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Opinião

AGORA JÁ É TARDE DEMAIS, COMPANHEIRO! -  com correções...

AGORA JÁ É TARDE DEMAIS, COMPANHEIRO! - com correções...




AGORA JÁ É TARDE DEMAIS, COMPANHEIRO!

Um breve contexto histórico:

Sabia ou não sabia? Eis a questão.

Foi deprimente ver Lula diante das câmeras tentando explicar ao país inteiro o inexplicável. Era muito cedo para seu governo estar então atolado até o pescoço em um escândalo digno dos "macaco velhos". O mensalão caiu-lhe no colo como uma bomba. Explodiu de dentro para fora.

Lula estava visivelmente transtornado. Olhar perdido, voz embargada e a dicção pior do que naturalmente já é. O PT estreava no banco dos réus. Nu em praça pública, em todas as praças... especialmente na praça dos três poderes.

"Fui traído", disse.

Fora tão mais fácil ser fiscal da oposição.

Ingênuo pensar que o perdoariam. O passivo era enorme.

O que Lula diria? A quem responsabilizaria? Sairia vivo dessa?

Sentiu-se traído porque não esperava o golpe. Mas a quem se referia como seus traidores? O Jefferson? Os companheiros envolvidos?

Mas seus Judas, diferentemente do Judas de Jesus, fizeram delação premiada.

Há muitos Judas nessa história. Há o distante, o Jefferson. Há os próximos, o companheiros. Aqueles que, por serem quem são, jamais deveriam trair. Mas há o pior dos Judas, o 'self-Judas', aquele que se constitui o "eu" da trama toda, a quem mais confidenciamos nossos segredos e menos enganamos. Nosso "eu" é um Judas honesto. É nosso mais íntimo Judas, o do auto-engano que no fundo, no fundo perturba nossa consciência.

Bem, nas já era inexoravelmente tarde.

O reverendo Caio Fábio - para quem o melhor que Lula tinha a fazer era zerar tudo, parar no primeiro mandato e se reinventar - o "traído não pode estar tão perto, para que possa não-discernir (o traidor); e tem que estar longe o suficiente para com certeza não saber. Somente assim se é completamente traído quando se é um líder."

História de trairagem fala muito mais do traído que do traidor.

Dilson Cunha

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AGORA JÁ É TARDE DEMAIS, COMPANHEIRO!

Dois dias depois de ter escrito o texto que segue abaixo transcrito, fui ao Palácio do Planalto em companhia de dois irmãos: Ariovaldo Ramos e Levi — ambos já tinham uma agenda definida anteriormente como Planalto, e que tinha a ver com a informação de que um movimento chamado “Democracia Viva” estaria tentando levantar 1 milhão de assinaturas contra o estado de corrupção no qual o país se encontra; ao mesmo tempo em que também pretendiam hipotecar solidariedade ao Presidente. O convite me foi feito pelo Levi. Eu já havia manifestado minha posição acerca da proposta do Democracia Viva, conforme pode ser lido aqui no site no texto “Pré 64”. Deixei claro a eles o que eu pensava sobre o dito movimento, e, expus claramente que meu assunto ali era apenas concernente ao que eu cria que poderia fazer bem ao homem Lula; visto que, sinceramente, para mim, o “Presidente” tem muito menos importância do que o homem Lula.

Gilberto de Carvalho, homem calmo e sereno, e que é Secretário Geral da Presidência da Republica, nos recebeu. Depois de quase uma hora e meia de conversa, Gilberto pediu que esperássemos mais 45 minutos, visto que o Presidente Lula estava gravando um pronunciamento à nação, e que, após a gravação, manifestara o desejo de dar um abraço e ter uma conversa conosco.

Expliquei ao Gilberto que, no que me concernia, não era conveniente por duas razões: a primeira é que “aquilo ali estava cheio de vampiros da mídia”, e que tudo o que Lula não precisava era de minha entrada naquele ambiente carregado de mentes tendentes a desenvolver o pior tipo de interpretação. A segunda razão era de natureza pessoal e ligada a convicções que Deus fixara em meu coração: o Lula que eu conhecera nunca havia falado de “política” comigo no curso de 9 anos de amizade, e que, quando me abordou pela primeira vez tocando no assunto, dentro de minha sala na Fábrica de Esperança, o resultado tinha sido o mais desastroso possível para a minha existência. Portanto, disse que orava por ele e com ele muito me preocupava como homem, mas que tudo o que eu teria de conselhos a dar a ele era o que já estava dito no texto que o próprio Gilberto já havia lido em meu site, naquela mesma manhã, enquanto conversávamos; e que, a meu ver, era a única coisa sensata a fazer ante os fatos que apenas começavam a se manifestar; os quais, eu, por razões que pertencem apenas a mim e ao meu Deus, sabia que haveriam de “pipocar” em abundancia, como hoje se vê.

Ou seja: eu sempre soube, de 98 para frente, que muitos dos que cercavam o Lula eram seres invejosos e nem sempre bem intencionados. Digo isto porque senti na pele a “fidelidade canina” (de cachorro doido) de alguns deles. Portanto, disse que se ele desejasse minha companhia e amizade, certamente que ela estava oferecida, mas não ao Presidente, sendo tão somente dirigida ao homem Lula.

Naquela visita algo muito irritou. Ariovaldo Ramos, meu amigo, e que trabalhara na Vinde comigo muitos anos, me disse que um certo dirigente do PT dissera que o Lula pedira que ninguém me levasse até ele, posto que todas as vezes nas quais ultimamente tínhamos estados juntos, eu só lhe trouxera “propostas indecentes”.

Ouvi aquilo e senti ira em meu ser, pois, Deus sabe que foi o oposto; e, por cujo “oposto”, me vi envolvido com algo que nada tinha a ver comigo, mas que “eles” deixaram nas minhas costas para ser o Bode Expiatório.

Fico triste com tudo o que está acontecendo ao Lula. Mas nem um pouco surpreso, de 98 em diante, com o que está acontecendo ao PT e a seus dirigentes de “fidelidade canina” (fidelidade de cachorro doido, covarde e dissimulado!).

Só Deus sabe o que vi, ouvi, e no que fui posto (contra meus apelos) por insistência cotidiana justamente de alguns daqueles que, quando o “bicho pegou”, sem hesitação, me elegeram para carregar a culpa de todos, os quais, foram muito mais longe do que aqui tenho liberdade para contar; posto que a justiça do homem não produz a justiça de Deus.

Portanto, apenas com o desejo de dizer que o que disse então (no texto abaixo transcrito, e que chegou às mãos do Presidente), é o que já não digo hoje, que aqui trago à memória o que antes eu propusera. Mas já é tarde, visto que, pelo apego ao poder, ele perdeu a chance de sair dessa de cabeça erguida para o seu próprio bem.

Hoje, todavia, me parece já tarde demais!

Eis o que disse. Era o que pensava que poderia naquela ocasião ajudá-lo. Hoje, entretanto, posso apenas orar por ele, e pedir que Deus tenha misericórdia de sua alma, e o livre do mal; o qual, não seria a bobagem de um “impedimento legal” apenas, mas sim a possibilidade de que ele, pela vergonha e pelo desespero, possa vir a fazer mal a si mesmo; e de modo irreparável.

 

Caio

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Todo líder tem seu Judas. No grupo dos Doze de Jesus, um era diabo. No entanto, se no Grupo dos Doze, aquele que se deitava no peito de Jesus (João), aquele que andou sobre as águas por Seu poder (Pedro), as mulheres que O serviam (Maria, Salomé, Madalena, etc), e os três que subiram ao monte da transfiguração com Ele (Pedro, Tiago e João), fossem todos Judas —; então, ficaria difícil entender qual seria o real discernimento de Jesus acerca da natureza humana.

Entre doze, um pode ser diabo. Mas se entre doze, os quatro mais íntimos são diabos, então, ficaria difícil entender a isenção de Jesus quanto a ter sido verdadeiramente traído.

O traído não pode estar tão perto, para que possa não-discernir; e tem que estar longe o suficiente para com certeza não saber. Somente assim se é completamente traído quando se é um líder.

No caso de Jesus, Ele sabia; mas sabia que era para ser “daquele jeito”; pois “estava escrito”. Desse modo, Ele sempre soube sem saber, posto que não fosse Ele quem era, não poderia de modo algum “naturalmente saber”, a menos que averiguasse. Assim, soube sem saber. Por isto também foi traído mesmo sabendo, pois só sabia porque não tinha como não saber; embora, como homem, Ele “naturalmente” não tivesse como saber.

No entanto, não fosse Quem Ele era, não haveria para Ele meios de saber. Desse modo Ele foi de fato traído.

Todavia, se Ele para além de um Judas meio distante, tivesse em Pedro, Tiago, João, André e Felipe, e também em Maria Madalena — todos igualmente Judas, seria para pensar que Jesus realmente precisava ser “entregue”.

O Pedro, o Tiago, o João e o André, de Lula, o Presidente do Brasil, são, aparentemente, “uns judas”.

A pergunta de todos agora é a mesma: o Presidente Lula sabia que havia tantos judas por lá?

Eu creio (é minha simples opinião distante) que ele sabia; mas não sabia. Sabia porque não é possível não saber pelo menos acerca da energia que “as ações obscuras” exalam nas proximidades. Além disso, ele não nasceu ontem, e, portanto, sabia como as coisas sempre funcionaram na Política Brasileira, cumprindo-lhe, portanto, ficar mais que atento para que tal não acontecesse em seu governo.

O Brasil não é o PT, e o Presidente tinha que saber disto de fato e de verdade.

E mais que isto: ele sabe como funcionam os processos dentro de todos os partidos políticos do Brasil, incluindo o seu partido, ainda que nele, na maioria das vezes, as praticas fossem muito mais limpas do que nos demais. Entretanto, ninguém disputa três candidaturas presidenciais sem perder a inocência. É impossível. Em qualquer lugar da Terra.

Entretanto, mesmo que ele “soubesse”, duvido que a ele fosse dito que se pagava um mensalão a boa parte do Congresso Nacional. Não é assim que se faz com nenhum Presidente, mesmo com os mais corruptos, o que não foi, não é e jamais dera o caso dele. No caso do Presidente Lula parece que ele não queria saber nem mesmo das coisas que um dia soube. É uma defesa da alma.

Todo presidente quer ser preservado. Por isto, eles apenas dizem o que precisam, o que ajudaria, o que se faz necessário.... Mas não dão idéia de como fazer. Isto quando eles sabem que o “modo” não é recomendável como sugestão oficial. Afinal, em seu auto-engano, todo presidente julga que se “não sabe oficialmente”, de fato não sabe. E aqui não falo de Lula apenas, mas do fenômeno presidencial de um modo geral.

Assim é a Psicologia dos Presidentes. O que é bom, eles fazem. O que é ruim, eles apenas confessam como necessidade, mas deixam que seu desejo tome o caminho que tomar, hierarquia abaixo, desde que de “modo seguro” cumpra os objetivos.

Enquanto isto eles, os presidentes, sabem-sem-saber.

No entanto, uma declaração que pode ser apenas um “... a gente não pode ficar de jeito nenhum sem apoio no Congresso para aprovar os nossos projetos ...”, chega aos ouvidos “caninos e gananciosos de poder” de certos “discípulos”, como se fosse “licença” para fazer o que for preciso. Nesse caso, um presidente se sente traído pelo que não sabia, embora soubesse; ou, pelo menos “desconfiasse com certeza”, embora diga a si mesmo que jamais havia desconfiado.

Eu já andei demais em círculos de poder para esquecer que é assim. Aliás, alguns dos muitos homens poderosos que conheço e conheci, se afastaram de mim quando ficaram sabendo que eu sabia que eles faziam certas coisas que, supostamente, eles não deveriam nem mesmo saber que acontecia.

Quando o sujeito chega ao poder com vontade de fazer diferença para o bem, mas não se sente capaz de governar sem certas ajudas ou em razão de certos compromissos historicamente assumidos, acaba por transferir muito poder para os pedros, os tiagos, os joões, e os andrés.

A meu ver, a presente situação do Presidente Lula, requereria dele algumas ações mínimas, para que ele, que sem duvida alguma sonhou em ser o melhor Presidente que o Brasil pudesse ter, não saia do Palácio do Planalto pela porta dos fundos.

Primeiro ele teria que admitir que depois de ter tido “mais judas” do que qualquer um poderia admissivelmente ter ao seu redor, o sonho de transformar o Brasil pela via de sua ação presidencial justa e competente, utilizando-se de meios diferentes para governar, acabou. Sim, ele tem que saber que acabou! Ele continua popular porque o povo sabe que existe algo genuíno (de verdade) nele. Mas o povo também sabe que ele ficou vendido na parada.

Em seguida, ele teria que tomar as decisões sábias que tomam todos aqueles que vêem que um ideal de sonho acabou: fazem o melhor do que lhes restou.

Desse modo, o que ele teria que fazer seria algo mais ou menos parecido com o que Jesus disse que o Administrador Infiel fez (Lucas 16). Isto porque o tal administrador, vendo que não havia mais saída, investiu tudo na generosidade e na tentativa de, do péssimo, fazer algo razoável.

E que coisas razoáveis seriam essas?

Primeiro ele deveria claramente ajudar as CPIs a prosseguirem. E fazer isto honestamente declarando sua tristeza com o fato disto estar acontecendo em seu governo; porém, ao mesmo tempo, dizendo que entende que por mais isento que esteja dos atos de corrupção, ele sabe que a “cota dos judas” dele foi exagerada.

Portanto, ele teria que dizer que uma vez que as coisas ficaram assim, então, que ele entenderia que sua missão seria esta: criar leis de regulamentação dos processos de arrecadação dos partidos; e, assim, chamar para si o projeto de fazer todas as modificações legais para que tais coisas sejam impedidas no futuro; ou, pelo menos, significativamente diminuídas.

Ou seja: ele teria que assumir que a missão dele é limpar isto tudo; e, além disso, criar e fazer todas as Reformas Políticas que precisam ser feitas, as quais todos sabem ser necessárias, mas que para muitos não tem sido interessante fazê-las acontecer, porque os corruptos não querem que tudo seja feito ao ar livre.

Isto porque as muitas proibições tornam o produto de toda corrupção algo muito mais caro e lucrativo. Já as Leis de Luz, essas tornam todas as coisas desinflacionadas.

Além disso, ele teria que declarar que não é candidato a Presidência da Republica nas próximas eleições, e, assim, pedir uma trégua aos partidos; e, por essa via, promover a governabilidade do país, pedindo ao Congresso boa vontade na aprovação das leis boas e necessárias; pois, deixando de ser candidato — e não sendo mesmo —, ele ganharia o direito de pedir ajuda a todos. E, assim, o país veria também se o Congresso está ou não interessado no bem nacional.

Somente um Lula não-candidato pode governar o Brasil agora, e além disso fazer ainda reformas profundas e profundas reformas.

Mas para assim fazer, ele teria que agir muito mais rápido, e promover urgentemente a criação de Ministérios ocupados pela competência e pela capacidade técnica. Ou seja: somente um Lula não Petista conseguiria governar o Brasil depois dos últimos fatos, mesmo que tudo ainda esteja sendo apurado.

No entanto, para que isto acontecesse, ele teria que perder todas as suas próprias ambições políticas, e, sem buscar salvar-se politicamente, constranger o Congresso e a população a agir de modo plebiscitário, chamando o povo para governar com ele.

Ou seja: ele teria que ter a coragem dos heróis moribundos, e que são capazes de atos suicidamente salvadores.

Lula teria que ter alma de João Batista, para olhar para o Brasil, e como verdadeiro Presidente, dizer: “Convém que o Brasil cresça, e que eu diminua!” Sim, ele teria que partir para de fato governar apenas pensando no Brasil e nem um pouco em seu futuro político, muito menos ainda no futuro político do PT.

Eu creio que ações simples como essas têm grande poder. Afinal, a meu ver, elas carregam o espírito do Evangelho quando se trata de apanhar o péssimo, e tentar fazer dele algo razoável. E isto somente um Lula amante apenas do Brasil poderia fazer.

Ora, se assim fizesse, não apenas realizaria um dos maiores serviços já prestados à nação, como também, quem sabe, ou melhor, com toda certeza, ele seria recebido por “muitos braços de misericórdia”, conforme Jesus disse que aconteceu com o Administrador Infiel.

Isto muito possivelmente faria dele um Presidente muito maior do que ele sonhou ser nos seus melhores ideais. Mas fazer isto demandaria coragem, e espírito de total disposição de cumprir sua promessa de governar para o Hoje, e para o Hoje apenas.

Ou seja: seria o Lula apenas Lula, aquele que ainda poderia governar o Brasil de modo efetivo até o fim deste mandato; visto que o Lula do PT perdeu a chance de fazê-lo com paz para governar.

Isto seria governar o Brasil com dignidade até o fim. O mais, ele deveria deixar nas mãos de Deus. Mas seria ele capaz de tal coragem? Sim, haveria em seu coração essa vontade de amor pelo Brasil que só se encontra nas almas maiores que as posições conquistadas?

O que o Presidente Lula tem que decidir é se de fato ele ama o Brasil mais do que ao PT e mais do que a si mesmo. Pois se assim for, eu sei, ele ainda entrará para a História de tudo o que foi bom em nossa terra. Mas se andar pelo “caminho da esperteza política dos homens”, não sei o que lhe aguarda. Aliás, eu até imagino um pouco, e sei que será horrível, e que não o colocará no lugar de honra que ele sonhou ter na História do Brasil, e que, a meu ver, com toda certeza merece.

Com todo respeito por quem pensa diferente,

 

Caio

 

Escrito logo depois do início da crise.