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Cartas

ANTES EU DAVA DERRAPADAS GAY. AGORA ESTOU EM QUEDA LIVRE!

ANTES EU DAVA DERRAPADAS GAY. AGORA ESTOU EM QUEDA LIVRE!

----- Original Message -----
From: ANTES EU DAVA DERRAPADAS GAYS. AGORA ESTOU EM QUEDA LIVRE!
To: contato@caiofabio.com
Sent: Thursday, October 07, 2004 1:59 PM
Subject: PELO AMOR DE DEUS ME AJUDE!


Mensagem:

Caio, sou aquele cara da carta que você intitulou, “Dei uma derrapada gay”. Como era previsível, não segurei a onda, mergulhei no parque de diversões da net, e minha vida parece estar descendo ladeira abaixo rumo ao nada, ou coisa pior...

Vivo numa expectativa terrível de que a qualquer momento vou começar a pagar um preço bem caro, por tudo que estou fazendo, pela irresponsabilidade de minhas decisões, pelo meu pecado.

Confessei tudo ao meu pastor, todo o meu drama,e não surtiu efeito nenhum. Acabei me afastando da igreja, estou sem rumo, infeliz, pois apesar de fazer tudo que minha carne/alma/vontade/sei lá/ quer, nunca me sacio; não me preencho. Meu casamento virou piada, minha esposa vive viajando com os parentes dela, meus filhos ficam com meus sogros, e eu agora não perco nenhuma oportunidade de me encontrar com qualquer um que esteja “a fim”.

O que me espanta é que tenho conhecido muitos “desviados evangélicos”, gente com dons, talentos, decepcionados com a igreja, querendo o prazer pelo prazer, alguns nem gays são, mas apenas curiosos, querendo experimentar sexo com outro homem.

Nunca pensei que fosse chegar a esse ponto, eu era tão moralista, abominava a promiscuidade... e agora sou isso.

Como faço para buscar arrependimento? Será que já não estou enquadrado naquela passagem que diz que aqueles que experimentaram o dom perfeito de Deus e retrocederam, é impossível renová-los para arrependimento?

Apesar dos filhos lindos que tenho, perdi a alegria de viver, e tenho medo que no futuro eles venham a se envergonhar do pai.

Caio você me disse que poderia voltar a te procurar quando desejasse, estou gritando por socorro, me ajude meu irmão, não quero continuar como estou. Já visitei algumas igrejas, já li livros, já chorei muito na presença de Deus, me sinto fracassado, sujo, indigno.

Meu pastor, aquele que já sabe de tudo, nem sequer me procurou para saber o motivo de minha ausência; é completa indiferença; acho que desistiu de me ajudar; até eu tenho tido dúvidas se existe um caminho de volta; pois foram tantos altos e baixos, reconciliações, quedas...

Sei que Jesus me ama, e mesmo como estou Ele tem sido Fiel, me guardando de coisa pior; mas quando tudo isso vai terminar?

Vai fazer quase um ano que te escrevi, passo por períodos nos quais penso que fui renovado; ai vem esse desejo infernal; e faço o que quero, sem pensar em nada ou ninguém.

Estou te escrevendo como amigo, irmão em Cristo, que gostaria de ter você por perto, quando sinto esse vulcão prestes a explodir.

Caio, me ajude, por favor. Tenho pedido oração para algumas pessoas; ou via net, me ajude...




Resposta:


Meu querido irmão: Graça e Paz!


O mundo gay está repleto de evangélicos. E a razão é simples: há milhares de evangélicos gays. Ora, como é abominável a um gay ser admitido na luz na vida da igreja, então, os milhares de gays evangélicos tentam se segurar e se esconder. Alguns até vivem de dizer que foram e não são mais... Outros casam e têm filhos, lutando para se esconder. Outros ficam solteiros para sempre, em constantes lutas e aflições. E, a grande maioria, acaba vivendo entre as angústias dos desejos e suas culpas, passando por "derrapadas", ou por surtos anuais, ou, entregando-se à promiscuidade. Ora, a promiscuidade, além de dissolver o indivíduo como o veneno de uma caranguejeira, também põe a pessoa na zona de risco das "coisas piores", que são a AIDS e outras doenças graves. E o pior: as coisas são mais assim entre evangélicos do que entre os gays de um modo geral. E por que? Porque quanto mais abominação, mais a natureza negada se internaliza como sombra. E essa sombra cresce e se torna densa, e espera para se derramar como num dilúvio.

O que eu estou dizendo—e digo a todos—é que gostaria que todos os homens gostassem de mulher, e que todas as mulheres gostassem de homens. No entanto, por razões que a mim não me concernem ter sequer a presunção de explicar—embora "abundem" as teorias—, existem gays no mundo. E a maioria deles não pode ser acusada de pederastia ou desejos tarados que sejam ameaça social, mas têm seus desejos apenas direcionados para o semelhante no gênero, e de modo consensual. Além disso, tais inclinações não se manifestam apenas como desejo sexual, mas, sobretudo, como única capacidade de experimentar o amor romântico a não ser com outro homem—ou mulher, no caso de mulheres gays. E é aí que está o nó da questão.

Gays evangélicos ficam mais promíscuos porque se sentem infinitamente mais culpados. É pela força dessa culpa que mais promíscuos ainda se tornam. A culpa põe o indivíduo exatamente em seu próprio caminho: o caminho da culpa. E como ele se sente uma abominação, julga a si mesmo abominável, o que lhe faz achatar terrivelmente a auto-imagem, e, conseqüentemente, o torna um carente que expressa sua carência como promiscuidade; até porque tudo isto tem de ser “rápido”, na sombra, no oculto, sem identidade, e sem promessas de continuidade. Então surge o vício no rodízio e no tremor do desejo absurdo e absolutamente abominável, e que invade a alma como um demônio, com as fribilações de excitamentos incontroláveis. E a pior sedução é a sedução do abominável.

Assim vive o gay evangélico! Vitimado pela sua própria culpa, e culpando-se cada vez mais, até entrar na tara ou no cinismo. E isto tudo porque a igreja se nega a admitir que existem gays nascidos dentro dela, em seu útero; e também que eles precisam apenas ser tratados como todos os demais seres humanos, e deixados livres para tentarem conseguir o melhor que puderem da vida, também, como qualquer outro ser humano.

Estranhamente, é somente quando o indivíduo se assume e traz tudo para a luz, é que as sombras—e que carregam todas as características de uma sombra; ou seja: projeção e ampliação de uma realidade-objeto muito menor do que a projeção—dão lugar à realidade; e esta, uma vez redimensionada, pode ser enfrentada com propriedade, e sem as covardias do monstro que emerge do mar do inconsciente como sombra apavorante.

Assim, o que você tem que fazer é difícil, mas é o único caminho de saúde e paz. Você precisa se assumir, e tratar a tudo isto na luz. Paulo disse que tudo o que se manifesta é luz. E tirar isto da sombra, saiba, por mais doloroso que seja, ainda será a sua salvação-saúde.

Isto implicará em tratar do assunto com sua esposa, e fazê-lo, de preferência, com ajuda psico-terapêutica. O impacto será enorme, mas sua alma estará muito mais protegida para poder ser trabalhada na Graça e na luz da verdade. Do contrário, você irá mergulhar cada vez mais profundamente nesse abismo de culpa, e o resultado será isto aí multiplicado por muitas vezes isto ai. O que é, na maioria das vezes, insuportável.

É melhor você ser quem você é do que ser quem você não é. Você é melhor do que qualquer não-você em seu lugar, por mais que a igreja se agrade mais do seu “eu-fantasia”, e que é seu disfarce de clone da igreja.

E uma vez que você venha e traga tudo para a luz, estranhamente, esses desejos compulsivos vão desaparecer; e, também estranhamente, você se perguntará: “Onde estava aquele monstro que me perseguia?” Então, você descobrirá que não quer promiscuidade, mas apenas afetividade.

No entanto, trate disso com a seriedade de quem não quer fazer muito mal à alminha dos filhos. E caso sua esposa não tenha estrutura para lidar com o fato, então, apenas proponha separação; e seja o mais responsável possível com ela e com os filhos. Mas não faça nada sem conselho e ajuda.

Quanto a se você está perdido, saiba, você nunca estará. O que está acontecendo é que você está no inferno, embora não esteja perdido. É que a culpa e o estado de promiscuidade geram esse sentir de juízo e fogo vingador, produzindo essa horrível expectação que você está experimentando. Mas saiba que o Deus de toda Graça pode acalmar sua alma, e dar a você a paz para esperar e buscar, sem aflição, a pacificação de seu ser. Quem confia, experimenta.

Quais os contornos que isto terá, sinceramente, eu não sei. E nem você. Sei, todavia, que mesmo não sendo o ideal, será, com certeza, bem melhor do que o inferno que hoje sopra angústia de morte sobre a sua alma.

E tratar disso não significa confessar culposamente a um pastor que se escandaliza com a situação. Quem se escandaliza jamais poderá ajudar. Somente os serenos podem trazer alguma contribuição.

Você é capaz de crer que o amor e a graça de Deus cobrem o seu pecado, sombra, culpa, e contradição? Se você crê, então, creia e descanse. Tal descanso começará a desativar esse mecanismo de compulsão.

E, por favor, não fique pedindo oração pelo assunto. Pois poucos orarão com verdade e discernimento, e a maioria apenas espalhará a fofoca como doença contagiosa.

Procure um profissional e abra a sua alma toda. É urgente. Se você morasse aqui perto eu pediria que me procurasse.


Receba meu carinho e minhas orações.


Nele, que é cheio de misericórdia,



Caio



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