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A Mente de Paulo

DE PAULO PARA PEDRO

DE PAULO PARA PEDRO



 

 

Ninguém está livre de sucumbir, ainda que de vez em quando, à Teologia Moral dos Amigos de Jó.
Nem mesmo Pedro esteve imune a esse mal...
Essa “doença teológica” é poderosa, dissimulada, auto-glorificante, conveniente à imagem da piedade medíocre, especializa-se em “médias”, e vive de barganhas com o próximo, num mundo onde quem eu sou vale menos do que aquilo que os outros esperam de mim.
Foi numa dessas situações que Paulo teve que enfrentar a Pedro e salvá-lo desse engano. E isto tem como introdução a afirmação de Paulo quanto a ter vivido a sua própria consciência na presença de Deus, sem se submeter a nada que não fosse a pura e simples Graça de Deus em Cristo, que a ele veio não como pacote “teologicamente sistematizado”, mas por pura e simples “revelação”:
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“Catorze anos depois, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também a Tito. Subi em obediência a uma revelação; e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que pareciam de maior influência, para, de algum modo, não correr ou ter corrido em vão. Contudo, nem mesmo Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se. E isto por causa dos falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir-nos à escravidão; aos quais nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.
E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido, outrora, não me interessa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me acrescentaram; antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me fora confiado, como a Pedro o da circuncisão (pois aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão também operou eficazmente em mim para com os gentios) e, quando conheceram a Graça que me foi dada, Tiago, Pedro e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão; recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer.
Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível.
Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles.”
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Desse ponto em diante o que se lê é a “pregação” de Paulo a Pedro e aos demais que haviam caído por um momento de sua consciência da Graça e haviam negociado sua liberdade em Cristo com aqueles para os quais a Graça ainda era um “escândalo”: alguns cristãos legalistas e cerimonialistas de Jerusalém.
E, assim, Paulo prossegue:
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Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Pedro, na presença de todos: Se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?
Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios, sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.
Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados pecadores, dar-se-á o caso de ser Cristo ministro do pecado?
Certo que não!
Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, a mim mesmo me constituo transgressor.
Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus.
Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.
Não anulo a Graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão.
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Mesmo entendendo o que Paulo nos disse até aqui, o temor da maioria dos cristãos é que a Graça os entregue a si mesmos.
Ora, isto é apavorante para grande parte dos cristãos que eu conheço. E entre esses muitos há muita gente sincera, porém, existindo num limbo onde nem se entregam aos rigores da Lei e nem se rendem alegremente àquilo que Jesus conquistou para nós na Cruz!
E, assim, a vida acontece entre algumas poucas certezas — e que sempre dependem de nosso senso falso de justiça própria--e muita angustia e medo.
Não foi para isto que Jesus nos libertou!

Caio

Copacabana

2003

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