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Opinião

ENTREVISTA ACERCA DO EMPRESARIADO CRISTÃO

ENTREVISTA ACERCA DO EMPRESARIADO CRISTÃO



O que segue são as respostas dadas a um periódico que estará em circulação. Como de costume, sempre publico aqui a integra de tudo o que digo em entrevistas. Eis o texto: __________________________________________ - O lucro é tido por empresários no Brasil como algo “sujo”, algo ruim, quando na verdade é nada mais do que o resultado de um trabalho, por exemplo. Qual a sua opinião acerca de como deve se comportar – ou deveriam se comportar – os empresários cristãos neste caso. Resposta: Há bons lucros e maus lucros. O bom lucro é aquele no qual todos ganham; ou, pelo menos, ninguém é explorado para que ele aconteça. É obvio que em todo o processo produtivo da civilização humana, não é possível pensar que alguma parte do processo não explore pessoas. Todavia, no âmbito da ingerência do empresário, especialmente no ambiente de seu negócio, o bom lucro precisa ser buscado; e ele é aquele que não apenas enriquece o dono do negócio, mas que enriquece também, na sua própria escala de capacidade, a todos os que participam do processo. O mau lucro é aquele que aparece do nada e vai para lugar nenhum. Ou seja: não se justifica como negócio (sinal maracutaia); e também não se faz distribuir, caindo sempre no buraco negro do bolso do empresário. Quanto ao significado do lucro, além do que é justo como participação de quem possui o negócio, dando a tal pessoa uma vida tranqüila e confortável —, o mais deve voltar para o crescimento do próprio negócio, a fim de gerar mais oportunidades sociais e econômicas para outros. Além disso, Paulo, o apóstolo, diz que se deve trabalhar também para ter com que acudir ao necessitado —; o que, de fato, é o maior agente de preservação da alma contra o surto de poder que o lucro exacerbado quase sempre produz no “empresário”. - Qual a sua opinião com relação a estes movimentos de espiritualidade que há entre os empresários. Que benefícios podem ser tirados daí, por exemplo? Resposta: De fato nunca houve um único movimento de “espiritualidade” entre os empresários “cristãos”. O que houve e há, são movimentos de proselitismo religioso. Ou seja: o objetivo é ganhar os “empresários” para a “igreja” (dinheiro, status, poder); e também para que estes integrem e dêem status ao próprio movimento de empresários que os “ganhou” para “Deus”. Além disso, sempre entram os elementos de política partidária. Isto porque os “líderes” de tais movimentos de empresários quase sempre cedem à tentação de impressionar políticos oferecendo a eles um “auditório seleto” de ouvintes “cativos” e capazes de seguir “instruções” — sempre supostamente por amor a alguma “causa cristã”. Assim, até hoje não vi um único movimento de espiritualidade entre os empresários cristãos. O que tenho visto é apenas o que acima disse; além de que também não vejo e nem vi até hoje nada que seja um convite ao crescimento da consciência entre os empresários cristãos. O meio empresarial cristão é um dos piores que conheço; e nele não vejo busca de alma, mas apenas de poder e de prestígio. Não há alma sendo nutrida no meio empresarial cristão. Infelizmente! - Que virtudes podem ser tiradas do Evangelho, por exemplo, para um empresário usar na gerência de uma empresa? Resposta: O Evangelho não é um guia empresarial e nem é manual de gestão de negócios. Na realidade o Evangelho manda que se abra os olhos para o poder que o dinheiro tem de se tornar “deus” no coração humano. O único ente espiritual que Jesus usou para designar “um deus” foi Mamon; ou seja: o dinheiro — e com ele todos os poderes que geram falso sentido de segurança no suposto possuidor de qualquer coisa. Assim, o Evangelho manda que o grande lucro a ser buscado seja aquele não é corruptível; e que, portanto, não é acumulável na Terra. No entanto, apesar disto, os evangelhos estão cheios de ilustrações de natureza empresarial ou monetária. Desse modo, Jesus ensina que o reino de Deus é semelhante a uma mulher que perdeu uma moeda preciosa e que a busca diligentemente até encontrá-la. Também nos diz que a quem já tem algo, a este os lucros e as oportunidades sempre virão em maior quantidade, pois negócio chama negócio. Ele diz também que guardar dinheiro sem aplicação e sem lucratividade é fruto de um medo que paralisa toda a vida. Dele também vem a máxima de que é melhor ter crédito de gratidão na praça do que um único lucro; visto que é isto que Ele também ensina na “Parábola do Administrador Infiel”. E mais: todas as parábolas do reino de Deus que envolvem cenários negociais (e são muitas) — o que se pede é que os administradores sejam justos, honestos, tratem bem os companheiros, e remetam os lucros a seu tempo. Paulo também fala do tema, e diz que o bom lucro gera gratidão, e que a gratidão produz generosidade, e esta se volta como benefício para aquele que iniciou o processo, no caso: o empresário. Entretanto, Paulo também diz que não se deve colocar o coração da estabilidade das riquezas, pois elas são instáveis; ainda que possuam o poder de cativar e escravizar mente e coração. Nada, porém se compara ao que Paulo diz: “Os que compram, como se não nada possuíssem; os se utilizam deste mundo, como se dele não se utilizassem; pois a aparência deste mundo passa”. Na realidade, se poderia escrever um livro sobre o tema. __________________________________________ Que ainda surja uma geração de discípulos que não somente sejam prósperos em tudo, mas que sejam generosos, sensíveis e cheios de consciência conforme o Evangelho. Nele, Caio
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