
ORAÇÃO DE MINHAS DORES
Meu Pai, tu és o único que me conheces!
Tu sabes minha alma, minha dor e minhas perdas todas.
Tu sabes tudo o que perdi tentando ganhar. Tu sabes como perdi quase tudo o que desejei ter.
Tu sabes que vivo como quem aguarda a eternidade, para então ter o que na Terra não me foi dado.
Enquanto a eternidade não chega, tu sabes que nela me consolo.
Consolo, como-em-solo, solo-sem-consolo, sem-chão...sempre em pé, de prontidão, aguardando a hora da partida.
Meus caminhos tu os conheces todos. Os de fora e os de dentro. E só tu sabes como eu gostaria que as pessoas adivinhassem meus pensamentos e sentimentos.
Ah! Eu gostaria que minha alma fosse um flagrante, assim todos a veriam e a compreenderiam...e eu passaria sem a dor do silencio.
Nem falar eu posso...resta-me sentir esse peso que não cessa, e que como pendulo me joga de um lado para o outro dentre das paredes de meu apertado coração.
Meu Pai, este dia tu fizeste...o fizeste para que eu assim conheça as verdades do meu coração.
O que me resta é continuar andando, andando, sempre andando, até que chegue à entrada de tuas Portas...onde em fim terei descanso.
Dá-me forças para andar...até que lá eu chegue.
Cansado estou, tu sabes. Cansado de distancias, ausências, e desencontros; cansado do cansaço, e das fatigas, e sobretudo, cansado das prisões deste mundo de tantos cárceres invisíveis, porém de grandes e fortes cadeias.
Minha alma recusa consolar-se...e nem sabe qual seria o seu consolo...senão um só. Tu o sabes!
Estou aqui...entre a consciência e a vontade; entre o desejo e o dever; entre o coração e a história; preso neste lugar livre; cativo de prisões que os olhos de ninguém conseguem perceber.
Sinto saudades de morte...morte de saudades.
O passado passou...mas seus ecos não morrem...nunca...e nem eu os deixo morrer...pois me consolo com as vozes que já não me falam aos ouvidos...
Em minha mocidade jamais pensei que a dor doesse tanto...feliz ignorância!
Disseste-me que fosse a Moriá...e aqui estou...mas não ouço a voz do anjo mandando que eu poupe o sacrifício.
Então, contra todos os meus instintos, baixo o cutelo e imolo no teu altar todos os meus carinhos e sonhos.
Ei-los...são teus...e diante de ti estão...
Resta-me crer na ressurreição dos mortos...
Eu creio na ressurreição...
Faze-me conforme a tua misericórdia, e dá-me ainda na terra conhecer o teu favor, e a carícia que minha alma deseja sorver...diante de ti.
Tu participas de tudo...pois tudo é em ti...só por isto não morro na solidão.
Ah, dor bendita, até quando habitarás a minha alma?
Deixa-me, mas não me abandones, pois estranhamente me consolo no sofrer.
Tu tens me ensinado o caminho das lágrimas, e minha alma viu aparecer nela os vaus das correntes dos choros, singrando o deserto de meu Neguebe, criando rios impróprios...porém verdadeiros.
Restaura a minha sorte e a sorte daqueles que tiveram a mesma sorte que eu: o caminho das lágrimas.
Em ti espero, e de tua mão aguardo o milagre...mesmo que eu não veja como, pois “como” não é o que sei; graças te dou por não saber apenas porque já vi que sempre tens teu próprio como e teu próprio para quê.
Senhor, tu o sabes!
Em ti está toda a minha confiança, e na tua luz verei a luz.
Caio