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Cartas

ELA É MARAVILHOSA, MAS NÃO A AMO!

ELA É MARAVILHOSA, MAS NÃO A AMO!

 

 

 

 

 

----- Original Message -----

From: ELA É MARAVILHOSA, MAS NÃO A AMO!

To: contato@caiofabio.com

Sent: Thursday, February 07, 2008 12:07

Subject: Eu e meu conflito.

 

 

"...os que têm mulher sejam como se não a tivessem...Pois quero que estejais livres de cuidado."
 

Amigo,

 

Tenho estado num conflito danado e com a alma angustiada. O motivo, meu namoro-casamento (Não somos casados, mas meio que vivemos juntos).  

 

O que tá pegando? Bicho, não há "sintonia" de vida entre nós, mais especificamente em relação à interpretação da vida como um todo. No que diz respeito à fé, esquece! Daí você pergunta prontamente: "E por que já não caiu fora?" Porque venho dando chances a mim e a relação re-avaliando se não tenho sido esquisito demais, "exigente" demais, neurótico demais, "cobrando" questões que não são essenciais numa relação a dois.

 

Mas aí eu lhe pergunto meu amigo: qual é o limite da insistência em se estar com alguém?

 

Ela, como mãe do filho dela, e como mulher é uma pessoa 10. Bom caráter, honesta, agradável, não é chata, simples, não apegada ao TER, mas...sem pretensões em SER.
 
Aí estão nossas grandes diferenças.
 
Não tenho problema algum em ter amigos de alma e do peito que não partilham da mesma fé que eu, mas, é plausível  eu me sujeitar a estar com alguém, bom caráter, honesta, agradável, não chata, simples, não apegada ao TER, mas sendo a postura dela em relação ao evangelho totalmente? Inerte, e mais recentemente, depois de um papo, descrente em vários aspectos acerca da divindade de Cristo. Ela, como vez por outra afirma, é aquele tipo de pessoa que diz: "Sendo fé, tá valendo. Todo tipo de fé é válida!" Obs: estas são afirmações dela! 
 
E aí, Jesus é mais um!

 

Do pouco que já conversamos, tentando eu explicar estes questionamentos e dúvidas bem básicas, não conseguimos ter acordo. Acho-a muito blindada e não é nem muito por uma questão de convicção de fé e sim por uma raiz cultural. Família de origem católica. Parece-me não ser uma demanda do coração dela, o entendimento e sede por Deus. (Minha percepção pode estar errada também!)
 
Nesta semana o filho dela, em um dia só, levou uma séria de acidentes... No último deles o irmão dela, católico, quase carola, bradou: "TEM QUE BENZER ESTE MENINO!" rsrsrsr... Tá bom, cada um faz como seu coração entende. Então, para provocar, numa boa eu perguntei pra ELA: "Vai benzer o menino quando?" E aí a mesma posição de sempre e sempre: "Ah! Eu não vou benzer não, mas se o tio desejar benzer pode levar. A fé do outro é o que importa e não vou entrar em atrito em família por conta disto".

 

Concordo que o respeito a fé do outro, seja lá qual for; merece respeito. Acontece (minha indagação) que ela não é minha tia, amiga e nem um rolinho. Sendo assim o que eu esperava, espero e entendo, é que é preciso um mínimo de sintonia para um casal andar em harmonia e não é o que tem rolado, já há muito tempo diga-se de passagem.
 
Tenho minhas falhas, minhas esquisitices, manias, etc... Assumo todos estes meus pecados, mas o que eu tô a fim é de crescer. De modo algum estou querendo me colocar como o cara "rumo a santidade". Mas não preciso neuroticamente ter uma relação estereotipada a fim de que os outros olhem e digam: “Que belo casal".

 

Tô fora!!!

 

Cara, preciso de ajuda também na minha relação com Deus: tenho sede, preciso de puxões de orelha diversas vezes, e tenho me sentido "órfão" com a minha mulher-namorada.  
 
 
Já me perguntei e questionei se em algum momento não estaria eu buscando uma "mãe" no relacionamento.

 

Rapaz, estou dando chances ao meu coração em entender, pois, se for o caso, eu sou o grande complicador nesta história! Pode até ser! rsrss...

 

E outra: sei que se assim continuarmos irei fazer mal a ela e não estou a fim de invadi-la para o mal; não quero subtrair nada dela.


 
Por conta disso tenho estado um pouco mais ausente na relação, não sido espontâneo com ela e, naturalmente, ela tem se queixado. Dou toda a razão para ela.
 
É rapaz, onde é que eu fui "amarrar minha égua"? rsrsr...Canseira.
 
Ah, tem outros aspectos, mas, em geral, tem rolado isso e não sei como agir.
 
Bjão,
 
___________________________________________
 

Resposta:

 

 

Meu mano amado: Graça e Paz!

 

 

 

Assim como o amor não se fundamenta em dogmas de fé religiosa, o casamento também não é um concurso de virtudes humanas.

 

Se ela fosse boa e legal como é, e, ao mesmo tempo, cresse em tudo conforme você crê, pergunto: Você acha que fora as brigas tópicas, seu coração estaria diferente em relação a ela como mulher?

 

Na realidade, mesmo que ela fosse assim, mas você a amasse e um dia tivesse sido apaixonado por ela, sua carta seria de dor, mas não de desistência e cansaço.

 

O fato simples é um só, mano: Você a admira em muitas coisas, enxerga a bondade simples e pura que dela emana; ama ter encontrado uma mulher tão gente boa; mas, de fato, não a ama como mulher para você, e para o resto da vida, mas apenas como alguém legal que gosta de você e que não faz mal a ninguém.

 

Uma situação assim não tem solução. Pois, como disse, mesmo que ela tivesse uma profunda experiência com Deus, ainda assim você estaria sofrendo por ter com a você a mulher perfeita, e sem saber a razão de não a amar com avidez física, psicológica e espiritual.

 

A gente pode ir amando pessoas a vida toda, mas sem jamais encontrar na outra pessoa uma fusão de ser, sentir e olhar. A maioria das pessoas ama por convívio e vida comum, mas não por terem sido atingidas por uma centelha especial.

 

Ora, me parece que ela é o tipo de mulher que consegue amar assim. Ou seja: ela também aprende a amar. Há quem se satisfaça com o casamento de amor aprendido. No entanto, o sonho humano é quase sempre ser objeto da flecha do amor, tendo a chance de sentir pelo outro, pelo menos por um tempo, a embriagues da paixão plena.

 

Em você, no entanto, pela sua repetição acerca de suas esquisitices, julgo haver algo mais; a saber: uma falta de decisão sua quanto a desejar ou não casar-se. Talvez você deseje mesmo uma “mãe”. Afinal, você se disse “órfão” da namorada-mulher.

 

Assim, se seu desejo é ter uma mulher que lhe seja também mãe, a menos que você desejasse ter com a mulher-mãe um caso apimentado, a sua atual companheira parece ser e estar perfeita no seu papel, pecando apenas por não atender suas demandas de mais profundidade no Evangelho e na consciência de ser.

 

Entretanto, pelo versículo bíblico que você transcreveu no cabeçalho de sua carta, vim também a pensar que talvez você não deseje se casar, e, que julgue toda essa demanda por casamento algo sufocante; e, portanto, não consegue prosseguir se embrenhando em nenhuma relação que deseje se aprofundar na direção do casamento.

 

Ora, não sendo nenhum trauma de casamento adquirido por qualquer sofrimento no ambiente da família; e não sendo um chamado de Deus para a vida celibatária [dom que em geral deixa o seu praticante livre de angustias sexuais, o que parece não ser o seu caso] — sobra a hipótese de que você seja um daqueles que ficam em estado de sufocação ante a possibilidade de perder a leveza do existir solteiro.  

 

O que sinceramente eu acho é que você deve deixar a moça livre, pedir a amigos comuns da fé que tentem mantê-la exposta ao Evangelho [que creio ser uma de suas preocupações], e ficar quieto um tempo; e mais: fugindo de relacionamentos fortuitos e sem significado.

 

E como você me disse em outra correspondência que poderia pegar um avião de 15 em 15 dias e vir aqui conversar comigo, sugiro que faça isto.

 

Você já leu o livro “Celebração da Disciplina”? Creio que ele seria bom para você nesta sua estação da jornada espiritual. Outro livro que hoje lhe faria bem seria “A Trilha Menos Percorrida”.

 

Não namore, não beije, não case, e não faça nada sem estar tomado pelo amor próprio àquele tipo de relação.   

 

Há muitos modos de amar. Mas o amor entre um homem e uma mulher tem que envolver pelo menos atração física e mental, admiração, alegria no convívio, e afinidades em geral. Sem isso fica impossível sustentar um casamento sem ser por mera obrigação.

 

Também não namore apenas para dar um atestado de normalidade para a família, os amigos e os irmãos na fé. “Têje fora disso também!

 

Fique em paz; pois, se seu coração tiver que ficar grávido de amor apaixonado por alguém que enxergue e sinta como você, será muito mais fácil que assim seja se você estiver tranqüilo e em paz.

 

 

Nele, que tem um jeito próprio para cada um,

 

 

Caio

 

07/02/08

Lago Norte

Brasília

DF

 

 

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