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Devocionais

O LUGAR DOS NÃO-LUGARES: a esquina de onde Jesus via tudo

O LUGAR DOS NÃO-LUGARES: a esquina de onde Jesus via tudo



Jesus ensinou a viver intensamente no tempo, porém com os olhos naquilo que permanece. Se alguém olha para o modo de ser de Jesus, simplesmente se embasbaca diante do paradoxo ambulante que era o mover de Seu existir visível entre nós. Ele é um ser da eternidade, fala de Si mesmo como pré-existente. Ele diz que Abraão “viu os Seus dias regozijou-se”, ainda que tendo vivido quase dois anos antes de Jesus. Isto tudo ao mesmo tempo em que vai às festas e não finge se alegrar; come de tudo e gosta de tudo; bebe com amigos e aprecia as amizades; alegra-se com crianças tanto quanto com “cascas grossas” arrependidos; freqüenta casamentos e num deles não deixa a festa acabar, fazendo provisão de vinho; vai a um funeral e chora, ainda que vá ressuscitar o morto; assim como pára o enterro do filho de uma viúva, movido de compaixão, e levanta o rapaz dentre os mortos. Sim, Ele fala do Pai, das muitas moradas, dos anjos que nos assistem e que vêem a face do Pai com os rostos dos pequeninos da Terra sendo incessantemente representadas na eternidade. Sua alegria é que os Seus vejam a relação de amor eterno, sem véus, que existe entre Ele e o Pai. Além disso, mesmo enquanto anda, cura, acarinha, esperança almas, come com quem ninguém comia e anda com quem ninguém andava —, e, ao mesmo tempo, Ele não tira o espírito do que é eterno das pequeninas coisas da vida. Antes de banquetes e coisas do cotidiano, Ele levanta cedo e ora; investe tempo em solidão; busca forças que vêm do alto; e acolhe as visões da eternidade ou de seu arquétipo trans-histórico-simbólico, a Transfiguração, com a alegria de quem diz: “Não foi por mim que assim foi, mas por vossa causa”; referindo-se aos discípulos. Sim, Ele ama a eternidade e anseia pela casa do Pai, porém, mesmo assim, vive o paradoxo de, ante a morte iminente, perguntar: “Por que estou angustiado? Afinal, nasci para esta hora!?” Em Jesus, ainda que havendo muitas outras manifestações desse existir entre o tempo e a eternidade, vê-se nas poucas citações que fiz que Ele realmente “curtia” todas as dimensões, e, mesmo sabendo que viera do Pai e voltava para o Pai, ainda assim pediu ajuda humana a fim de passar com mais amparo pela hora do abandono. Mas ninguém ficou com Ele. O que vemos em Jesus é um olhar eterno atravessando o tempo sem ridiculariza-lo. Ao contrário, Ele pode até gemer ante a estupidez dos humanos no tempo, mas não deixa de gargalhar e de se alegrar durante cada encontro que suscite sentimentos felizes, assim como não deixa de chorar quando dói. Ele fala do que existia antes que houvesse mundo, ao mesmo tempo em que se alegra no mundo, e não deseja que a vida dos discípulos seja uma evasão da realidade existente. Ele manda buscar o que é eterno enquanto manda olhar lírios, passarinhos, e as mudanças de tempo conforme as estações. Sim, Ele fala da eternidade, mas manda que se viva cada dia chamado Hoje. Ele vê Satanás caindo do céu ante a pregação do reino, porém não gasta tempo celebrando este fato; ao contrário, diz que não vale ter alegrias vitoriosas no mundo espiritual como se elas fossem o que importasse, pois, para Ele, o que vale não é vencer o diabo, mas ter o nome escrito no Livro da Vida. A eternidade resplandece de Seus olhos, mas é nos olhos baços de pequeninos, fracos, famintos, sedentos, marginais, estrangeiros, sem teto, sem abrigo, aprisionados injustamente, e doentes existindo entre angustias e gemidos — que Ele diz que quer ser visto e discernido na Terra. Jesus viveu existencialmente nesse lugar-dos-não-lugares na Terra: entre a eternidade e o chão do mundo! É desse lugar-existencial que Ele nos chama a ver e a celebrar a vida: entre o tempo e a eternidade; pois, é somente dessa visão que inclui ambas as coisas que alguém anda livre para viver e sem medo de morrer. É desse olhar de Jesus e também por ele, que se pode experimentar a vida que é, a qual Ele chamou de abundante, e que acontece apenas quando o olhar vê desse ‘lugar’, onde tempo e eternidade fazem a sua síntese: no olhar que aprendeu com Jesus o significado do todo da existência. Nele, Caio
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