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Cartas

A ANGÚSTIA DO PASTOR

A ANGÚSTIA DO PASTOR

     

-----Original Message-----

From: A ANGÚSTIA DO PASTOR "B"

To: contato@caiofabio.com

Sent: segunda-feira, 29 de setembro de 2003

Subject: Tenho medo

 

 

 

Li atentamente a carta "A ANGÚSTIA DO PASTOR 'B'" e confesso a minha dificuldade em compreender o Pastor "B", mas me emocionei ao perceber que existem pessoas com angústias parecidas com as minhas.


Estou longe de alcançar as dificuldades por que passa o Pastor "B"; afinal, não me considero um "virtuoso"; apenas percebo as dificuldades da religião no trato com seus fiéis...


O texto realmente me ajudou, e me fez atentar para buscar viver na fé.


Minhas angústias continuam aqui... Tenho "medo" de relativizar a Palavra e me afastar da vontade de Deus; no entanto, quero estar livre na busca por uma vida mais íntima com Pai.


Desculpe a intromissão e a ignorância.

Um abraço.

 

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Resposta:

 


Meu amado: Coragem e Confiança!


Ame a Jesus.


Tenha a Cruz no Centro de sua vida.

Creia na Ressurreição dos mortos.

Saiba-se salvo pela Graça livre, de Deus.

Ande pela fé.

Ore com a simplicidade das crianças.

Sirva a Deus em amor ao próximo.

Não julgue a ninguém.

O que você não compreender, não discuta e nem se deixe afligir.

Mantenha o coração crente no amor de Deus.

E saiba: os homens só complicam. O resto é comentário.

Quem age e crê assim, não precisa temer nada.

Um beijão,


Caio
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Segue a carta mencionada acima.


-----Original Message-----

From: Pastor “B”

To: contato@caiofabio.com
Sent: terça-feira, 22 de julho de 2003 17:11

Subject: Des-construíram minha fé!

 

 

 

"Então, eu fazia 'saques' do meu próprio passado para poder viver o presente..." — foi o que você disse.

Pastor Caio,

 

 

 

Como me identifico com suas palavras!

Sempre me sinto assim!

Meu coração ardia em chamas pelo Senhor.

Tinha temor de Deus, ansiava pela sua presença, amava a Palavra...

O amor desvaneceu-se, o temor desapareceu e a fé ruiu...

Busquei com afinco o estudo, des-construí as Escrituras e quase não consigo mais crer em nada!


Clamo que Deus interfira!


Que me prove a sua existência... e só experimento um profundo e dilacerante silêncio!

Vivo a experiência da ausência de Deus...

Prego a Palavra todos os domingos e me sinto hipócrita!

Andei por caminhos trôpegos, fiz coisas erradas e fico remoendo o medo de que descubram.

Os homens são implacáveis em seus julgamentos.


As mãos que hoje me aplaudem serão exatamente as mesmas que me apedrejarão.


Ainda creio em Deus, mas não tenho mais uma fé literalista, bíblica.


O NT parece-me uma "releitura" do VT.


Algo "forjado", "arrumado" para convencer...

 

Tudo o que eu queria era voltar a crer!


Tendo um amor puro, genuíno, vibrante pelo Senhor...


Não consigo mais!


A exaustão já tomou conta de mim.


Me sinto covarde e me retroalimento da minha própria vaidade, dos muitos elogios que recebo.

 

Não consigo largar a Igreja, mas também não consigo mais amá-la como antes...


Vivo "sacando" do meu passado para poder me arrastar no presente...


Se puder, por favor, me responda algo...


"B"


Obs.: O endereço eletrônico é fictício. Resolvi ocultar o meu nome verdadeiro.

 

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Resposta:


 

Meu amado irmão e colega “B”,


Não posso exatamente dizer que conheço esse lugar existencial-teológico-psicológico onde você está, pois, de fato, nunca estive nele. Não com os perfis e contornos que você apresentou.


Conheço muitos outros buracos...


Mas jamais me senti assim, e, nem, tampouco, experimentei tais conflitos em relação a Deus e à Palavra.


Depressão, já tive muita!


Tristeza de morte, só Deus sabe!


Culpa, meu Deus, o mundo inteiro se deu conta!


Senti culpa até do que não tinha culpa... Era meu modo de ser responsável com dores herdadas!


Acho que nunca tive problemas com a Teologia porque para mim tudo o que “gia” não me seduz.

 

Além disso, tive a benção de só entrar em seminário para dar aulas ou para falar como Paraninfo em cultos de formatura.


Você está vivendo a crise de milhares de pastores.

 

A diferença é que, Graças a Deus, você ainda está vivo, com a consciência ativa e sadiamente sofrida.


Que bênção, meu irmão!


O duro é quando você encontra aqueles caras para quem a religião virou apenas um negócio, e o pastor se enxerga apenas como um gestor de atividades nas quais ele não acredita; mas faz isso sem nenhuma perturbação ou conflito.


O que creio de coração é que você perdeu o romance com Deus e com a fé em razão de seu caso com a “igreja” e com a “teologia”.


Ambas são péssimas amantes!


O que transcrevo a seguir já estava escrito por mim, mas achei que poderia fazer bem a você.


Leia com todo o carinho, pois, é com sincera oração que transcrevo o que segue.


Que o Espírito abra seu coração e ilumine sua alma e espírito com a Luz da Graça.


Boa Leitura!

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A fim de não ser por demais exaustivo, quero apenas que você medite comigo num dos mais cruciais textos da Escritura: a tentação de Jesus no Pináculo do Templo!


Hoje em dia aquela tentação é comum-mente - e a mente, comumente, mente!— interpretada como sendo a do materialismo dos milagres e do carismatismo do poder de personalidades que impressionam por suas “mágicas sobrenaturais”.


Ela é vista também como a tentação do marketing da piedade pessoal — o que também é poder;

 

ou ainda, como a tentação de “encurtar” a longa estrada do discipulado e da vivência na Palavra, por uma “rota mais curta”, especialmente visando à auto-afirmação ministerial no ambiente cristão, ou como Eliú, entre os “amigos de Jó”.

 

Enquanto isto, no Pináculo do Templo Satanás deseja que Jesus dê uma prova irrefutável de que Ele é o Filho de Deus.

 

Era a violação da Lei de causa e efeito no mundo físico —“atira-te daqui abaixo”— a fim de estabelecer uma outra relação de causa e efeito: “Quebra deliberadamente o efeito e tu serás a tua própria Causa!”.


Ou seja: Satanás convidava Jesus muito mais do que para um Show Messiânico.

 

Ele convidava Jesus para o “Pináculo do Templo”, para aquele lugar de onde o “Querubim da Guarda” foi derrubado, tornando-se Diabo e Satanás.


Figurativamente, Satanás tenta colocar Jesus acima do Pai, no Pináculo de Sua Habitação!


Essa é a tentação de todos aqueles que desejam se afirmar acima de sua vocação e que desejam se tornar independentes de Deus no “lugar sagrado”.


E pior: é a tentação dos que confundem Deus com o “lugar sagrado”, que rejeitam sua situação de criaturas, que pensam que possuem auto-suficiência para cumprir sua própria missão e que se enganam pensando-se detentores da chave da vida, ou do significado pessoal de suas próprias histórias — baseados em suas próprias virtudes —, sendo que, na maioria das vezes, tomam para si também a prerrogativa de juízes de toda a vida na Terra.


E isto tudo fundados no sucesso de suas performances espirituais ou materiais.

 

Ora, Satanás também tem anjos a seu serviço. E se estavam disponíveis para o “sucesso do salto de Jesus”, não estariam também disponíveis para o sucesso da “igreja”?


Sucesso não é problema para quem disse “tudo isto te darei se prostrado me adorares”. E se fosse mentira, não seria, pelo menos para Jesus, nenhuma tentação!


A tentação é a possibilidade! Exatamente como lá no Jardim do Éden. Tanto era possível, que aconteceu! Tanto era mentira, que aconteceu sem realizar a promessa de Vida e Saber para o Bem!


As “verdades” do Diabo realizam o possível. O que não realizam é o impossível dos homens — e do Diabo também —, que só são possíveis para Deus; e, no caso, a maior impossibilidade da Terra e do Céu é a salvação de um homem por seus próprios méritos ou pelo apropriar-se das “possibilidades disponíveis”.


E isso pode se manifestar como objeto de fabricação espiritual, de invenção Moral, de autoglorificação, de saúde psicológica, de poder político ou eclesiástico, ou de qualquer outra coisa que tire você do caminho de ser de Deus apenas por Deus!


Em suma: a proposta de Satanás realiza qualquer coisa, menos a entrega verdadeira ao Deus de Jesus!


E, aqui, devo dizer o seguinte: Esta é especialmente a tentação do virtuoso, do artista, do intelectual, do psicólogo, do analista, do filósofo, do sacerdote, do pastor ou mesmo do monge!


Um homem com capacidade excessivamente “criativa” corre mais facilmente o risco de se con-fundir com o Criador num surto de autoglorificação do que os que “criam menos”.

 

E, na maioria das vezes, fazem isto até inconscientemente, e, por esse auto-engano, tentam “substituir” Deus pelas impressões de seus criativos corações.


Hoje em dia nós temos muitas justificações éticas, morais, teológicas, políticas e de natureza mercadológica — ou seja: marqueteira —, para nossa entrega freqüente aos “convites de Satanás” para que subamos ao Pináculo do Templo!


Todas são fruto da Teologia da Terra que é a sistematização teológica da Escolha de Adão. Afinal, é Adão quem decide assumir responsabilidade sobre o que é Bom ou Mal!


Neste sentido eu diria que a Religião — e nisto incluo, obviamente, o Cristianismo e todas as suas variáveis históricas — é a mais sedutora forma de tentação.


A Religião — que é sempre Teologia da Terra —, se “vende” como o meio de nos fazer “obedecer a Deus”, supostamente conhecendo o “bem” e o “mal”. Enquanto é apenas uma invenção humana que é fruto da obediência aos desejos de autojustificação ou fruto da mera neurose de obediência de almas não atingidas pela Palavra e pela Graça.

 

Ou seja: a inclinação normal do Homem Natural é para Religião ou para qualquer outra forma de autojustificação ou de autoglorificação!


A Religião pode até mesmo se tornar o esconderijo de almas amantes do mal, e que escolhem o melhor de todos os escudos para sua camuflagem: a Moral religiosa!


Quanto mais perto do Pináculo do Tempo se chega, mais entregue aos ventos dessa tentação nós ficamos! O mesmo se pode dizer da Moral ou, diluidamente, da Moralidade.


Afinal, o que o Diabo diz também é: “Prove, por você mesmo, e com seus próprios méritos, que você é Filho de Deus!”


Como criaturas nós também somos filhos de Deus e somos também freqüentemente tentados a fazer uma demonstração “milagrosa ou Moral” desse vínculo.


Note que quanto mais profunda é a filiação, maior é a tentação. Por isto, em Jesus temos o Ápice da tentação!


A tentação de Jesus foi total, bem mais total do que a de qualquer outro homem, por inúmeras razões, mas aqui veremos apenas uma:


A tentação é tanto mais poderosa quanto menos fragmentado for o ser! Seres excessivamente fragmentados sofrem fracas tentações. Eles caem muito porque ficaram do tamanho delas, todos os dias!


E no mundo atual, eu diria o seguinte: o homem comum, não cristão — seja ele intelectual ou de pouca condição reflexiva — sofre menos “tentação” que o homem “religioso”.

 

E o “religioso” — não importando o credo — sofre ainda menos tentação que o “cristão”.


O problema é que o “cristão” ainda tem que sofrer mais que a culpa — na maioria das vezes, mais neurose, que “culpa”; ou mais cinismo do que “paz”—, que é a presença semi-divina da “igreja”, que se arroga o papel de ser a detentora histórica do “bem” e do “mal”.


A “igreja” ainda não entendeu que ela se tornou a mais arrogante representante da franquia terrestre da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal! 


Ora, aqueles que habitam o “pináculo”, tornando-se escribas dos oráculos que de lá advêm, são aqueles que sofrem a pior tentação e é neles também onde ela cresce ainda mais.


Lembre-se, o próximo passo é a “interpretação da Escritura”, conforme uma “hermenêutica satânica”. Aparece, então, a exegese do Salmo 91.


Pois, então, lhe disse o Diabo: “Se és o Filho de Deus, atira-te abaixo, por que está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito, que te guardem; e: Eles te sustentarão em suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”.


E que ironia: no pináculo teológico e religioso a tentação é muito maior!


E nesse particular é bom que ninguém esqueça os fariseus e os escribas da Lei dos dias de Jesus. Eles eram homens do templo, sua piedade e religiosidade externas eram inquestionáveis;

 

suas boas obras, irrepreensíveis; suas esmolas e jejuns, impossíveis de não serem reconhecidos; seu interesse pelas Escrituras, obsessivo.


Mas, e daí?


Quanto mais uma pessoa se dedica à letra, menos se dedica à Palavra e mais distante fica de Deus.


A letra mata!


E, aqui, Satanás nos chama para a tentação do letrismo, do literalismo, das exegeses sem o Espírito, para os códigos de obediência externos, para o marketing religioso, para o exame anatômico das letras da Escritura para ver se “nela” encontramos o “espírito”— o inverso do que faziam os “materialistas russos” do século passado que dissecavam o corpo para demonstrar a inexistência do espírito —;

 

e, nesse ponto, Satanás também nos incita à “possibilidade” de escravizar Deus às “ordenanças de nossas profecias”.


Afinal, “está escrito!”


E neste aspecto, basta ouvir a programas cristãos no rádio ou vê-los na televisão, ou mesmo, basta ir à maioria das “igrejas de poder”, que se verá a “hermenêutica de satanás” sendo pregada.



É quando Deus tem que “obedecer” à Sua Palavra em sujeição à ignorância humana — o que é o de-menos em toda a história;

 

ou quando Ele tem de se tornar “cúmplice” da pilantragem realizada em Seu nome, cumprindo, supostamente, promessas que Ele não fez;

 

ou quando Ele é o “estivador celestial” que apenas realiza a “agenda” de curas e milagres que os agentes de publicidade e marketing da religião predefiniram.


E mais: isto acontece também quando Deus tem que cumprir a “Escritura”, que no caso foi objeto não só de exegese satânica, mas também teve seu aplicativo “cristão” muito bem “apropriado” aos interesses financeiros, psicológicos — no caso de “messias” que sofrem de surto religioso —  ou, “teológicos”, daqueles que dizem: “Deus não pensa assim!”


Neste último caso, é quando se “usa” a Palavra para se “construir” uma teologia ou uma Moral que reflitam não a verdade da Palavra, mas um exercício satanizado de capacidade interpretativa, fundado na doença Moral-psicológico-teológica do “messias”, ou “escriba” ou “fariseu” em questão!

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