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Reflexões

O VENTO DA ORDEM DE MELQUIZEDEQUE

O VENTO DA ORDEM DE MELQUIZEDEQUE



Quando eu era menino, via e ouvia minha avó materna, a “Mãe Velhinha”, protestante à antiga, dizer o seguinte: “... uma pena que a sua avó, Zezé, mãe de seu pai, que é pessoa tão boa, vá pro inferno. Ela vai pro inferno porque é Católica e adora os ídolos”. Aquilo me chocava. Vó Zezé era a coisa mais linda. E todos os demais outros “católicos”, tios, tias, primos e primas, eram seres humanos maravilhosos. Todos se amavam e respeitavam. Todos respiravam uma alegria digna. Todos eram suaves e graves. Todos eram próprios. Era e é bom demais! Por isso, sempre que ouvia as observações da “Mãe Velhinha”, ficava chocado! Depois, chegou a vez de ver o outro lado da história. Foi quando meu pai, bom católico-humanista-agnóstico, encontrou o Evangelho em Jesus. Ora, ele creu de tal modo que, ter visto o que a ele aconteceu, e também como ele andou com Deus, conforme sua consciência no Evangelho — foi, para mim, algo tão impactante quanto se eu mesmo tivesse caminhado com um dos apóstolos; dos mais lúcidos e profundos deles. Porém, o que aquela conversão tinha de bela, tinha também de chocante, provocante e visceral; pois, quem quer que tivesse conhecido meu pai antes, não tinha como negar que sua conversão era, em si mesma, um sinal de Deus entre os homens. Foi por essa mesma razão que o outro lado da família, o lado católico e lindo, manifestou uma atitude estranha, de início. Lembro a primeira vez que papai voltou à Manaus depois de sua conversão à fé em Niterói, em 1967. Quando voltou da viagem, o ouvi contar em lágrimas o espírito de rejeição espiritual que ele encontrará. Lembro de suas lágrimas e de suas dores. Também lembro que ainda menino, em Manaus, ouvia as histórias de como meu avô, João Fábio, havia sido um homem “humano”. Papai jamais deixou de ver seu próprio pai dessa mesma forma em qualquer fase de sua existência; nem depois de convertido; posto que a certeza da “humanidade” de seu pai era algo mais forte do que qualquer que fosse o pressuposto religioso que pretendesse condicioná-lo. Além disso, meu pai havia encontrado Jesus mediante a leitura pura e simples do Novo Testamento, sem mediação de ninguém no conduzi-lo à fé. Assim, quando ele foi à sua 1ª reunião de igreja, ele já estava bem consciente de sua conversão e do significado dela. Creio que nem eu e nem pessoas como o Rev. Antônio Elias e o já falecido e amado Rev. David Glass, jamais vimos ninguém crescer na fé como papai. Mês a mês ele dava saltos estelares de percepção. E mergulhava na leitura das Escrituras, nas orações e nos jejuns. Um dia, após a volta triste e aflita de Manaus, ele teve um sonho. Vira seu pai, João Fábio, na glória e no gozo de Cristo. Acordou chorando de glória indizível. Então nos disse que seu pai estava na glória. Ninguém jamais duvidou. E por que ninguém duvidou? Por que meu avô era bom? Por que era humano? Por que era irrepreensível aos sentidos humanos? Não! Jamais! Não havia na família também essa história de santos impecáveis. Havia pessoas integras e humanas; pessoas sem integridade e humanas; e pessoas sem integridade e desumanas. Era simples assim. Então, por quê? Na realidade meu pai fora profundamente influenciado pela espiritualidade do humano, existente em sua família; e, em sua conversão, não descartou tal olhar da vida; pois, desde o início percebeu que Jesus via tudo com a mais absoluta humanidade; daí o ter feito com toda divindade. Papai não explicava com palavras, mas com os olhos! Depois me esqueci de como fiquei encantado com a conversão dele e fui dar minha própria viajada “numa terra distante”; de tal viagem retornei apenas em julho de 1973. Durante minhas muitas viagens “na terra distante”, conheci muita gente; toda sorte de mentes e visões da vida — de pessoas que cultuavam ao Satanás Californiano, e que diziam que o Anti-Cristo já havia nascido, a lutadores de Jiu-jitsu lendários e que se tornaram meus mestres marciais; ou figuras intelectuais ou artísticas; não deixando de conviver profundamente com os “andantes da terra”, e que rodavam o mundo como hippies buscando “paz e amor”, além de muitas novas possibilidades de “expansão sensorial”. E o espectro de tais relações ia de caboclos aos filhos de famílias abastadas do sudeste; ia de gente sem dentes, porém pensante, a pessoas de ótima aparência, descendentes de figuras importantes na vida do país, mas que nem sempre pensavam com a profundidade profética dos desdentados. Que variedade humana! Quando encontrei e fui encontrado por Jesus, na história, à semelhança de meu pai, não deixei de lado tudo o que eu mesmo havia sentido acerca da experiência humana tão rica e diversa que eu havia tido. E também lembrei que o que mais chocava a meus amigos, de todos os tipos, era a facilidade que a religião cristã tinha para julgar e condenar quem não fosse “isto ou aquilo” ao inferno de fogo. Além disso, me recordava das dezenas de conversas que havia tido com alguns hippies, os quais sempre perguntavam: “E os índios?” Ou ainda: “E quem nunca ouviu?” Ou mesmo: “Será que Deus é tão pequeno assim?” — sempre fazendo referencia ao juízo da igreja sobre o destino de todos os “não batizados”, católicos ou protestantes; designações bem vivas à época. Quando me converti meu pai estava lendo um livro chamado “O Evangelho em Gênesis”, e me deu “O Apóstolo dos Pés Sangrentos” para ler. Depois de ter ficado profundamente impactado pela vida de Sadú Sundar Sing, chorando e comovido, comecei a leitura de “O Evangelho em Gênesis”. Foi quando encontrei algo sobre Jesus e Melquizedeque a primeira vez na vida. Embora a interpretação ainda fosse de natureza clássica, a espiritualidade do autor dava ao texto uma fala de intimidade com Deus, que acabou por me provocar o coração na busca de novas percepções. Foi daí desse ponto que comecei a ler o que havia na Escritura acerca de Melquizedeque. Acabei lendo e relendo a carta aos Hebreus; muitas vezes. Ora, a percepção de que Jesus era maior do que tudo o que a Abraão fora proposto; e, mais que isto, que Jesus era Sumo Sacerdote de uma Ordem Sacerdotal sem fronteiras de nenhuma natureza (pois é isto o que está dito) — acendeu uma grande luz em meu ser. Entretanto, me deu também a sensação de estar crendo em algo quase impossível de ser mencionado, visto que quebrava o arcabouço da “igreja”. Falei apenas com meu pai e um amigo. Porém, dois anos depois disso, quando fui chamado a escrever uma pequena tese de “ordenação ao ministério presbiteriano”, decidi escrever qual era, então, o meu entendimento acerca do Cristo Para Além das Fronteiras dos Homens. Ora, quase não me ordenaram. Foram três dias de discussão. Terminadas as querelas, meu pai me aconselhou a deixar o tema “na chocadeira”, para o tempo próprio. Ele disse: “Pregue no espírito do que você crê; mas não precisa mencionar o tema agora. Eles ainda não entendem, mas vai chegar o tempo em que entenderão. Então, nesse tempo, diga tudo; pois tudo tem seu tempo!” Fiz conforme me instruiu. Entretanto, entre pessoas ávidas, eu sempre falava no assunto. Mas o evitava quando o público era muito misto em seu entendimento. Havia em mim uma sincera boa vontade em relação à falta de entendimento do Evangelho na “igreja”. Entretanto, quanto mais lia a Palavra a partir de Jesus, tendo-o como “chave hermenêutica” para discernir e entender tudo dentro e fora das Escrituras, mais crescia também minha percepção acerca do Evangelho Eterno, e que é conforme Esse que é Sumo Sacerdote Segundo a Ordem de Melquizedeque. Naquele tempo já era forte em mim a certeza de que chegaria a hora na qual nenhuma outra percepção de Jesus se faria compreensível na Terra. Especialmente com a morte e falência do “Cristianismo”. “Muitos virão do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul”, de todos os tempos e Eras, “e se assentarão com Abraão, Isaque e Jacó” — em razão de que o que têm em comum, é Jesus; Segundo a Ordem de Melquizedeque. Digo isto porque creio que chegou a hora de dizer de modo cada vez mais claro qual é o meu entendimento acerca do Cristo sem fronteiras; e que é Segundo a Ordem de Melquizedeque — o Sumo Sacerdote de todos os homens e de todas as criaturas! Afinal, o Cordeiro de Deus foi imolado antes da fundação do mundo; por essa razão o Cristo Eterno, que se manifestou a nós Segundo a Ordem de Melquizedeque, é Senhor de todos, e não de alguns apenas. Ou quem é maior? Adão ou Jesus, o Segundo Adão? Ou quem é maior, Abraão e sua descendência, ou Aquele que abençoa a Abraão, que é sem genealogia, Melquizedeque? Pois se o 1º Adão é maior que o Segundo, então Jesus morreu em vão; e nós e mundo inteiro permanecemos em pecado e morte. E se Abraão é maior do que Melquizedeque, então quem não é da descendência de Abraão segundo a carne, está perdido. Ou então é melhor dizer que não se crê em nada disso, que foi um engano, e mudar de assunto para sempre. Jesus, porém, é o Cordeiro Eterno; e Ele mesmo é o Sacerdote Eterno; imolado para que pudesse haver criação Nele mesmo. Da imolação do Cordeiro nasce tudo; sendo que, na História, Ele se revelou à descendência de Abraão, a qual carregou o testemunho histórico de Deus entre os humanos como um povo; embora, Ele mesmo, o Cristo Eterno, não tenha jamais se deixado “conter” pela história e geografia do povo de Abraão; tendo, ao contrário disso, agido livremente, em cada geração, em todos os tempos e Eras. Pois, Nele, por Ele e para Ele são todas as coisas; e Ele nunca deixou de amar a nada que tenha criado. Por isto, antes de criar, Ele mesmo derramou Sua Vida como favor em benefício de todas as vidas que criava Nele mesmo. Este é o espírito da Ordem de Melquizedeque segundo o Evangelho encarnado em Jesus! E não posso negar que ele viaja livre pela vida, como vento; pois o conheci na infância, na casa de meus parentes; assim como o experimentei no meio de todos os caminhos, sempre encontrando gente que sabia do menino — à semelhança dos magos do oriente —, perguntando apenas “onde”, embora nada soubessem da Escritura. Os que sabiam da Escritura, nada sabiam do menino. E os que sabiam do menino, nada sabiam da Escritura. Eu queria conhecer o menino e a Escritura. E que alegria me dá saber que discernir e ter esse entendimento em fé — em si mesmo —, faz de mim um ministro da Palavra da Reconciliação, e cooperador de Deus no anuncio de Seu total perdão ao mundo; pois, Jesus venceu o mundo, chamando as culpas de todos para Si mesmo. É hora de anunciar Jesus sem as ataduras da religião. É hora de ensinar o significado do Evangelho a todos os homens, inclusive cristãos. É hora de falarmos do espírito da Graça, em Jesus, conforme a visão meta-histórica, e meta-meta... (tudo bobagem do palavreado humano)— que é o fato da criação ter acontecido no ambiente da Redenção e da Graça; pois as gerações que hoje estão presentes na Terra, e as que ainda virão, não compreendem e nem compreenderão mais outra forma de linguagem e nem de comunicação, se não esta, e que diz que o que é, é. Além de que esta é a verdade do que é. Cada vez mais o que importará será aquilo que é. Afinal, quem quer que pergunte “Quem Somos Nós?” (como no filme do mesmo nome), só se satisfará se responder a si mesmo aquilo que crê; e, nesse caso, quem é. Ora, eu sei que sou somente porque Ele é; assim, sou Nele! Há qualquer outra coisa importante a ser sabida? Sim, já que sei que Ele estava em Cristo, reconciliando consigo mesmo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões? Estranho! Quanto mais creio nisto, mais sei de mim, e mais em paz fico! É por esta razão que desejo ver o Evangelho anunciado e vivido diante de toda criatura em minha geração! Nele, Caio
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