou sair da ociosidade através desse emprego que Jesus me arrumou, graças a Deus. Que coisa pastor, não deveria ser tão difícil assim, e nem é, desde que eu realmente queira mudar, mas isso implica em humilhar-me, e o que mais me incomoda, humilhar-me perante pessoas, pessoas que eu mal conheço e elas mal me conhecem, pois não fui criado lá na Igreja com eles, entrei já com vinte e cinco anos, estando agora com vinte e oito. Só pra registrar: Jesus me libertou do vício das drogas, maconha e cocaína, e foi isso que me cativou a ele, à Palavra de Deus, à Igreja. Bom, que Deus me ajude a cada dia a superar essa dificuldade para que eu possa continuar e ser transformado por ele numa pessoa humilde. Ore por mim pastor, para que eu seja liberto desses sentimentos: inveja, ira, soberba. Em nome de Jesus, amém! ____________________________________________________________ Querido amigo: Graça e Paz! Em primeiro lugar quero dizer que Deus ama você, e que nada disso será um problema se você se abrir para a verdadeira Verdade das coisas! Além disso, devo dizer que não farei grandes análises do que você escreveu (prato cheio para muita análise), mas serei objetivo e claro, e irei direto ao que sinto que é a essência das coisas. Portanto, não interprete mal a minha objetividade. Acho que a inveja nunca é inveja apenas, mas se faz acompanhar de profundas inseguranças, as mesmas que levaram você às drogas, especialmente a cocaína, mediante a qual o cara se sente “o rei da cocada preta”. Portanto, o tema da inveja nada mais é que a expressão da insegurança. No seu caso, todavia, pode haver um componente “paranóico”, ainda fruto do uso das drogas, especialmente da cocaína. Ou seja: as vezes a gente fica livre do uso das drogas, mas não tão facilmente das seqüelas delas. E uma das mais fortes, tem a ver com surtos paranóicos, e que muito se assemelham ao que você está experimentando. Dessa forma, e levando em consideração o “resultado dramático” de tudo (tempestade em copo d’água), e até mesmo sua confissão de que pensou em suicídio em razão “disso”, creio que o tema da inveja seja apenas a “desculpa-crente” que você arranjou a fim de não olhar mais fundo a questão. Não procurar ajuda profissional para tratar disso, pode deixar você em situação difícil com o passar do tempo; pois, tais coisas, tendem a crescer; e podem até esquizofrenizar a pessoa. Já vi pequenos sintomas como esse seu se tornarem coisas grandes e complicadas. Para mim, o que você descreveu, antes de ser inveja, é distúrbio psicológico, e merece tratamento, tanto de um psico-terapeuta, quanto também de ajuda e supervisão psiquiátrica, com auxílio de medicamentos. Me chamou atenção, também, seu caso de amor com as posições e cargos na igreja, sua competição com a mulher, e sua disputa pelo amor, atenção e afirmação do pastor, sem falar que sua inveja teve a ver com a perda de espaço na liderança da moçada jovem. Sinceramente, sua avidez por tais coisas parece ocultar outra coisa, mais séria, mais grave, e muito mais conflituante. Digo isto porque, além de tudo, achei estranha a sua disputa com a mulher. Homens, em geral, sentem inveja de homens, não de mulheres—digo: na maioria esmagadora das vezes! No entanto, é comum gays não assumidos sentirem inveja de mulher! Assim, pergunto a você: Qual é a sua real orientação sexual? Seu silêncio sobre mulheres, tendo na única mulher mencionada uma competidora sua, não revelaria que você disputa espaço com alguém “igual”? Ou seja: estou sugerindo que você pode não estar querendo lidar com outra coisa, e que, neste caso, seria a sua homossexualidade. Seja sincero e me responda o que perguntei. Somente sabendo mais de você é que poderei tentar ajudá-lo. Fico no aguardo de sua resposta! Um abração! Nele, em Quem somente a verdade nos faz bem, Caio ____________________________________________________________ ----- Original Message ----- From: To: contato Sent: Friday, September 09, 2005 6:14 PM Subject: Re: Ajuda! Querido pastor Caio, Sinceramente não esperava receber uma resposta sua tão cedo, pela quantidade de solicitações que você recebe. Vamos então esclarecer a sua principal indagação: meu interesse é por mulheres, pode acreditar! Não é nem o caso dessa menina, que na verdade é uma menina de vinte e um anos (pessoa da inveja). Mas Deus sabe, e digo isso sem medo de colocar o nome de Deus nisso; que o meu interesse e a minha esperança é que Deus um dia coloque ao meu lado uma mulher que me ame como eu sou; embora eu saiba que preciso melhorar muito no que diz respeito ao meu comportamento, para que essa pessoa possa conviver comigo. Tive impulsos homossexuais desde cedo! Ora eu relutava, ora eu cedia, mas nunca tendo relações, a não ser com mulheres, até chegar perto da minha libertação do vício das drogas, na pior fase da minha vida, por volta dos vinte e três anos, quando tive algumas relações com travestis. Isso sempre me deixava muito mal, abatido, humilhado, pois no fundo, não queria isso pra mim. Sempre gostei de mulher, sempre me interessei e muitas já se interessaram por mim. Saí com várias, tive relações, sempre gostei. Graças a Deus, desde que Jesus, há pouco mais de três anos, me libertou das drogas, também fui liberto de qualquer tipo de contato sexual com travestis e nem procurei mais nada disso; mas tive relação com mulheres. Tenho feito terapia e acompanhamento psiquiátrico há mais de um ano, tomando medicamentos, e já me ajudou a superar muitas barreiras. A questão toda é medo, insegurança mesmo, etc. Mas tenho aos poucos, através das manifestações de carinho de Deus para comigo, aprendido a confiar um pouco mais nele. É tanta coisa, pastor, pra falar, que não caberia aqui. Não tem como eu fornecer muito suporte pra você me ajudar através desses meios, é muita coisa. Espero que o pouco que eu disse já o ajude. Que Deus o abençoe! Abração, ___________________________________________________________ Meu querido amigo: Graça e Paz! Obrigado pela resposta sincera, como sincero foi meu questionamento! Vamos lá então! Você disse que seu assunto e sua vontade racional se fixa nas mulheres. Porém, mesmo assim, disse que teve “impulsos homossexuais desde cedo!”. Também disse que “re-lutava”, que desejava muito, mas se continha; até que no tempo em que as drogas o “liberaram”, você soltou a franga, e teve contatos com travestis. Ora, travestis são a melhor desculpa para alguém com pulsões homossexuais, mas que não quer fazer sexo gay com alguém que pareça homem. Portanto, os travestis são ideais, posto que são homens, mas se assemelham a mulheres, quando são travestis “bem feitos” de corpo. Assim, pela descrição de sua carta, o que vi foi um homem que não quer ser gay, que odeia idéia, que quer gostar de mulher mais do que gosta; posto que sem dúvida há algo a ser tratado neste particular em você. Não creio que você seja gay. Creio, todavia, que por razões que não me foram contadas por você, algo, em algum tempo, lhe suscitou tais desejos. Se eles já tivessem nascido em você, certamente você seria gay. Mas se não nasceram, então, algo inclinou parte de seu desejo sexual nessa direção também. Muitas vezes, meu irmão, as forças psíquicas que nos habitam e constituem, ganham complexidades que nem mesmo nós poderíamos imaginar. Que seu problema de inveja da moça é insegurança, disso nunca tive dúvidas. O que me chamou a atenção foi o espírito “feminino” de sua inveja. A impressão que me deu de longe era a de um cara com interesses cheios de motivação feminina, e que estava competindo com a garota como uma menina compete com outra menina. Se você ficou livre das práticas homossexuais, agora, todavia, é hora de você se libertar do lado feminino de seu sentir. Pois, insegurança dá em todo mundo; porém, o modo de senti-la é que pode ser masculino ou feminino. Você disse: “... embora eu saiba que preciso melhorar muito no que diz respeito ao meu comportamento, para que essa pessoa possa conviver comigo”—, fazendo referência à mulher que você gostaria de ter como companheira. Ora, nenhuma mulher vai aceitar por muito tempo conviver com você, caso você não assuma um modo masculino de ver e sentir a vida. E mais: se não amadurecer nas suas expectativas e valores como homem. Quanto a ter sugerido que você procurasse ajuda psiquiátrica e psico-terapêutica, embora não soubesse que você já estava sendo atendido, teve a ver com o fato de que os “sintomas de sua inveja”, bem como as demais manifestações de seus sentimentos e grilos, me pareciam de natureza psicopatológica, com aspectos de natureza psiquiátrica, necessitando de intervenção medicamentosa a fim de acalmar e equilibrar você. Continue no tratamento; e, se desejar, mostre minha carta ao médico e ao terapeuta. Talvez os ajude no trato com você. Além disso, como falei antes, sua disputa de cargos na “igreja”, me falaram muito de sua necessidade de terapia ocupacional; posto que dado ao fato de que você está vindo de um luta séria contra as drogas e as pulsões homossexuais; e como na conversão você confundiu trabalho na “igreja” (com muitas ocupações) com serviço espiritual a Deus, então, se perder espaço na “igreja”, para você, é como perder espaço com Deus. E como você não entendeu que o Evangelho não é uma agenda de trabalho “para fora”, mas sim um monte de mudanças, conversões, e transformações “dentro de nós”; as quais, pacificam o nosso ser, e nos põem não no caminho do ativismo, mas sim da libertação. Olhe para sua inveja a partir dessa ótica de cura e de transformação, ajustando seu entendimento, buscando discernir a si mesmo com ajuda médica, e, sobretudo, dando prioridade à pacificação de seu ser, e não à ocupação eclesiástica de sua vida. Parece até aquela letra de música de quando eu era adolescente, a qual dizia: “Ah! Eu não posso parar. Se eu paro, eu penso. Se eu penso, eu choro...” Agora, deixo com você uma reflexão! Leia-a: Quem se alegra com os que se alegram e chora com os que choram, esse é próprio em tudo o que faz, pois, pelo amor, abraçou a realidade; e o fez sem medo, sem inveja, sem amargura, sem rancor, e sem competição. Somente o amor verdadeiro produz essa segurança para ser. Há pessoas que são capazes de chorar com os que choram, mas não são capazes de se alegrar com os que se alegram. No entanto, para todo aquele que se alegra com a alegria que a outros visitou, o chorar com os que choram é natural. E por que quem é capaz de se alegrar com a bondade que sobre outros pousou como alegria é também capaz de chorar com os que choram, sendo que o oposto—chorar com os que choram—não necessariamente faz a pessoa ser capaz de se alegrar com os que se alegram? Ora, é que é mais fácil para os inseguros serem humanos e amigos na tristeza dos outros—realidade que a todos nivela nesta existência—, do que na alegria desses, posto que a tristeza é algo de que todos têm farta experiência nesta vida, mas da alegria verdadeira poucos têm experiência. Assim, chorar com os que choram é mais fácil para qualquer um do que se alegrar com os que se alegram, visto que chorar com os que choram é identificar-se com o que é certo (o sofrimento), mas se alegrar com os que se alegram é ter a capacidade de celebrar o raro, o inusitado e o que não é natural neste mundo de dores. Todo aquele que é capaz de se alegrar com os que se alegram é também capaz de chorar com os que choram, porém, nem todo aquele que é capaz de chorar com os que choram é também capaz de se alegrar com os que se alegram. Afinal, quem terá inveja da dor dos doídos? Mas da alegria dos alegres muitos têm grande inveja! Assim, se você deseja desenvolver boas coisas dentro de você, aprenda a alegrar-se de coração com os se alegram, e, assim, você ficará livre de toda inveja. Há, todavia, aqueles que “amam” você quando você está sofrendo, e que o “odeiam” quando você está feliz. Ora, todo aquele que assim sente, é um invejoso em estado de luta permanente contra a sua inveja; daí viver em conflito, e de tal modo, que chorar com os que choram é a dádiva de um certo “melhor do seu coração”; e que acontece, inconscientemente, como camuflagem da inveja que o impossibilita de se alegrar com os que se alegram. Para o invejoso, mais difícil do que suportar todas as coisas, todos os sofrimentos e todas as privações da vida, é agüentar ver a bondade da graça de Deus se manifestar como alegria no coração de alguém que não seja o dele. O invejoso é capaz de se vestir de solidariedade quando vê o sofrimento; afinal, para ele, o ser solidário na dor é uma virtude de afirmação sua. No entanto, se alegrar com os que se alegram é uma afirmação feliz acerca da bondade de Deus sobre um outro. E disso somente os que não têm inveja no coração são capazes. Assim, conforme se vê, a inveja é uma merda, e sábio é todo aquele que de seu próprio coração varre toda inveja para sempre. Mas para que isto aconteça é preciso que a pessoa aprenda a se alegrar em ser quem é, pois, somente assim ela não terá inveja da felicidade de ninguém. Nele, que nos chamou para gostarmos de nós mesmos, e não apenas do que podemos fazer de bom aos olhos dos outros, Caio
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