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Cartas

ESPEREI UM CRENTE E ME ARREBENTEI...

ESPEREI UM CRENTE E ME ARREBENTEI...

-----Original Message----- From: ESPEREI UM CRENTE E ME ARREBENTEI... Sent: quinta-feira, 8 de janeiro de 2004 21:11 To: contato@caiofabio.com Subject: ABORTEI SOZINHA… Mensagem: Prezado Pastor Caio, Que a maravilhosa graça do nosso Senhor Jesus Cristo esteja contigo. Bem, pra iniciar não sei bem o que procuro obter escrevendo. Se oração, ou aconselhamento, ou apenas desabafar algo que não posso fazer com ninguém. Ou pelo menos não com alguém que tenha uma palavra cristã a me dar. Estou sofrendo muito por um motivo que talvez você ache que não seria necessário tudo isso. Mas estou. Sabe, me sufoca tanto que vivo procurando algo para aliviar, para poder respirar melhor. E vendo as cartas que você recebe e suas respostas a elas com muito conhecimento na Palavra de Deus, me fizeram procurá-lo para um desabafo e, se possível, em meio a tantas cartas e mensagens, uma palavra de conforto e uma oração. Bem, para que entenda o que me incomoda tanto tenho de começar a contar-lhe de bem antes. Desculpe, mas creio que a história será um pouco longa. Moro no sul do Brasil. Sou crente desde criança. Hoje, com 24 anos, sou a única na minha família. Procurei ter uma vida nos caminhos de Deus, embora os conselhos que ouvia de minha família fossem outros. Principalmente na área afetiva, com namorados. Mas apesar de todos os meus namorados na adolescência não serem evangélicos, Deus me ajudou muito a me manter firme nos mandamentos dEle. Porém, quando terminei com meu sexto namorado (aos 20 anos), vendo que realmente a vontade de Deus pra minha vida era que eu tivesse uma pessoa que amasse, e eu a ele, entreguei isso nas mãos de Deus, e me determinei a esperar por um crente, não importando quanto tempo tivesse que esperar. Passaram-se três anos quando, de repente, eu e um amigo de infância da igreja começamos a nos conhecer melhor, e a perceber que tínhamos muito em comum (e em comum com o que pedíamos a Deus também...); e começamos a namorar. Ele era o meu sétimo namorado; eu a primeira dele. Parecia um paraíso. Ele era perfeito: crente, carinhoso, me respeitava, e minha família o amava. Adorava crianças como eu, e me fazia serenatas. Um dia...creio que com dois meses de namoro, ele me revelou que sofria de depressão, e eu de pronto disse que o que tivéssemos de enfrentar juntos, o faríamos. Porém, com o passar do tempo íamos nos envolvendo de outro forma. Digo, de forma física. E apesar de todos aqueles namorados que tive, nunca tive esse tipo de relacionamento com nenhum; creio que porque sempre estava na defensiva com todas “aquelas mãos que eles tinham”. Mas por algum motivo, isso foi acontecendo entre a gente, de forma cada vez mais intensa. Íamos descobrindo todas as coisas juntos. E quanto mais intenso isso ficava, mais ele ia se mostrando ciumento. Pelas roupas, pelos amigos, pelos exs... Foi até um dia que contei que entre meus ex-namorados, teve um que infelizmente comecei a namorar com ele “ficando”; beijando-o antes de ser meu namorado. Ele indignou-se e acabou o namoro. Simplesmente meu sonho acabou assim. Por que? eu perguntava. Eu já me arrependi disso. E ele ficava repetindo que me via na igreja orando, lendo a Palavra, e eu agindo como se não fosse crente, fazendo "essa coisas". "Mas, péra aí? eu não me entreguei a ele, foi só um beijo, depois a gente começou a namorar..."—eu dizia. Mas era isso mesmo que ele achava errado. Enlouqueci. Não podia aceitar, era tudo minha culpa, por que fui fazer aquilo? agora perdi a bênção que Deus separou pra mim! Orei tanto pra Deus...me preparando pra alguém, mas acho que eu não estou preparada, eu não sou bênção pra ele como ele é pra mim. Insistia, ligava, chorava de manhã e de noite. Afinal, ele era o crente, a bênção de Deus. Então voltamos. E quinze dias depois, no meio da madrugada, ele bate na minha porta do quarto onde eu estava com ele, na casa de um pessoal da igreja, e diz: “Não dá! não consigo superar isso! É demais pra mim!” Então pegou o carro, e foi embora! E no outro dia de manhã lá estava eu no refeitório, com a cara inchada de tanto chorar, vendo as pessoas com pena de mim. Passamos um mês separados. Separados formalmente, porque saíamos juntos, sentávamos na igreja juntos, conversávamos horas no telefone como se fôssemos namorados. Até que um dia ele foi na minha casa, e disse: "Não superei aquilo, mas não posso viver sem você. Você me aceita mesmo assim?". Era tudo que eu queria, uma chance. Então voltamos. Passamos três meses maravilhosos juntos. Ele estava mais perfeito do que antes. Talvez toda essa maravilha me tenha dado confiança para fazermos o que fizemos: começamos a ter uma vida sexual. Deus me perdoe, sei o quanto errei e como magoei a Deus; mas nunca vivi algo tão intenso. Cada vez que me entregava, era corpo, alma, tudo. Tinha certeza de que ia ser pra sempre, o olhava, e pensava: "Este é meu esposo". Mas não tem como justificar um pecado, e creio que meu castigo veio bem depois. Num certo dia brigamos—algo que nunca tinha acontecido— por eu não ter ido a cidade onde morávamos, já que moro no interior e estudo na capital. Não fui por ter um compromisso com uma amiga; acabei ficando um fim-de-semana, e ele ligou explodindo, dizendo que eu colocava minhas amigas acima dele. E, aos gritos, por telefone, terminou. Eu estava no meio da festa de aniversário...chorando, tremendo... Foi muito constrangedor! Depois disso ele passou a noite me ligando para dizer que namorada ruim eu era, pois ele estava numa crise de depressão, e eu nem tinha percebido...estava festejando com minhas amiguinhas enquanto ele sofria. Foi assim a noite inteira. Dias depois ele me ligou dizendo que era tudo “fachada”, que tinha lembrado do motivo da nossa primeira separação—a história do meu “ex”—, e entrou em depressão, e fez tudo aquilo. Não acreditei no que estava acontecendo. Era um inferno. Todos me diziam que ele era louco, que devia esquecê-lo; mas eu achava que era minha culpa. Quis entregar meu cargo de professora da escola dominical, e quando a coordenadora foi perguntar o por quê, e eu expliquei; ela disse que não deixaria, que eu era uma crente sim, que todos errávamos, só que tínhamos que nos arrepender. E eu me arrependi, certo? Mas eu me sentia um lixo...pecadora; acreditava que não era mais um exemplo pros meus alunos. Mas acabei continuando a ensinar. Comecei a fazer terapia, e minha psicóloga me recomendou uso de medicamentos. Fui a uma médica e comecei com calmantes leves, que foram aumento gradativamente, até antidepressivos... Ainda voltamos e terminamos mais três vezes, pelas mesmas razões. Às vezes, voltávamos num dia e terminávamos no outro. Meus amigos e família começaram a se afastar de mim, pois não queriam mais se envolver, já que eu não ouvia os conselhos para me separar dele. Ele culpava a doença dele por me tratar mal assim. Então joguei a seguinte carta: ou você se trata, ou não voltaremos mais. Então ele começou o tratamento. Voltamos...e nenhum dos nosso amigos falavam mais conosco. Ele chorava muito por ser "julgado por sua doença", como dizia. Desta vez ele disse que me amava, coisa que nunca tinha feito antes, e que iríamos nos casar. Apesar de lutarmos muito para nos segurar, nossa relação sexual voltou com a mesma intensidade que antes. Até que um belo dia ligueipara ele e ele me disse o seguinte: "Tenho algo que há muito quero lhe dizer; é que desde que voltamos pela última vez, sinto que não gosto de você da mesma forma que antes.” E concluiu dizendo que tinha um desejo incontrolável por mim, e que precisava de apoio para as crises depressivas. Ainda disse mais: “O problema é que você me pressiona demais para dizer que te amo, e para me casar com você. Infelizmente, não dá mais. Estou decidido." Não acreditei no que ouvia. Pedi a ele pra ir dormir, pois no dia seguinte ele já estaria arrependido de novo, como das outras vezes. Eu dizia que ele não sabia o que estava dizendo. Mas ele insistia que estava decidido. "Você vai se arrepender muito do que está fazendo", disse eu e então desliguei o telefone. Que ódio! Como pode ser, como fui usada assim? Eu o conhecia desde criança, sei como ele era, cheio de mulheres aos seus pés querendo namorar, ficar, qualquer coisa. Mas ele sempre me dizia: "Não posso brincar com essas meninas, não gosto delas. Como vou beijar alguém que não gosto desta forma?" E ele nem sequer conhecia direito essas meninas... por que logo comigo? A amiga e confidente é que ele foi fazer isso? Não tinha lógica! por que logo eu? O pior ainda estava por vir. A única coisa que não esperava: descobri que estava grávida! “Meu Deus, isso é por tudo que fiz”—eu pensava. Grávida de um homem que me usava. O que diria disso a minha mãe? sua filha crente, grávida? Que testemunho, que exemplo?! Tantos anos querendo mostrar Deus a minha família, e é isso que vou mostrar agora? Que angústia! Meus amigos começaram a se aproximar de mim, mas eu não tinha coragem de contar. Ele tinha desaparecido da igreja, até abandonou seu ministério; eu não entendia por quê. Não queria ligar pra ele, pedir para encontrá-lo; já tinha me humilhado demais. Porém ele teria de saber, era direito dele saber que eu ia ter um filho. Agora no final do ano, ao chegar à capital de volta do fim de semana em minha casa, vi uma carta na porta do meu apartamento...com a letra dele. Nela ele dizia que tinha inventado tudo aquilo que me disse quando terminamos para me poupar de uma crise de depressão. Motivo: teria visto o meu ex-namorado na rua. O pior era o que vinha junto com a carta. Em meio a juras de amor eterno ele me pedia para abrir um pacote onde tinha as alianças com as quais íamos noivar no Natal. Era demais. Tudo que sonhei, tudo tão amargo. Tantas alianças que tive de outros...e “perdia” para não usar; mas a única que quis me veio de forma tão infeliz. Chorei amargamente toda a noite, e no outro dia, perdi meu bebê. A vantagem de se morar só é que se pode esconder tudo isso. O triste é passar por tudo na solidão de um apartamento. Dois dias depois fui a igreja, no culto de Natal. Eu estava numa euforia depressiva: aquelas que não tem razão. O vi lá...a primeira vez depois de tudo. Enquanto conversava com meus amigos, ele me tocou, e disse: “Oi, feliz Natal.” Eu disse “oi” e virei o rosto. Pra que fiz isso? Quando vi seu rosto decepcionado me invadiu uma tristeza sem fim. Fui pra casa e chorei a noite toda. No outro dia ele me ligou...primeira vez depois de tudo... desesperado...querendo conversar. Fui...e enquanto ele me explicava, entre lágrimas, que me amava e que fezera aquilo pra me preservar, eu soltei a bomba: "Estava grávida, mas perdi o bebê. Sabe como é, mal me alimento e aqueles remédios todos, acabei perdendo..." Que olhar vazio o dele! Sabia que o seu sonho era ser pai, e na carta que me mandara, ele dizia que tinha sonhado comigo grávida, e que no sonho, apesar de tudo, ficara muito feliz. Só me disse que nunca me usou, e saiu como que sem mais nenhum assunto. Hoje ele me liga sempre. Voltou a igreja, mas não falo com ele lá, meus amigos me proíbem. Amigos, posso dizer vindos do céu, que sacrificam seus afazeres para ficar vinte e quatro horas comigo. Creio que pensam que eu gosto que tenham pena de mim. Me sinto a pior das pessoas. Me sinto egoísta, mimada, pois tanta gente com problemas maiores, e eu "sofrendo de amor". "Nem que eu morresse você sofreria assim!", soltou minha mãe um dia desses. Que pessoa horrível que sou! Tanta gente morrendo...doente, e eu pensando no meu umbigo. Mas não consigo me levantar, não consigo trabalhar, estudar. Vou me formar na faculdade neste ano, mas mal consigo abrir um livro. Passei o ano novo dopada por remédios. Meu pastor disse que não tenho fé em Deus, pois quem a tem não sofre de depressão... As pessoas chegam-se a mim (as que mal conheço) e dizem que eu tenha fé, que Deus já tem o meu preparado pra mim. Dá vontade de gritar: EU SEI QUE ELE TEM, NÃO DUVIDO DO SEU PODER. MAS ESTOU CANSADA, FRUSTARDA, DECEPCIONADA, MACHUCADA. ME DEIXEM SOFRER A DOR QUE TENHO DIREITO!!! Passou-se um ano, mas parece que foram dez. Ele me pede para esperá-lo se tratar e poder ter um relacionamento normal. Eu sei que esperando ou não, será o que for da vontade de Deus. Mas será que sofrer tanto assim foi vontade Dele? Ou foi conseqüencia dos meus pecados? Tem um texto no qual tenho minha referência: "Enquanto eu calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos constantes gemidos todos os dias. Porque a Sua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de ossos." Sl 32:3 e 4. Talvez você esteja se perguntando: o que ela quer que eu diga? que conselho ela está pedindo? O que peço é somente o que de mais precioso alguém pode dar: sua oração e sua palavra de conforto. Por um coração que ama a Deus, mas sofre mesmo assim. Tenho o maior tesouro do mundo no meu coração, e lágrimas nos olhos. Estará isso certo? Não sei; mas o que sei é suficiente: posso não me perdoar, mas Deus já o fez. Obrigada por me ouvir (ou ler) e antecipadamente por orar e pela palavra confortante. Deus continue abençoando grandemente seu ministério. Carinhosamente, *************************************************** Resposta: Minha querida irmã: Graça e Paz sobre você! A sua é a segunda carta quase idêntica que respondo hoje. A outra veio do nordeste, não é exatamente a sua história, nos detalhes, mas a “dependência” é muito parecida. Primeiramente dou Graças a Deus pela “fria” da qual Ele salvou você. Você não tem a menor idéia do que é o inferno, mas certamente o conheceria muito bem se casasse com ele rapaz. Doente? Sim! ele é. Nem tanto de depressão, mas de algo muito pior: manipulação. O quadro dele é repetitivo. A história dele é óbvia. Os métodos dele são básicos. O uso que ele faz da depressão é flagrante. E a insegurança dele é doentia. Ficar com ele é casar com a doença. É adoecer junto. Veja a tragédia de sua viagem. Uns nomorinhos menos que normais, e a esperança das mulheres crentes: casar com um evangélico, não se por em jugo desigual com os incrédulos. Que inocência! É mais fácil acreditar em contos de fada! E veja a seqüência... Você veio de uma vidinha limpa e boa para remédios e médicos...tudo porque você um dia “ficou” com um garoto, e o beijou, só vindo a namorar com ele depois disso. Minha querida, quando desordens mentais se misturam com moralismo comportamental religioso, aparecem os piores e mais terríveis malucos da terra. E você já havia entrado nos mecanismos da doença dele. Parecia que era um favor que esse maluquinho estava fazendo a você. Que horror! E você se sentindo culpada de ter sido normal... Também quero lhe dizer que nós não somos marionetes de Deus. Ele não fica puxando as cordinhas e brincando de “vontade de Deus” com a gente. Ele deixa a gente viver, cair, andar, aprender, experimentar, curtir, sentir, processar, e continuar... Deixe eu dizer a você qual é a vontade de Deus nesse caso. Pretensão minha? Sei que não! A vontade de Deus é que duas pessoas que se amem e se desejem fiquem juntas. Se houver amor, nunca haverá “jugo desigual”. Se não houver amor, até um casamento com o anjo Gabrial se tornará insuportável. E amor não é aquilo que nos faz mal, é o que nos faz bem. Será que alguém pode amar uma pessoa de modo doentio? É claro que sim! Mas não é tanto pela entrega total—essa é boa!—mas pela dissolvência de si mesmo na doença do outro, a tal ponto que depois de um tempo a pessoa passa a se sentir culpada pelo outro ser como é, e tratá-la como a trata. Isso é doença! Você expressou muita preocupação com a opinião dos outros, com seu “exemplo e testemunho de crente”. Isso também é farisaísmo. O que vai ajudar os “seus” a encontrarem a Jesus é justamente o oposto: a sua verdade, sobriedade e amor sadio a si mesma e à vida. Nenhum genuína vida com Deus dissolve a alma de uma pessoa. Quando isto acontece é porque se está confundindo a vontade de Deus com os mandamentos da “igreja”. E, pelo amor de Deus, não ouça o que o pobre do seu pastor lhe disse: crente pode sofrer de depressão, sim. Somente quem não conhece a Bíblia—não digo nem a Palavra—, é diz uma bobagem dessas! Esse cara foi uma boa lição pra você! Aprenda agora que não há receitas, e que a gente tem que ficar com quem a gente ama, e com quem ama a gente de modo a nos fazer bem. Gostaria que além das minhas respostas às Cartas que você disse ler aqui no site, você também lesse as outras coisas. Sei que todas elas lhe serão úteis nessa hora. Agora, chega de culpas inexistentes. Você é de Deus e é normal. É jovem, e terá que viver a sua juventude com sabedoria. Não ponha peso demais nas coisas agora, pois chegará o tempo em que tudo será pesado mesmo. Você tem um diploma a receber, e uma vida inteira para ser feliz. Dentro de algum tempo você olhará para essa maluquice e saberá que eu tenho razão. Não procure um outro amor para se curar desse. Não entre nessa besteira também. Mas fique aberta. O que acontecer espontaneamente, não tema. Mas não vá se entregando. Também não vá para o outro pólo, o de ficar traumatizada com evangélicos. Evangélico é apenas evangélico. Não há nada especial nisso. Quando é gente boa, é bom. Quando não é, é pior que os incrédulos. A sabedoria é conhecer o coração, não os rótulos. Relaxe, sai de casa, vá à praia—sei que aí onde você está há ótimas praias—e curta seus amigos. Mude o disco... Novas músicas tocarão para você. Receba meu carinho e minhas orações. Você tem a idade de meus filhos mais novos. Nele, que não nos chamou para a escravidão, nem para a doença solidária, Caio
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