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GUERRA ENTRE GLOBO E RECORD: TENDÊNCIAS/DEBATES

GUERRA ENTRE GLOBO E RECORD: TENDÊNCIAS/DEBATES

 

GUERRA ENTRE GLOBO E RECORD: TENDÊNCIAS/DEBATES

Não dá para torcer por esse time...

As pessoas se dividem entre os que acham bom qualquer ataque à Globo e os que dizem: "ninguém tem razão". Neste caso, não se justifica

Por Antonio Athayde*


A MÍDIA tem dado enorme destaque à guerra de audiência travada entre Globo e Record.

O Ibope das emissoras interessa ao público em geral, aos anunciantes e às agências de propaganda.

Quando a liderança da Globo parece ameaçada, a torcida para que um concorrente chegue mais perto da líder se agita.

Foi assim quando a Manchete lançou a novela "Pantanal" e quando o SBT exibiu um genérico do "Big Brother", a "Casa dos Artistas".

Tais programas de grande sucesso de público, porém, não se traduziram numa grade de programação que pudesse manter o telespectador ligado no canal, condição essencial para a sustentabilidade de um modelo de produção de uma rede de TV.

Na Globo, no entanto, tais fatos produziram uma reação de seus profissionais para enfrentar o desafio, confirmando a regra de que a concorrência faz bem.

Hoje a Record passou o SBT, mas há uma diferença fundamental: a Globo e seus concorrentes -Band, Rede TV!, SBT e emissoras independentes- vivem do mercado publicitário.

A Record, por sua vez, tem como fonte quase inesgotável de recursos o aluguel da programação da madrugada para a Igreja Universal.

Os valores pagos não se justificam por critérios técnicos de compra de mídia.

Não há relação custo/benefício que recomende tal investimento.

Muitos entendem as matérias que a Globo exibe em seus telejornais como movidas pelo medo da concorrência, e é isso que os bispos da Record querem fazer crer.

Trabalhei na Globo por 20 anos (também trabalhei na Band e no SBT, quero uma concorrência mais ativa e lutei por isso) e conheço seus profissionais.

Eles não têm medo da concorrência. Os números da Globo são públicos e são mais do que suficientes para enfrentar a guerra pela audiência.

O que os jornais mostram sobre os métodos de arrecadação da igreja demonstra a exploração da boa-fé da população, crime que está a exigir a ação do Ministério Público e da Justiça.

Um império empresarial foi construído, no Brasil e no exterior, como investigado e publicado pela jornalista Elvira Lobato, da Folha, com base nos milhões de reais arrancados de pessoas humildes levadas a crer em recompensas de uma vida melhor.

É triste que a democracia não encontre meios eficazes para impedir que essa prática continue.

 
É lamentável que jornalistas da Record se disponham ao papel de realizar programas de televisão, como se investigativos fossem, despejando mentiras, meias verdades e acusações antigas sobre seus telespectadores, jogando no lixo o que os meios de comunicação têm de mais precioso: a credibilidade.

Leiam o livro "Plano de Poder", do bispo Edir Macedo. Subtítulo: "Deus, os cristãos e a política".

É um livro político e reflete um projeto político.

Alguns capítulos: "A visão estadista de Deus"; "As consequências da falta de representatividade política"; "O encontro com Deus e a missão".

Dois parágrafos: "O projeto de nação pretendido por Deus depende do que estamos enfatizando em nossa argumentação: que os cristãos precisam despertar para a realidade do projeto, envolver-se e mobilizar-se para realização desse sonho divinal".

"Quando se trata dos votos dos evangélicos, estamos diante de dois interesses: o interesse dos próprios cristãos em ter representantes genuínos e o interesse de Deus de que seu projeto de nação se conclua."

Quem se considera o intérprete do projeto de nação, desse sonho divinal que teria o Criador?

O livro tenta colocar sob um mesmo manto os pastores evangélicos, equiparando os que, por sua crença absolutamente respeitável, levam conforto espiritual aos fiéis, àqueles que objetivam o poder, a ser conquistado por meio de um conglomerado de empresas de comunicação lastreado em doações com outra finalidade.

Misturar religião, televisão e política tem potencial explosivo.

Os exemplos estão todos aí.

Voltando à TV: é necessário que anunciantes e agências apoiem as iniciativas dos concorrentes da Globo.

O SBT começa a reagir, a Band tem grandes oportunidades, inclusive com seus canais pagos, e a RedeTV! está equipada com o que há de mais moderno em tecnologia para dar um salto de audiência e faturamento.

Público e crítica se dividem entre os que acham bom qualquer ataque à Globo ("monopólio" etc.) e os que preferem dizer "isso é uma guerrinha em que ninguém tem razão".

Neste caso, não se justifica.

De um dos lados está um grupo econômico que tem nas costas um histórico de acusações de crimes graves e de práticas nefastas de obtenção de recursos.

Então, não dá para torcer para esse time nem dar uma de indiferente. 

 

*ANTONIO ATHAYDE

, 64, engenheiro, é consultor da ANJ (Associação Nacional de Jornais). Foi executivo sênior da Rede Globo, Gobosat/NET Brasil, Globopar, Rede Bandeirantes e SBT. Trabalhou como consultor da Telefónica para projetos de TV na América Latina e para o Grupo Abril.

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