
BUSH E BIN LADEN: A GUERRA DAS CERTEZAS
A eleição de Bush me preocupa. Bin Laden disse: “ ... não está nas mãos de Kerry, nem de Bush e nem da Al Queda. Está nas mãos de vocês.” O que ele queria dizer com isto? Ora, ele dizia que na eleição os americanos estariam dizendo quem são.
Tudo o que está acontecendo tem a ver com a definição do que os humanos julgam ser mais humano, ou, no dizer moral, mais certo.
Chama-se a isto de “choque civilizatório”, mas é pura fanfarrice. O nome do mal é certeza do bem e do mal.
Tudo começou com a busca da certeza do bem e do mal. E tudo caminha nessa direção, em escala cada vez mais crescente, e que acabou por ganhar a alcunha de “Apocalipse”.
O Apocalipse é a consumação da busca motivada pela presunção da certeza do bem e do mal.
A História humana é a história das certezas do bem e do mal.
As nossas certezas matam. Só não matam as certezas humildes, e que são tão certas de serem quem são, que nem fazem guerra, pois, sabem sem duvidar, que nada se pode contra a verdade, senão em favor da própria verdade.
Aquele que é a Verdade não discutiu sobre a verdade nem diante de seu juiz, Pilatos. Antes fez silêncio. A Verdade é.
Mas são poucos os que conheceram esta certeza que pode fazer silencio. Este é o supremo poder de uma certeza.
As certezas arrogantes, todavia, são beligerantes, agressivas ou defensivas; sempre contra, e ininterruptamente assustadas; falam sempre em nome de um “nós”, uma coisa que é todos, mas não é ninguém; e que decide sobre todos; e é representada por alguns que se chamam “nós”.
A certeza do bem e do mal acabará com a Terra. Olho por olho; dente por dente: todos cegos e desdentados.
Por isto Paulo disse: “A fé que tens; tem-na para ti mesmo”. Qualquer que seja a fé ou opinião que se veja como verdade-em-si e para todos, sendo nós os juizes do certo e do errado, faz-se mentira.
O que poucos sabem é como um cara como Bin Laden vê o mundo. Eu andei muitos pelos paises árabes-islâmicos, durante anos. Freqüentei classes de Inglês numa Universidade da Califórnia durante meses com vários árabes mulçumanos. Fiz amizade com eles. Li o Corão mais de uma vez a fim de entende-los. Compartilhei o Evangelho com eles. Ficamos amigos. Almoçaram e jantaram em minha casa nos tempos de Califórnia. Enfim, sei mais ou menos como eles vêem a sociedade ocidental.
As certezas deles lhes dizem que acabar com a América e com boa parte do ocidente é uma obra de Deus, posto que a produção da sociedade ocidental é satânica, maligna, destruidora dos costumes antigos, e daquilo que é certo e verdadeiro.
Eles nos vêem como nós os vemos. Bin Laden vê Bush como Bush vê Bin Laden. Com a mesma certeza.
Assim, certos de nossas certezas marchemos para o que é certo: a morte!—é a risada do diabo se fazendo passar por um humano.
E se Bin Laden não quer se “desmoralizar”, terá que fazer algo que seja moralmente digno, e atentar de maneira horrenda contra a América. E se Bush desejar continuar a ser honrado, imporá a “liberdade e a paz” no Oriente médio, no Iraque, no Afeganistão, e no resto do mundo.
Assim, cheios de certeza e de dignidade, uns contra os outros, caminham os homens para a auto-destruição.
Tudo começou na Árvore. Tudo acabará sem arvore nenhuma. Haverá, todavia, para aqueles que confiam, a Árvore da Vida.
Esses são aqueles que sabem que não está nem nas mãos de Kerry, nem de Bush, nem da Al Queda. Mas sim nas mãos de Deus.
Caio