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Cartas

AS DUAS URSAS DO MEU PASTOR

AS DUAS URSAS DO MEU PASTOR

Meu amado irmão: Paz! Responderei suas perguntas dentro do seu e-mail. Certo? ************************************************** -----Original Message----- From: H. A. Sent: domingo, 31 de agosto de 2003 18:51 To: contato@caiofabio.com Subject: O pastor disse que vai mandar duas ursas para pegar quem não obedecer... Mensagem: Pastor Caio, Visito quase que diariamente o site e tenho lido sobre os vários assuntos aqui abordados. Isso tem aguçado minha percepção cristã acerca das pessoas e seus problemas, das instituições religiosas e até mesmo da Palavra de Deus; e realmente tudo o que você diz faz sentido. Apenas gostaria de perguntar algo um pouco mais conceitual, que não tenho conseguido sintetizar por completo, e acredito que poderia me ajudar. Lá vai: 1) Sou membro e diácono de uma Comunidade (citou o nome da comunidade; e acrescentou: “talvez você diga: bem feito!?”) que usa muito o Velho Testamento, e dele tira muitas doutrinas e justificativas para o que seus pastores fazem. O mesmo vejo acontecer com as igrejas que têm encerrado o povo debaixo da lei, essas mesmas que você vem “mostrando”. PERGUNTA: Estamos no tempo da Graça. De que maneira se pode entender e até mesmo ensinar sobre o VT sem fazer ressuscitar a lei? Resposta: Eu prego o tempo todo sobre o Velho Testamento. Jesus fez assim. Paulo também. Ou de onde você acha que Paulo tirou o suporte bíblico dele para ensinar a Graça? A diferença é só uma: o fim da Lei é Cristo para a justiça de todo aquele que crê. Assim, a chave para se reler toda a Bíblia é o Cristo Encarnado. Foi a Encarnação de Deus em Cristo o que fez a releitura que Paulo fez do V.T. ser tão subversiva. Há um “eu porém vos digo” em tudo o que Jesus diz acerca da Lei. E mais: o modo como Ele cumpriu a Lei foi expressando a Graça. A Lei foi toda cumprida em Jesus conforme o espírito da Graça que Ele a manifestou em palavras e ações—gestos, tratamentos, atitudes. Portanto, quem já entendeu essa realidade básica—sem a qual a fé em Jesus não é nada além de uma crença supersticiosa e adoecedora—, não “usará” o V.T. para “ressuscitar” a Lei, mas para exaltar a Graça de Cristo. A Lei morreu em Jesus, na Cruz (Rm 7). Nós, no entanto, temos o testemunho da Lei e dos Profetas de que em Jesus Deus estava concretizando a Sua Promessa de ser salvador de todos os homens—conforme prometera a Abraão—, e que o que traria essa justiça salvadora não seria a Lei, mas a pura e simples Graça de Deus. Quem lê a Bíblia com o coração cheio da Palavra do Evangelho, não consegue mais ver a Lei, mas somente a Graça; e isso até mesmo nas regulamentações da Lei; pois, agora, eu as leio com a alegria de quem sabe do que foi liberto de tudo aquilo que nenhum de nós poderia cumprir. Então, ouve-se o Brado: Está Consumado! 2) O texto de Hb 13:17, bem como aquele que diz “credes nos seus profetas e prosperareis” são usados com freqüência para justificar a doutrina da obediência aos líderes. Qualquer tentativa de não obedecê-los já é rebeldia, rebelião, etc... na melhor das hipóteses o pastor diz que vai enviar 2 ursas para nos encontrar no caminho.... PERGUNTA: Qual o verdadeiro sentido deste versículo de Hebreus no contexto e situação da igreja hoje ? Resposta: Inicialmente devo dizer que o texto de Hebreus 13:17, diz o seguinte: Obedecei os vossos guias, sede submissos para com eles; pois velam sobre as vossas almas como quem há de prestar contas delas a Deus; para que o façam com alegria e não gemendo, porque fazê-lo de outra forma não vos seria útil. Portanto, “versão” de Hebreus que você usou é mais uma “adaptação” da “teologia da prosperidade” tão ensinada em sua comunidade, que eu bem conheço desde antes dela nascer como tal, e com as ênfases que adquiriu nos últimos 10 anos. Falei da “versão”, mas quem me conhece sabe que não estou nem aí para a “letra”. Qualquer um pode mudar tudo e dizer do jeito que quiser, só não pode é mudar o sentido do que está dito. Neste caso em questão não está “escrito” e nem está “dito” conforme está escrito. Cada um pode fazer a sua “paráfrase”, só não pode é “criar um outro evangelho”. A Teologia da Prosperidade precisa que o V.T. seja aterrorizador e que ele se mantenha em validade como Lei por algumas razões simples de se entender: 1. Se a T.P. pregasse a Graça ela não teria os “mecanismos de barganha” para propor. Afinal, se é Graça é tanto de graça quanto também é um favor imerecido, não há barganhas a fazer. Portanto, não há “trocas” a fazer; e muito menos um manual de receitas de prosperidade a seguir. Por essa razão nunca poderá haver “teologia da prosperidade” e Graça de Deus na mesma mensagem. Elas se anulam como conceitos. Na Graça de Deus há toda a prosperidade, mas na “teologia da prosperidade” só pode haver Lei; pois é da Lei que vem o medo, e é do medo que procede a “troca”. Se alguém crer na Graça de Deus, na mesma hora acaba o argumento da T.P. 2. A T.P. precisa se oferecer como um poder Mediador, como uma receita Messiânica de conquista. Sem esse “poder de argumento” ela fica morta. Daí o V.T. ser usado pelos pregadores desse “falso evangelho” como sendo a base de suas argumentações intimidadoras. Eles precisam ser os “sacerdotes” desse “pacto” com Deus, e a Lei precisa estar válida a fim de que prevaleça o medo; e os “fiéis” sejam ajudados pela “mediação” dos pastores da T.P. Assim, incluindo os pastores como Mediadores, a T.P. se tornou TPM, pois deixou os “crentes” nervosos e apavorados. 3. Sem a Graça o que prevalece é a “mecânica de apaziguamento do deus”. A T.P. é uma teologia pré-cristã e mais pagã que qualquer outra, pois, as demais, não usam o nome de Jesus. Ela, todavia, é anti-cristã na pior medida da extensão dessa minha afirmação, visto que usa o nome de Jesus a fim de falsificar o Evangelho da Graça de Cristo. 4. Ora, somente a Graça de Deus—o amor de Cristo—, é o poder que, sem Lei, constrange o coração a se dar voluntariamente, como agrada a Deus. Sem voluntariedade ninguém agrada a Deus. O medo não gera a devoção na qual Deus tem prazer. Esta é a razão “deles” terem que ter os “dois ursos”—conforme a narrativa dos animais que atacaram os meninos que zombaram de Eliseu no V.T. Sem os “ursos” eles não têm poder de mobilização e nem tampouco a certeza na qual possam basear suas “arrecadações”. Uma pessoa “voluntária” dá com liberdade. Uma pessoa “endividada” tem que “pagar”. Assim, para o bem do “fluxo de caixa” deles, tem que haver Lei, a fim de que haja uma “receita certa”. Desse modo “eles” têm certeza, enquanto os crentes têm medo. Você perguntou: Qual o verdadeiro sentido deste versículo de Hebreus no contexto e situação da igreja hoje? Resposta: Não mudou nada. Naquele tempo o que Hebreus dizia era: Aqueles que ensinam a Palavra da Graça a vocês—e era acerca da Graça de Deus revelada em Cristo que a epístola tratava—, devem ser ouvidos, pois eles exortam a vocês como quem sente a responsabilidade de conduzir vocês na verdade. Portanto, sejam submissos à verdade que eles ensinam—conforme a Palavra, não a verdade “deles”—; a fim de que o ministério deles não seja penoso e aflito. Ao contrário, submetam-se à Palavra espontaneamente, pois se assim não for de nada aproveitará a vocês qualquer obediência. Portanto, não era uma ordem para que se obedecesse a um “louco” qualquer—e nem à cabeça dele—, mas sim uma exortação dupla: a) para que se obedecesse a Palavra; b) para que em assim fazendo a vida dos “guias” não fosse uma dor, mas uma alegria—sem falar que qualquer obediência pela via do constrangimento não gera nenhum resultado espiritual diante de Deus. Dessa forma, meu amigo, eu concluo: Diga para o seu pastor vir falar comigo e trazer as duas ursas dele. Quem me guarda é o Leão de Judá. O resto é historinha para enganar seres amedrontados, e que caíram numa “malhadeira” perversa—uma rede—, que usa o nome de Jesus, perverte o evangelho, explora o fiéis, e ainda os ameaça como o fazem os feiticeiros da terra. 3) Até agora o que ouvi sobre a Graça mudou extraordinariamente minha vida, tirando de mim um peso enorme e que fora colocado pela instituição religiosa. Mas não consegui ainda relacionar algo: Como a Graça de Deus age em nós no sentido de amarmos as pessoas perdidas, de pregar o evangelho ? Isso se dará naturalmente através do testemunho de vida ? Pergunto isto porque a minha igreja tem sido incisiva neste aspecto, como se fosse uma lei do NT. Resposta: Meu amado, o que você acha que fez Paulo largar o judaísmo, seus privilégios religiosos, e sua nação, embrenhar-se na terra dos perigos, a fim de pregar aos que ainda não tinham ouvido—isto enquanto levava pedradas de seus próprios concidadãos, os judeus? Foi a Lei ou a Pregação da Graça de Deus o que o animou a ir ao mundo Pregar o Evangelho a toda criatura? E mais: por que a “Igreja de Jerusalém”—que ainda ficou bastante presa ao jugo dos religiosos judeus e dos cristãos judaizantes—não fez nada pela pregação da Palavra ao mundo, se comparada ao que Paulo, sem Lei, fez praticamente sozinho? Ora, a história mostra que é o amor de Cristo o poder que nos impulsiona a pregar com alegria—e não gemendo—, com genuína motivação—e não como pretexto—; e que é também o privilégio de ter recebido a revelação o maior estimulo que se tem para se que se anuncie a própria revelação. Eu nunca preguei a Palavra por causa de qualquer coisa que não fosse a alegria de pregá-la. Quem ama, fala. Você pode mudar o assunto dos apaixonados? ******************************* Obrigado pela paciência e boa vontade em nos ouvir. Sei que isso provém de uma paixão genuína pela verdade e de um inconformismo diante de tudo o que está aí de errado sendo ensinado, mas que, convenhamos, não passa de doutrinas de homens. Pastor, você nos ensina a pensar ! Obrigado! *************************************************** Meu querido, espero que tenha sido útil. Creia e viva em Paz. Não se deixe escravizar por homens. Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Nele, Caio
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