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Cartas

ATÉ QUANTAS VEZES SE DEVE PERDOAR O MARIDO?

ATÉ QUANTAS VEZES SE DEVE PERDOAR O MARIDO?

 

 

 

 

ATÉ QUANTAS VEZES SE DEVE PERDOAR O MARIDO?

 

 

Querido Caio,

 

Estou para escrever a meses, mas, enfim, acho que não fiz por temor, talvez para não ouvir o que na verdade preciso.

 

Fui casada por dezenove anos, creio firmemente que um casamento que foi feito por Deus por sua história, até chegarmos ao casamento. Coisas como... esperei em Deus para me relacionar com alguém durante anos desde minha conversão e depois a maneira como as coisas se desenrolaram.

 

Mas logo após o casamento, enquanto estava grávida de meu primeiro filho, desconfiei que ele estivesse me traindo com uma pessoa amiga e também ovelha.

 

Bom ele era pastor, recém ordenado.

 

Quando meu filho nasceu e eu ainda estava na maternidade, quando foi ele me ver essa pessoa estava junto, e ali tive como um clic que realmente algo estava passando... Enfim, após, questioná-lo negou.

 

Passamos por muitos problemas no ministério e essa pessoa foi desaparecendo da nossa vida até que tudo passou.

 

Em uma ocasião, alguém da igreja me procurou, dizendo que um líder havia se declarado para uma mulher da liderança e eu que deveria conversar com ele, que deveríamos conversar com essa pessoa...

 

Então meu marido me confessou que ele havia se declarado a essa pessoa; conversamos, o perdoei e, enfim, a situação se ajeitou.

 

Alguns tempo depois, para ser precisa, 3 anos depois do nascimento de meu filho, continuávamos no ministério e tínhamos uma relação muito morna...

 

Eu sempre fui passiva, apaixonada e crédula demais, estando grávida de minha filha, desconfiei que ele estivesse com alguma coisa dentro dele em relação à outra pessoa, e ele me negava, dizia que não... Enfim, essa pessoa se separou inclusive porque seu marido também desconfiou.

 

Foi um escândalo, mas sem provas e eu acreditei no que me dizia. Ela foi desaparecendo da nossa vida.

 

Nesse tempo já tínhamos uma boa vida sexual, mas tivemos grandes dificuldades no ministério...

 

Começamos um ministério novo, mas percebia nele uma pessoa sempre insatisfeita com tudo na vida. Por mais que fossemos bem, dentro dele sempre houve uma insatisfação básica, que existia nele mesmo em relação à vida. Nunca e com nada estava feliz de verdade.

 

Depois de mais cinco anos ele me confessou que na verdade ele havia me traído naquelas ocasiões, me pediu perdão e eu o perdoei.

 

Tudo já havia passado há tantos anos, mas disse ele que sabia que precisava confessar para ter paz com Deus e com ele mesmo.

 

Caio eu o perdoei, sofri muitas dores, mas o fiz de coração e confiava nele como se nada houvesse acontecido. Nunca contei a ninguém, porque o perdoei e acredito na suficiência do sangue de Cristo e ponto.

 

Vivemos bem, tudo parecia novo, ele resolvido e nosso ministério fluindo, ganhando almas, cuidando de pessoas.

 

Por minha vez, eu sempre me sentindo por demais reprimida, comecei a desenvolver coisas no ministério, nada que eu tenha abandonado a ele, meus filhos, mas comecei a me deixar ser usada, aceitar alguns convites para ministrar a palavra, coisas esporádicas, mas que me davam prazer. Prazer por fazer o que queria, e também por desenvolver dons que Deus me deu. Mas tudo o que fazia e que dava certo, percebia que o desagradava.

 

Conversávamos, mas sempre havia uma insatisfação nele, parecia não gostar que eu fizesse o que gostava e que também que acreditava que deveria fazer.

 

 Portava-me em submissão e nunca abandonei nada, tudo completamente lícito. Mas a posição dele quanto ao que pudesse fazer era tão forte que as pessoas de nosso relacionamento percebiam o quanto ele ficava mal quando eu fazia coisas que davam certo, e na realidade, sempre davam certo. Porque sou de Deus e já tinha chamado para o ministério antes de conhecê-lo. Inclusive ele sempre disse que talvez tivesse casado comigo apenas por isso.

 

Há três anos e meio, ele perdeu alguém da família dele.

 

A sua história familiar é muito traumática e a pessoa a qual ele perdeu era o seu elo mais forte. Foi criado sem sua mãe.

 

Daí por diante, percebi muitas mudanças em seu comportamento em todos os sentidos. Na família, na igreja.

 

Procurei compreender, entendendo que ele estava passando por problemas de perda e vendo que ele não estava sabendo conviver com isso que estava entrando em um processo psicológico de perigo.

 

Mas o nosso relacionamento foi ficando intolerável, ele foi mudando sua personalidade dentro de casa e de verdade estava tudo muito mal.

 

Então depois de alguns meses dessa perda o percebi demasiadamente ligado a uma pessoa, casada, que era demasiadamente intima minha; e isso começou a me implicar. E falava com ele, mas ele negava e dizia que eu estava louca e com mania de persegui-lo.

 

Alguns meses depois essa pessoa se separou.

 

Então, as coisas pioraram, e isso foi por um ano e meio se enrolando... Ele negava, mudava de comportamento às vezes, e a pessoa sempre íntima minha, amiga, de total confiança mesmo; eu a amava como filha, e era porque se converteu comigo, vi crescer e sempre amiga e companheira. Amiga de meus filhos; enfim, uma pessoa muito querida mesmo.

 

Fiquei em uma situação que parecia que ia ficar louca, fiz coisas horríveis com ele, falei coisas horríveis, só não surtei por Deus mesmo.

 

Em outubro do ano passado ele disse que iria se separar de mim e que iria deixar a igreja e perguntou se eu ficaria na igreja...; e eu disse: pra onde eu vou? Sendo que dediquei a minha vida a família e ao ministério.

 

Em Dezembro ele me deixou. Em Janeiro deixou a igreja e em fevereiro descobri que ele estava já morando com a pessoa em questão. Em março ele começou a me procurar dizendo ter se arrependido, mas mesmo assim quis me separar judicialmente; e fizemos; mas ele sempre dizendo querer restaurar o casamento, que me amava, amava a família e coisa e tal.

 

Fizemos várias tentativas, mas quando voltava, ficava tremendamente perturbado e nessas horas dizia voltar só pelos filhos e que ele tinha que tentar ser feliz. Quando voltava, dizia que voltava por mim e que me amava.

 

Olha passei maus momentos com esse vai e vem. Porque ele rompia com a pessoa e depois a chamava de volta, estava com ela queria voltar pra mim. Sem me dar paz.

 

Todo o seu plano de vida com a pessoa se frustrou, não moram mais juntos e também não sei como está na verdade o seu relacionamento.

 

Esse tempo em que ficávamos juntos foi muito bom, porque pudemos nos redescobrir de verdade, ficamos mais amigos, ele confessou tudo pra mim, tivemos dias maravilhosos mesmo, muito carinho, uma vida nova.

 

Eu acredito ter perdoado a ele, a ela também.

 

No que ele pode tem me ajudado financeiramente, não tenho problemas com ele em relação a isso, sei que ele faz o que está a seu alcance.

 

Da última vez que ele foi embora, ele foi dizendo que ele iria se consertar, que iria buscar o que realmente ele queria; mas que ele voltaria para ser só meu.

 

Bom, algumas vezes que temos conversado, ele me diz que me ama, embora eu não consiga entender.

 

Sempre conversamos, estamos morando em cidades diferentes. Ele não está feliz.

 

Pastor, tenho sofrido muito, muito e muito; tenho dores na minha alma que são inacreditáveis; estou decidida a seguir a minha vida; mas tenho que confessar que o amo e também o compreendo em muitas coisas, embora o cara tenha caprichado em desamor para comigo, com os filhos e com a igreja.

 

Fiz mudanças drásticas na minha vida: não estou mais no ministério; estou em período de cura, sozinha e começando de novo; trabalhando pra me manter, porque é claro com a pensão apenas nós não sobrevivemos.

 

Quanto à igreja, eu saí de lá, acho que nem preciso dizer que me deixaram pra lá; afinal, eu sou apenas uma mulher com dois filhos e traída... — não era nada.

 

Mas relevei isso, perdoei e estou aqui querendo viver de novo.

 

Abro o meu coração, pois tenho crises comigo mesmo. Às vezes não sei no que pensar, no que crer é tudo muito difícil pra mim.

 

Sei de verdade que cometi erros, mas também sei que somente esses não seriam o suficiente para todo o acontecimento.

 

De verdade acredito no amor de Deus, sou firmada na graça. Mas me pergunto no que devo crer, o eu devo seguir, sendo que acredito no que Jesus disse, que o que Deus uniu o homem não separa.

 

Sei que apenas estar lá na frente de um pastor não faz o casamento, mas tenho história, umbigo e tudo mais.

 

Conheço sua posição teológica sobre o repúdio.

 

Em Cristo

 

Obrigada

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Resposta:

 

 

Amada amiga: Graça e Paz!

 

 

Li sua narrativa com todo carinho e atenção, embora, ao final, não tenha conseguido saber se você apenas queria me contar para desabafar ou se desejava alguma opinião minha.

 

Eu não tenho “posição teológica” sobre o “repúdio”, pois, o “Repúdio” morreu na Cruz, com todas as demais leis que supostamente salvariam o homem, ficando não mais a Lei das leis para o homem, mas a Lei do amor no homem; o que nos faz dizer com Paulo que todas as coisas agora nos são lícitas desde que sejam verdade; e, portanto, carregam a força vital do que edifica e convém.

 

Assim, sem pergunta sua, mas vendo na sua dor a sua questão, digo o que penso, pois, do contrário, por que você me escreveria?

 

Você é uma mulher de coração e de fibra. Ama o amor. Ama os que você ama. Ama com responsabilidade e com coração misericordioso. Ama por saber que o amor é o caminho de Deus. Ama! Por isso, perdoa! E deve perdoar sempre; pois, o mandamento não é apenas para “mandar”, mas sim porque pela obediência ao mandado por Deus vem a vida; posto que todo mandamento de Deus é vida; e contra ele não há vida para nós.

 

Entretanto...

 

Vejo que seu amor está tomado da justiça de quem perdoa sempre!

 

Ora, quando o amor vira a justiça de quem ama, e quando essa é uma justiça inconsciente, a pessoa vai ficando sempre viciada no perdão como meio de afirmação; e, assim, o amor adoece...

 

É o amor como proteção; é o amor como justiça; é o amor como virtude; é o amor como poder; é amor como direito; é o amor como vontade de ir além do amor sadio e que se estabelece como amor pelo amor.

 

Ora, o amor é proteção; é justiça; é virtude; é poder; é vida; mas não é direito; e não é nunca algo que se faz mais por nós do que pelo outro.

 

Sinceramente: se ele arrepender-se de coração de todos os erros e pecados para trás, e se amar você mesmo, e desejar continuar... — creio que sempre vale a pena tentar.

 

A questão é: você o ama de modo sadio, ou o ama pela necessidade, como parece ser o caso dele?

 

Sim! Porque quando ele perguntou se você ficaria com a “igreja”, você disse: “Para onde irei?” E completou na carta dizendo que depois de tanto investimento no ministério e na família você não iria jogar a vida fora... — e, assim, continuaria...

 

Portanto, se para você que nunca dependeu diretamente do ministério a permanência nele se estabeleceu como necessidade, que dizer de seu marido pastor, que só viveu do ministério?

 

Ou não foi ele quem disse que só ficou com você em razão do ministério?

 

Desse modo, tudo na vida de um casal com o histórico de vocês, fica comprometido; pois, nesse caso, não se sabe nunca muito bem se os “retornos” são por vocês dois, ou se acontecem em razão de necessidades práticas, as quais, sempre são tratadas como amor, sendo que elas não passam de necessidades...

 

Perdão é algo que se deve sempre como amor e graça [é mandamento], mesmo quando por amor se perdoa aquele a quem não se ama mais como marido ou companheiro.

 

Perdão vem do Amor, e casamento vem do amor. O Amor é maior que o amor [leia: O SANGUE DE TUDO QUE SEJA AMOR É UM SÓ]; pois, o amor conjugal cabe no Amor, mas não o é em sua plenitude não passional; posto que o amor conjugal demanda certas trocas relacionais que o Amor sem conjugalidade não demanda de ninguém.

 

Ou seja: no Amor não há condicionalidades relacionais, mas no amor conjugal tais condições precisam existir; do contrário não será amor, mas apenas doença e dependência.

 

Assim, o homem que é o pai de seus filhos precisa ser perdoado sempre como homem; e o seu marido do mesmo modo, como homem; mas o homem que é seu marido, como seu marido, pode ser perdoado e devidamente dispensado do papel conjugal; e, mesmo assim, ser amado em Amor e perdoado conforme Jesus mandou; e, ainda assim, não ser mais para você o marido que sempre que disser “eu quero”, você tenha de querer também.

 

Ou seja: todo casamento que não casou, apesar de ter gerado filhos, não se sustentando em razão de si mesmo apenas [sem que “se recorra a razões” para se estar juntos], não tem porque ser sustentado se não se sustenta por si só. Pois, fazer com que o que não é tente ser, é como fazer de si mesmo quem não se é; e, assim, impor sobre a vida o que vida não é.

 

Assim, apenas pergunto:

 

Você ama mesmo esse homem ou apenas já se sente velha e cansada para ficar só?

 

Sim! Porque pode ser que seja isso. Todavia, se for isso, saiba: você se amargurará terrivelmente e envelhecerá como um fel...

 

Assim, não pense na Lei do Repúdio, mas sim na Lei do Amor; e, desse modo, pergunte:

 

Não fora o fato de que tenho história e umbigo com ele; hoje, livre, sem nada além de nossa história, eu ficaria com ele?

 

Se você disser que “sim”, então vá...

 

Se disser que “não”, então pare e diga a si mesma: Chega de engano!

 

No segundo caso, seja amiga dele se tal amizade não lhe fizer mal...

 

Caso contrário: facilite a vida dele com os filhos, mas não se meta em nada e fique longe...

 

Pessoalmente acho que ele tem em você um porto seguro; um porto de perdão; e, além disso, vejo que ele tem em você a mãe que acolhe sempre; posto que ele é um meninão bobo e dês-crescido emocionalmente.

 

Você quer ser a mãe dele?

 

Você quer ser a sacerdotisa dele?

 

Além disso, pense nos seus auto-enganos:

 

1.           Todos esses perdões públicos e ministeriais não são também afirmações de sua superioridade sobre ele?

 

2.           Aquele amor pelo ministério não terá também sido um modo de se afirmar sobre ele?

 

 

3.           Não estará você já acostumada a ser a “vencedora” em tais embates?

 

4.           Seu perdão não seria meio de vitória?

 

 

5.           Seu amor não seria também a sua própria justiça nesse caso?

 

 

Assim, pouco importa minha posição “teológica sobre o repudio”; pois, de nada importa o que já não tem importância. De fato, o que importa mesmo é a sua posição verdadeira sobre o que você sente pelo seu marido e se isso justifica o amor ou apenas firma a doença relacional de vocês. Portanto, eu é que desejo saber a sua posição sobre a vida, e não sobre o Repudio da Lei de Moisés.

 

Pense! Ore! E responda!

 

Com todo carinho e com toda a vontade de que minha carta lhe faça algum bem, despeço-me Naquele que de ninguém se dês-pede,

 

 

Caio

 

09/09/07

Manaus

AM

 

 

 

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