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Opinião

APÓLOGO DO CAIO: LÁ-LÁ-LÁ!

APÓLOGO DO CAIO: LÁ-LÁ-LÁ!




APÓLOGO DO CAIO: LÁ-LÁ-LÁ!

Um breve contexto histórico:

Esse texto foi escrito pelo reverendo Caio Fábio na primeira semana da primavera de 2006, na última semana antes das eleições daquele ano.

É um texto direto, apesar das metáforas bíblicas. Ele fala da sucessão presidencial, com uma áspera crítica a seu aspirante-mor que não tomou, antes, posse de seu lugar num debate televisionado.

O Lula não compareceu. Antes, não soube do que deveria. Depois, sabendo, não quis ser sabedor. Sabedoria? Sim, maquiavelicamente, sim. Uma sabedoria derivada do verbo "safar".

No dicionário:

Safar.

1. Ato de libertar de algo ou alguém; evitar ou escapar a determinada pessoa ou situação;

2. Ação de arrancar ou extrair;

3. Referente a apagar com borracha

4. Ato de furtar.

 

De onde deriva o termo 'safado'.

No dicionário:

Safado.

"Pilantra, não honrado, enganador, sem palavra, metiroso, aproveitador."

 

Bem, o fato é que o Lula se safou. Sua cadeira vazia deu um recado simbólico, sígnico.

Hoje, oito anos depois, ele toma assento nos debates. A Dilma cedeu-lhe o lugar. Uma usurpação consentida. Primeiro, não foi quando deveria. Depois, não deveria quando foi.

De fato, 'nosso heroi' é como Macunaíma: vence todas, mas não tem caráter.

 

Dilson Cunha

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APÓLOGO DO CAIO: LÁ-LÁ-LÁ!

Lula deixou a cadeira vazia. Nada sabe, nada explica — não respeita, e não vai. Sua cadeira no debate ficou tão vazia como vazia esteve esses quatro anos a sua cadeira no Palácio do Planalto. Sim, cadeira vazia. Vazia como as explicações de Lula-lá-lá-lá. Vazia como foi sua postura, sempre governando pelo vácuo e pelo vazio do “não sei”, que passou a ser sua única resposta. Lula, no debate de hoje, virou apenas um nome de fruto do mar. De um mar distante e sem sal, mas de lama. É um Lula que ‘nada’ como um Bodó do Amazonas — na lama das margens da corrupção.

Lula-lá...? Onde? Lula em lugar nenhum. Sim, quem foge de um debate por medo de acusações é o mesmo homem que foge de tudo apenas dizendo — “não sei, não sabia, são aloprados”.

Cadeira vazia no debate? Que para ele possa ficar vazia no Palácio! Quem teme explicar, não deve se assentar em cadeira de governar.

Se eu fosse criar algo semelhante ao Apólogo de Jotão que aparece na Bíblia em Juízes capítulo nove — eu o contaria ao contrário. Na Bíblia é o povo — “as arvores da floresta” — que busca um bom governante entre as árvores de vida e bons frutos, mas, pela omissão e em razão de benefícios pessoais, todas as boas árvores fogem de tal missão.

A Oliveira disse que não deixaria o seu óleo que Deus e os homens prezam a fim de reinar sobre as árvores da floresta.

A Figueira disse que não deixaria sua doçura e bom fruto para governar as árvores da floresta.

A Videira disse que não deixaria o seu bom vinho, que agrada a Deus e aos homens, a fim de governar as árvores da floresta.

O Espinheiro, todavia, aceitou a missão pela omissão das demais árvores boas — e o povo (ou as “arvores da floresta”) aceitou o seu governo de espinhos mentirosos e ausentes de verdade.

Eu disse que em minha parábola faria uma inversão dessa ordem. De fato, o que se tem tido é o oposto. Entre nós, no debate de hoje, tivemos não a Oliveira, a Figueira, a Videira e o Espinheiro sendo procurados pelo povo-árvore-da-florestas da sociedade brasileira. Não! Na nossa situação política, são árvores boas e más que vão ao povo pedir para governar.

Assim, no final, o que se decide não é por eliminação ou desistência egoísta das boas árvores (Oliveira, Figueira, Videira) — sobrando apenas a alternativa do Espinheiro, como na Bíblia. Ao contrário, entre nós, há boas árvores se oferecendo para governar. Mas entre elas também aparece o Espinheiro mau — o qual, pelo medo de ser quem é, foge, na esperança de que seus muitos espinhos não sejam vistos como espadas que se ocultam atrás de risinhos distantes e marotos.

Entretanto, a fim de melhor expressar o que nos cerca nesse espetáculo político, elejo outras figuras simbólicas a fim de expressar o que está acontecendo.

Temos a Estrela, o Tucano, o Sol, e a Rosa Vermelha. O povo os ouviu falando, exceto pela Estrela — versão atual do Espinheiro que prefere governar de longe, ferindo sem mostrar as pontas agudas. E, por isto, diz — “não sei, nunca me disseram, e os que fazem as coisas que não sei, são todos uns aloprados”.

E como a Estrela-Espinheiro deixou vaga sua cadeira de fruto distante do mar da ignorância — sobrou o Tucano, o Sol, e a Rosa Vermelha.

Veio o Tucano e disse: Com meu grande bico e com minhas belas cores, e porque sou eficiente no meu voar, quero governar sobre as árvores da floresta do Brasil. E agradou a muitos.

Depois do Tucano, veio o Sol. Quente. Agressivo. Cheio de importância. E apresentou-se como indispensável a tudo e todos; e tomado pelas certezas de quem tem luz própria, falou com ousadia e certa hostilidade. E muitos pensaram sobre escolhê-lo.

Por último, veio a Rosa Vermelha. Sem a natural pretensão da defesa dos espinhos que as rosas possuem, essa pequena flor não tinha escudo ou proteção, e menos ainda armas de ataque. Falava de educar as árvores, para que elas próprias tivessem direito a viverem e se plantarem em bons terrenos para as raízes da vida. Não se fez essencial. Não ofendeu. Não polarizou. Foi para com todos educado. Tão educado quanto seu amor pela educação. Quando provocado, reagiu com mansidão. Quando viu seus oponentes fazerem auto-propaganda, não agiu do mesmo modo. Quando falou, não disse de si, mas apenas o que a todos era bom.

Assim, pela educação, pela tranqüilidade, pela gentileza, pela consciência, pelo amor e pela bondade, a Rosa Vermelha e desarmada, construiu para todos uma redoma tão grande, que nem as mais altas árvores da floresta poderiam alcançar. Sim, a pequena Rosa Vermelha se agigantou pelo tamanho de seu Amor Solidário, pois nada pediu para si, mas para as árvores. Pediu que as árvores escolhessem o que lhes fosse bom.

Entretanto, como a Estrela distante, pela alienada e envergonhada luz negra que refletiu, não apareceu para se mostrar às árvores da floresta — muita gente preferiu o que não viu ao que se vê.

Afinal, a Estrela distante não foi ‘apenas’ porque pensou: “Não importa o que é bom para o povo, mas ‘apenas’ para mim. O que vou eu fazer lá, se posso ganhar sem nada explicar?”.

O povo-árvore, porém pensava: “O Tucano é belo e voa com eficiência. E grande é seu bico. Mas preferimos a Estrela, pois, só não veio até nós porque vive em alturas maiores. Também grande e belo é o Sol, mas é ardente, quente e intenso. Portanto, preferimos a luz da Estrela, que se cobre de nuvens, e em nada nos incomoda. E quanto à Rosa Vermelha, é pequena e desejaria ser doce sempre, pois até dos espinhos desistiu. Além disso, pede para andar em nosso peito, perto de nosso coração. Não gostamos de tanta mansidão. Afinal, em nossa floresta, os mansos não herdam nada, mas tão somente sua própria fraqueza. Fiquemos, pois, com a Estrela enevoada e encoberta pelas muitas neblinas e nebulosidades, pois, luz intensa não queremos, vôos de eficiência não entendemos, e a doçura da Rosa Vermelha que desistiu de seus próprios espinhos, é de muita elegância para nosso gosto. Fiquemos com a Estrela vermelha como o lua do Apocalipse. Fiquemos com a Estrela distante, pois, se voar é preciso, maior é sua distancia celeste que a performance do Tucano. E quanto a essa Rosa Vermelha e que quer, como um Cristóvão, descobrir na floresta um novo mundo, essa mesma não nos serve, posto que não desejamos singrar as águas e os oceanos da corrupção até encontrarmos o continente da bondade. Não podemos ser amparados apenas em pétalas de misericórdia, elegância e gentileza. Além disso, seria muito desconfortável termos que carregar no peito um signo tão frágil de amor”.

Assim, em 1º de outubro de 2006, as árvores da floresta, que ouviram de longe a voz abafada e a face nublada da Estrela distante e que nada sabe ou explica, preferiram suas promessas de uma cadeira vazia, mas que dava a garantia de que instalaria uns pequenos ‘chuveiros de família’ para as árvores mais fracas, e rejeitaram a educação que curava, e que era proposta pela Rosa Vermelha e que era desespinhada de qualquer hostilidade.

Entretanto, a Rosa Vermelha cumpriu sua missão, e o povo cumpriu seu “carma” — que é se deixar governar pelo distante e que não aparece apenas porque não tem coragem de dizer: “Eu sei, e por isto escolhi ficar de longe, pois o que sei é contra mim.”.

Este não é o Apólogo de Jotão, mas a Apologia de um Caio qualquer. E quem tem discernimento saberá que o que me visita é a certeza de que a bondade da Rosa Vermelha de Cristóvão é a oferta de uma dignidade que as árvores da floresta do Brasil jamais tiveram até hoje a vontade de experimentar.

Assim, que escolham a Estrela que caiu do céu do Apocalipse, como o povo de Jotão escolheu o Espinheiro. Sim! Escolham a Estrela das calamidades. E cujas propostas são feitas, pela distancia, de um monte de “não sei”. Porém, tal proposta não é apenas de distancia auto-protegida, mas também pintada de sangue e de maldade omissa, ou de participação enganosa.

Portanto, que digam à Estrelá-lá-lá: “Reina sobre nós; pois tua deliberada ignorância nos priva da necessidade de termos consciência.”.

E, assim, escolheram o candidato da cadeira vazia. E o que lhes veio foram mais quatro anos de muitas tristezas e calamidades. Mas para árvores acostumadas às “queimadas” — nada melhor do que as tochas ensandecidas da Estrela vermelha de calamidades que se justificam pela desfaçatez da ignorância que diz: “Eu não sei. São todos uns aloprados!”

Que fique registrado, para minha inteira responsabilidade, o que aqui digo.


Caio

28/09/06

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